Montagem da coluna de Marcelo Hessel

Créditos da imagem: Omelete/Divulgação

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Dicas do Hessel #031 | Um pouco de humor soturno

A Família Addams 2, O Apóstata e mais!

06.11.2020, às 10H00.

O provérbio diz que rir é o melhor remédio, mas às vezes a situação pede para dobrar a dosagem. O humor de morbidez é direcionado para temas tabus - com frequência, violência, sexo ou morte - porque a operação de ridicularizar esses tabus às vezes é a melhor forma de desarmá-los. Disso podem resultar histórias com um potencial muito especial de transcendência, como mostram as sete sugestões das Dicas do Hessel desta semana. 

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O Apóstata

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Apostasia é a palavra de define a decisão de renunciar a algo. Neste terceiro filme do diretor uruguaio Federico Veiroj, um universitário espanhol - que visivelmente já passou da idade de se formar e dar um rumo na vida - decide que o que lhe falta para as coisas andarem é renegar o catolicismo, religião em que foi batizado. Ele parte então atrás do trâmite legal que lhe permita apostasiar. Veiroj aborda de forma tragicômica as solenidades da liturgia da Igreja mas o foco do sua ironia fina é mesmo o privilégio masculino, suas liberdades e, enfim, a hipocrisia.

Disponível na Netflix

Bernie

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Por mais que seja incensado por filmes como Boyhood e esteja sempre produzindo, na prática Richard Linklater é um grande cineasta subestimado, como demonstram seus trabalhos de gênero com perfil de encomenda, como o melodrama Cadê Você, Bernardette. O caso de Bernie é muito parecido, e no fundo essa história com Jack Black baseada em fatos, sobre um homem muito bonzinho que é acusado de matar a velhinha endinheirada com quem vivia, é um excelente exercício de controle narrativo e de comédia de tipos. Poucas vezes Linklater foi tão certeiro nas suas escolhas de reduzir a dramaturgia ao essencial. Bernie é o tipo de filme simples que dificilmente se vê hoje em dia, em meio a tantas narrativas saturadas de redundâncias.

Disponível na Globoplay

Whisky

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Lançado em 2003, numa época em que chegava o novo cinema argentino ao Brasil, o filme uruguaio Whisky foi bem-vindo por aqui como mais um exemplar da melancolia latinoamericana nas telas. Esta comédia sobre um dono meio falido de fábrica, que finge ser casado com uma funcionária para fazer presença ao seu irmão endinheirado, oferece bem mais que a melancolia, porém. Por trás do tom agridoce, Whisky está tratando o luto de uma forma muito contundente e até impiedosa, na medida em que tudo que envolve seu protagonista e sua pilha de ressentimentos já cheira a mortes anunciadas. É a morte tratada com humor negro de um jeito bastante duro, sem deixar de ter empatia também.

Disponível na Netflix

As Mortes de Dick Johnson

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Um dos documentários elogiados de 2020, o filme da diretora Kirsten Johnson acompanha o drama pessoal do seu pai, que depois de perder a esposa com Alzheimer também desenvolve a doença. A “solução” encontrada pela filha para aliviar a dor da família é então registrar em filme os últimos anos da memória de Dick Johnson, ao mesmo tempo em que encena de brincadeira as tais mortes do pai, para desarmar a seriedade do luto antecipado. Tese e prática se encontram em momentos muito potentes: no papel essa elegia dos ritos de passagem já soa emocionante, e na prática, quando o luto é vivido mesmo em cena, ela se mostra realmente comovente. Um triunfo da capacidade de enfrentar a morte de frente.

Disponível na Netflix

A Família Addams 2

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Se a ideia de ter continuações no cinema é que personagens consigam realizar plenamente seu potencial depois de um primeiro filme de introdução, então a sequência de A Família Addams é um dos melhores filmes desse tipo já feitos. Em inglês, o filme de 1993 se chama Addams Family Values e é justamente isso que o roteiro de Paul Rudnick alcança: identificar o que define personagens como Mortícia, Fester ou Wandinha, seus valores mesmo, e organizar jornadas individuais que se expandam dentro desses valores. O filme de Barry Sonnenfeld é um primor de consistência dentro de um universo pré-existente.

Disponível no Prime Video

Diário de uma Adolescente

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Depois de despontar com essa comédia dramática indie em 2015, a diretora Marielle Heller ganhou prestígio suficiente para trabalhar com Melissa McCarthy e Tom Hanks, respectivamente, em Poderia me Perdoar? e Um Lindo Dia na Vizinhança. A revelação principal, porém, é a atriz Bel Powley, de 23 anos, que aproveita as brechas e o ponto de vista privilegiado da protagonista para se impor e ditar a cara do filme. É através de Powley e de seu inegável carisma que o humor absurdo se dá, numa história que combina Síndrome de Estocolmo com as descobertas do sexo na San Francisco dos anos 1970. A escalação questionável de coadjuvantes (Kristen Wiig e Alexander Skarsgard meio deslocados) potencializa o humor “errado” e torna a presença de Powley ainda mais forte.

Disponível na Globoplay

Bata Antes de Entrar

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Reduzir os filmes de terror de Eli Roth a narrativas impensadas ou automatizadas é perder muito da graça que eles oferecem. Bata Antes de Entrar é um grande exemplo; Roth parece estar fazendo mais um de seus torture porns, desta vez inserido no subgênero do terror de invasão de domicílio, quando na verdade ele convida o espectador a questionar as convenções do gênero e, juntos, subverter as expectativas que esse terror traz consigo. Keanu Reeves está inspirado (num papel que aproveita muito bem a persona meio alheia do ator) e como resistir a Ana de Armas, num dos filmes que a alçaram ao estrelato.

Disponível no Prime Video

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