[Cuidado com spoilers abaixo]
Quando Mulher-Maravilha 1984 ganhou um novo trailer durante a CCXP19, os fãs não poderiam pedir outra coisa: um filme colorido, com uma grande trilha sonora e cenas de ação incríveis. A prévia indicava que Gal Gadot e Patty Jenkins tinham conseguido novamente, após o sucesso da primeira produção da heroína em 2017. Com a pandemia do coronavírus, o longa foi adiado diversas vezes e chegou aos cinemas (e streaming nos EUA) no final de 2020. Porém, enquanto a crítica especializada elogiou a produção, muitos fãs ficaram com um gosto amargo na boca.
Ainda que as reações de puro ódio contra o filme não sejam justificadas, ele deixou a desejar para muitos fãs que, talvez, tivessem uma grande expectativa em relação à produção. Um dos pontos sobre os quais os trailers fizeram um grande alarde foi a volta de Steve Trevor (Chris Pine), claramente um dos maiores problemas da narrativa. O retorno do personagem é explicado pela Pedra dos Sonhos (já vamos chegar nela) e ele habita outro corpo - ainda que Diana o veja com o visual antigo.
Colocar a volta de Trevor dessa forma já exigiu uma boa suspensão de descrença dos fãs, mas foram as atitudes de Diana em relação a isso que pioraram tudo. Enquanto o próprio Trevor falava constantemente que aquilo era uma aventura passageira e ele precisaria ir embora, nossa heroína entrou em um estado de negação, deixando o mundo praticamente cair ao seu redor por conta da vontade de estar ao lado de Trevor. Claro, é compreensível que a atitude de deixá-lo ir embora pudesse ser difícil, mas a Diana de 1984 é uma personagem com muito mais vivência do que a do primeiro filme, que já se despediu de amigos queridos e entendeu que sua jornada neste mundo é, de fato, solitária. Se quisesse mostrar uma Diana mais imatura, a produção deveria ser situada em um período anterior, para justificar melhor essas atitudes.
Se a heroína principal tem problemas, o mesmo acontece com a antagonista Barbara Minerva. Não que Kristen Wiig não esteja maravilhosa no papel. O problema é justamente a falta de mais cenas dela ao lado de Diana. O filme acerta bastante ao apresentar a personalidade de Minerva em poucas cenas logo no começo, mas erra ao colocar que ela sente uma grande inveja da vida de Diana após almoçar com ela… uma vez. As demais cenas entre as duas são rápidas, o que torna a oposição da vilã estranha. Barbara supõe que Diana tem a vida perfeita e a coloca como um ideal sem nem mesmo conhecê-la direito.
A falta de mais cenas da Mulher-Leopardo é ocasionada pelo roteiro confuso, outro grande problema, que tem pressa em contar coisas demais em pouco tempo, enquanto deixa outras pelo caminho. Por exemplo: o que acontece quando o vilão Maxwell Lord (Pedro Pascal) abre mão do desejo de ser a Pedra dos Sonhos? A pedra volta a existir? Ela some? Vai para algum lugar em especial? Diana a pega para guardar em segurança e evitar outra catástrofe? Jamais saberemos.
Talvez essas questões pareçam preciosistas demais, mas é fato que o longa gerou sim uma grande ansiedade nos fãs, tanto pelo sucesso da primeira produção, quanto pela Mulher-Maravilha em si, talvez a única personagem da Trindade da DC nos cinemas que continua na ativa (enquanto o destino de Henry Cavill ainda é incerto). Entregar uma aventura leve não é o mesmo que entregar um filme fraco e sem um cuidado narrativo. Nem mesmo a trilha sonora, que tinha tudo para entregar vários sucessos da década de 1980, foi marcante.
Com um terceiro filme confirmado, fica agora a expectativa de que a DC/Warner, Patty Jenkins e Gal Gadot entreguem uma história à altura da nossa amazona preferida, algo que faça nossos olhos brilharem novamente como aconteceu em 2017, na cena da Terra de Ninguém.
Mulher-Maravilha 1984 segue em cartaz nos cinemas.