O título desta artigo seria "lemos para você não ter que ler", mas a DC Comics já está levando bordoadas demais da crítica pela estratégia - curiosa, no mínimo - de cancelar todas suas séries, relançar toda sua linha com 52 revistas no mesmo mês e fazer um reboot seletivo de sua cronologia. O negócio é ler as revistas, curtir as boas, esquecer as ruins e torcer para que o mercado de quadrinhos continue a existir.
Tudo começou na semana passada com Justice League #1 - que já lemos e comentamos - e continua ao longo de setembro com mais 51 lançamentos. Vamos ler todos. Conheça abaixo os 13 títulos que foram lançado na segunda semana:
Fogo
Animal Man
men of War
Swamp Thing
Stormwatch
Detective Comics
Batwing
Green Arrow
Static Shock
Action Comics
Justice League International
Batgirl
Hwk and Dove
OMAC
Action Comics #1
Um dos filés do reboot, com a história do Superman recontada do zero por Grant Morrison (Grandes Astros: Superman) e Rags Morales (Crise de Identidade). Dizer que é muito bacana é chover no molhado. O grande ponto positivo da edição, comparada a Justice League #1, é o fato de ter uma história com início, meio e fim legítimos - uma leitura que não parece de cinco minutos (e que dura bem mais se você for atrás das referências à Action Comics clássica que Morrison está salpicando). Destaque para os desenhos de Morales, que parecem atualizar as caricaturas de Joe Shuster.
Vale a pena acompanhar? Sem dúvida.
Animal Man #1
Falando em Morrison, é bom dizer que o Homem-Animal nunca fez sucesso desde que foi escrito pelo escocês há 20 anos. Mas repetir a fórmula do herói-com-família-metido-com-metalinguagem também não dá. Jeff Lemire (Sweet Tooth) mantém a família mas insere outros elementos malucos: Buddy Baker virou ator de cinema indie (!), veste o colante de vez em quando, sangue escorre de seus olhos quando ele usa os poderes (além de lhe darem uns sonhos estranhos) e sua filha escolheu bichinhos de estimação macabros. Os desenhos de Travel Foreman deixam tudo ainda mais bizarro. Enfim, ainda parece um gibi da Vertigo. Fica a curiosidade para saber o que vai sair desta mistura.
Vale a pena acompanhar? Vale.
Batgirl #1
Barbara Gordon agora está caminhando - não por reboot, pois ela lembra de levar um tiro do Coringa e passar "três anos" (pra nós foram mais) numa cadeira de rodas. A primeira coisa que ela faz quando recupera suas forças é voltar ao uniforme clássico de Batmoça e enfrentar vilões bem sanguinários em Gotham. Gail Simone e Ardian Syaf fazem uma típica edição de apresentação de personagem, estabelecendo casa, rotina, coadjuvantes e ameaças típicas da heroína. Mas é tudo tão "médio" que só dá vontade de continuar lendo a série se você estiver a fim de um gibi "médio".
Vale a pena acompanhar? Não.
Batwing #1
O herói faz parte da rede de "Batmen" lançados e apoiados no mundo todo pelo morcegão maiorial. Batwing é um policial do Congo que tem vida dupla como "Bat-africano". A edição segue a linha de Batgirl: apresentação, coadjuvantes, vilões etc. A única diferença é o gancho narrativo que Judd Winick e Ben Oliver deixam na última página, pondo em dúvida o que esperar da continuidade da série.
Vale a pena acompanhar? Por enquanto só para ver como se resolve a conclusão da primeira edição.
Detective Comics #1
Tony Daniel cresceu muito como desenhista nos últimos anos, passando dos grandes visuais da Image Comics clássica para uma narrativa bem estuturada e as páginas criativas. Como roteirista, porém, ainda é bem mediano. A primeira Bat-série relançada respeita o título como uma história focada nas capacidades detetivescas do morcegão, em uma clássica aventura contra o Coringa (que, vamos elogiar, tem início, meio e fim). A última e macabra página está provocando discussões Internet afora, e garante leitores pelas próximas edições.
Vale a pena acompanhar? Por enquanto, sim.
Green Arrow #1
Outro rebootado, Oliver Queen agora é um jovem empresário e inventor que faz multitasking entre criação multimilionárias - a Q-Core, a grande empresa de tecnologia responsável pelo Q-Phone e o Q-Pad - e o combate internacional ao crime - com as flechas que nunca são meras flechas. Sabe quando querem lhe mostrar mostrar um roteiro de filme carregado de clichês na trama, nas caracterizações e nos diálogos ("Sim, eu tenho vários brinquedinhos... Mas não vim aqui para brincar!")? Essa é a pira de J.T. Krul, escritor que já chega com um currículo pouco recomendável. Dan Jurgens está nos desenhos só para cumprir tabela.
Vale a pena acompanhar? Só se você conseguir registrar tudo como ironia.
Hawk and Dove #1
Sim, Rob Liefeld! Sendo o bom e velho Rob Liefeld, não tenha dúvida. O roteiro pode ser de Sterling Gates, mas a história sai dos trilhos à moda liefeldiana. Tem avião batendo contra monumento histórico dos EUA (na semana dos dez anos do 11/9), tem lambanças cronológicas (sabia que o Columba original ainda morreu em Crise nas Infinitas Terras, aquela história que devia ter sido apagada da cronologia?), anatomia criativa e expressões que não têm nada a ver com o que os personagens estão dizendo.
Vale a pena acompanhar? Não, por favor, não.
Justice League International #1
Os maiores governos da Terra são convencidos a financiar uma equipe com heróis de vários países e... bom, não vai muito além disso. O Soviete Supremo solta algumas palavras em russo, o chinês Augusto General de Ferro fica vangloriando-se de ser da maior potência mundial e, pronto, isso é caracterização para Dan Jurgens (roteiro) e Aaron Lopresti (desenhos). Ah, e parece que Gladiador Dourado é outra vítima de reboot total. Para fechar, uma cena especial para os leitores brasileiros com nome espanhol vidrados em conhaque (veja o quadrinho ao lado), com a (re)introdução da heroína local Fogo:
Vale a pena acompanhar? Não, por favor, não.
Men of War #1
Sempre foi difícil entender os quadrinhos de guerra dos EUA sem viver de perto a cultura de guerra deles. Continua assim. A nova série tenta resgatar o gênero em baixa introduzindo um neto do Sargento Rock (criação de Ivan Brandon e Tom Derenick) que se envolve em missões de alto risco com "super-apoio" - são guerras do mundo real, mas o universo ainda é o DC, se que é dá pra entender. Uma história secundária (por Jonathan Vankin e Phil Winslade) tenta ser ainda mais realista, mostrando uma equipe de soldados em conflito urbano em cidade árabe não-identificada. Melhor continuar não entendendo.
Vale a pena acompanhar? Não.
OMAC #1
A série escrita pelo chefão-DC Dan Didio - com Keith Giffen, que também desenha - diz "Jack Kirby" nos desenhos, nos personagens, nos diálogos e nos recordatórios cheios de grandiosidades. Parece até provocação com a Marvel, que está num período obrigatório de vergonha de mencionar o nome Kirby. Didio e Giffen transformam OMAC em um monstro azul que quer descobrir os segredos do Projeto Cadmus, "instituição líder na pesquisa do genoma". É Kirby, sempre. Prato cheio para quem gosta das pirações do finado quadrinista.
Vale a pena acompanhar? Vale.
STATIC SHOCK #1
O herói jovem sempre teve algo de Homem-Aranha/Peter Parker - estudante de ensino médio com superpoderes, meio CDF, que faz estágio num laboratório. A nova série reforça estas coincidências. Scott McDaniel desenha e escreve - ao lado de John Rozum -, e não faz muita questão de apresentar o personagem para quem está chegando agora. Mesmo que você já curta ele - de gibis anteriores ou do desenho animado - ou seja chegado no estilo Homem-Aranha de herói, ainda é um gibi médio e sem atrativos.
Vale a pena acompanhar? Não.
STORMWATCH #1
A DC já avisou que este pode ser o título mais importante para entender a estrutura do novo universo, a partir de um grupo secreto de heróis que observa o mundo de uma estação espacial. Há uma mistura de elementos da Stormwatch original ao próprio Universo DC (como a presença do Caçador de Marte), mas a principal referência do escritor Paul Cornell e do desenhista Miguel Sepulveda é a finada Authority (da qual pegam alguns nomes emprestados). As ameaças são nas mesma linha: na primeira edição, é a Lua que se volta contra a Terra. Mas eles vão precisar de sorte, pois Authority nunca conseguiu emplacar depois dos primeiros anos.
Vale a pena acompanhar? Talvez, por enquanto.
SWAMP THING #1
Scott Snyder, de Vampiro Americano, é o contratado para fazer o Monstro do Pântano voltar a ter alguma relevância. Ele chega com uma diferença: Monstro e Alec Holland agora estão separados. E o mundo sofre uma ameaça macabra que afeta toda sua fauna. Os desenhos de Yannick Paquette estão melhores do que nunca (com homenagens declaradas a John Totleben, que acompanhou Alan Moore nos bons tempos) e parece que vão construir uma boa série de terror. A primeira edição é misteriosa quanto ao que vem por aí, mas a expectativa é boa.
Vale a pena acompanhar? Vale.