Ontem, 30 de agosto de 2011, pode ter sido um dia histórico para a Nona Arte. Depois da assessoria de imprensa da DC Comics conseguir espaço nos principais jornais dos EUA, o relançamento de seu universo de heróis ganhou as páginas do portentoso New York Times. A matéria explica tudo o que está acontecendo para os não-iniciados, mas termina com fim ambíguo, usando aspas de Grant Morrison para dizer que a indústria dos quadrinhos "parece estar saindo dos trilhos".
Nikke Finke, considerada a jornalista mais poderosa de Hollywood, blogou sobre a nova DC, confirmando que Justice League #1 - o reinício da Liga da Justiça - estava com a tiragem esgotada. Jim Lee e Geoff Johns, autores da revista e cabeças da DC, estavam em Nova York acompanhando o lançamento especial do título à meia-noite. Lee pediu um carregamento de pizza e saiu distribuindo para os fãs - exatamente na mesma hora em que Justice League 1, copiada direto de arquivos digitais, começava a aparecer em sites de pirataria. A revista começou a ser vendida em versão de papel à meia-noite, e só ficaria disponível em versão digital oficial (e paga) às 14h de quarta-feira, 31 de agosto (horário dos EUA, 1 hora a menos que aqui).
Flashpoint
Liga da Justiça
Flashpoint 5 e Justice League 1 foram as únicas revistas publicadas pela DC esta semana. A primeira fechou a saga de verão da editora, e supostamente traria a explicação para o reboot que apagará a cronologia de vários personagens. Mas não explicou.
Entende-se que Flash fez uma bagunça na cronologia DC tentando impedir o assassinato da mãe (dona Allen é a culpada de tudo), e que a bagunça tem algo a ver com juntar "três universos" - representados por personagens da DC tradicional, da Wildstorm e da linha Vertigo. O único indicativo de que as coisas mudaram, ao final da edição, é que Batman está de uniforme novo.
Justice League #1, Página 1 [Spoilers] Justice League abre "cinco anos atrás". O neo-uniformizado Batman corre pelos telhados de Gotham City atrás de um parademônio. Helicópteros da polícia seguem os dois, atirando (este Batman não é amiguinho dos tiras). Lanterna Verde interrompe a ação. Ele e Batman nunca haviam se visto. O Parademônio foge para os esgotos e explode gritando "por Darkseid". Batman e Lanterna ficam com uma Caixa Materna, que, por acharem meio alien, acaba lembrando-os de um "cara de Metrópolis" - que nunca viram, mas já ouviram falar. Tomam um avião verde para a outra cidade fictícia e encontram Superman - mas um Superman menos calmo e contido do que conhecemos, pois dá as boas vindas ao Lanterna com um soco supersônico. Ah, e também está de uniforme novo. Fim da edição.
O tempo de leitura da edição de estreia dos 52 títulos do relançamento da DC Comics é praticamente o mesmo que você levou no parágrafo anterior. A história termina repentinamente. Se você é um dos novos consumidores que a DC espera angariar vendendo gibis no iPad, acabou de gastar US$ 3,99 (R$ 6,50) em um entretenimento mais fugaz do que uma partida descompromissada de Angry Birds. O roteiro de Geoff Johns é superficial, a arte de Jim Lee parece apressada (talvez ainda impressione quem não acompanha as páginas dele há 20 anos). Você meio que já sabe como será toda a saga de abertura, pelas próximas três, quatro, seis, dez edições. E só posso ler a próxima história daqui um mês - se ainda lembrar desses cinco minutos de leitura daqui um mês. E se quiser pagar mais US$ 3,99 na ocasião.
O elefante no meio da sala pergunta: se a DC vai fazer lançamento simultâneo papel/digital, por que não aproveita e acabam com o esquema das 20 páginas mensais, que tem a ver com a impressão e distribuição físicas - e que é o modelo tolerado só pelo punhado de leitores da velha guarda que sobrou? Com tantos games, filmes, músicas, livros e vários etc. de distração por aí - alguns bem mais baratos e vários deles mais eficazes - é essa a concorrência que vai fazer as pessoas voltarem a ler gibi?
Agora falando para a velha guarda, resta saber como e quando as revistas vão explicar direito o reboot e esperar que Jim Lee desenhe a próxima edição com menos pressa (melhor não ter esperanças com essa última).
Ontem pode ter sido um dia histórico. E não são os próximos anos que vão dizer - os números já devem sair nos próximos meses. Para o bem ou para o mal, alguma coisa começou no mercado de quadrinhos dos EUA esta semana.