Imagem promocional de Liga da Justiça/Warner Bros.

Créditos da imagem: Warner Bros./Divulgação

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Snyder Cut é um retrocesso para Warner e desrespeito com o DCEU

Ignorando bons trabalhos de outros diretores do universo cinematográfico da DC, estúdio aposta fichas nos barulhentos fãs de Zack Snyder

Omelete
4 min de leitura
Nico
25.05.2020, às 18H52.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H48

Não há por que ser delicado: o mundo simplesmente não precisa do Snyder Cut. Embora a versão de Liga da Justiça que foi aos cinemas esteja muito abaixo do que os heróis da DC merecem, é difícil imaginar que o corte de Zack Snyder seja muito melhor. Afinal, poucos meses após o lançamento do filme, foi noticiado que a própria Warner julgou o longa apresentado pelo cineasta “inassistível” e já planejava substituí-lo antes mesmo de seu afastamento por motivos pessoais.

A falta de confiança do estúdio no trabalho do diretor retorna mesmo com a confirmação do lançamento do Snyder Cut, que chegará em 2021 na HBO Max. Além da incerteza se a história será apresentada como filme ou série, a plataforma de streaming barrou filmagens adicionais pedidas por Snyder. Embora tenha proporcionado um adicional de até US$ 30 milhões para finalização de efeitos especiais e gravação de diálogos, a Warner trata a nova versão de Liga da Justiça apenas como um atrativo para novos assinantes, assim como o especial de Friends.

O estúdio capitalizou a barulhenta base de fãs de Snyder que, apesar de inundar sessões de comentários dizendo que “Henry Cavill é o verdadeiro Superman” ou que a paleta cinzenta do diretor representa “histórias adultas”, parece nunca ter aberto um quadrinho da DC. Grandes Astros Superman, Alienígena Americano e O Homem de Aço trazem algumas das histórias mais maduras da história do personagem, sem nunca abdicar de sua personalidade alegre ou das cores da mídia. Snyder e seus fãs parecem ignorar nomes como Jack Kirby, George Perez, John Byrne, Dave Gibbons e Brian Bolland, que entregaram algumas das histórias mais adultas e, ao mesmo tempo, coloridas da DC, entre elas Watchmen, Contrato de Judas e Piada Mortal. Em toda trilogia de Snyder, aliás, o único momento em que o kryptoniano de Cavill se aproxima das HQs é assinada por Joss Whedon, que comandou a cena em que o azulão diz “eu realmente gosto de estar vivo”.

Essa idolatria cega por Snyder também impede esses fãs de verem algo extremamente óbvio: sua saída foi benéfica para o DCEU. Enquanto o diretor era visto como “arquiteto” do universo compartilhado, a Warner entregou o mediano O Homem de Aço, o intragável Batman v Superman e alterou o terceiro ato de Mulher-Maravilha, de Patty Jenkins, para se encaixar no tom de Snyder. Isso sem contar as várias picotadas em Esquadrão Suicida, alterado para fugir da atmosfera típica do cineasta. Após o afastamento do diretor, o estúdio entregou divertidos longas em Aquaman, Shazam! e Aves de Rapina, melhor filme do DCEU até agora, embora as campanhas de boicote na internet tentem dizer o contrário. Até mesmo o trailer de Mulher-Maravilha 1984 tem mais identidade do que todo o universo cinematográfico na época em que Snyder reinava.

Longe do diretor, a DC também tem produzido algumas de suas melhores séries e filmes em anos. No DC Universe, plataforma de streaming com produções originais da editora, Titãs tem equilibrado violência e cor de um jeito que Snyder nunca conseguiu na carreira, enquanto Patrulha do Destino tem provado que é possível criar uma série live-action para maiores sem apelar para violência ou sexualização de personagens. O recém-encerrado universo animado da editora também conquistou por sua fidelidade às HQs e tom único de cada filme.

Além disso, ficou claro nas últimas semanas que a editora não gosta muito do trabalho feito por Snyder com seus maiores heróis. Embora Jim Lee, chefe criativo da editora, tenha parabenizado o cineasta pela chegada do Snyder Cut, o Twitter do selo zombou do infame momento “Martha!” no Dia das Mães, enquanto Patrulha do Destino e Arlequina tiraram sarro do destaque dado a um filme que nunca foi visto.

Além de apoiar vozes que não conseguem superar o fracasso de um simples filme, lançar o Snyder Cut abre um perigoso precedente para a Warner. Com a chegada do novo Liga da Justiça na HBO Max, o estúdio se abre para a reclamação de outros diretores que alegam que suas visões para determinados trabalhos eram diferentes, e exijam seu próprio “Snyder Cut”. David Ayer, de Esquadrão Suicida, vem, desde o anúncio de Snyder, praticamente implorando para que seu filme seja revisitado, a ponto de um seguidor dizer “por favor, pare”.

Embora o Snyder Cut seja a realização de um sonho para fãs de Zack Snyder, seu significado é um desrespeito para profissionais como Patty Jenkins, David F. Sandberg, Cathy Yan e James Wan, que dificilmente receberiam o mesmo tratamento do estúdio, mesmo com filmes objetivamente melhores. Lançar uma versão previamente chamada de “inassistível” pelo próprio estúdio prova que a Warner vê a rica biblioteca da DC seus cineastas apenas como cifras e está aberta a se dobrar a qualquer balbúrdia que apareça aos assuntos mais comentados do Twitter.

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