A Walt Disney Animation Studios completa cem anos em 2023, um feito raro e que marcou a forma como consumimos os desenhos animados. Ao longo de um século, o estúdio norte-americano teve uma jornada emocionante com altos e baixos e criou títulos que encantaram gerações de fãs.
Conheça as eras das animações da Disney desde os primórdios com clássicos atemporais até as produções envolventes dos dias atuais:
O início: A Era Muda (1923–1927)
Nos primeiros anos, o estúdio ficou conhecido pelos curtas-metragens sem diálogos, por isso o nome. Sua estreia foi com Alice's Wonderland e Alice Comedies, séries de contos que misturavam filmagens de atores reais com animação.
Após os lançamentos, a Disney desenvolveu seu primeiro personagem original e, ao contrário do que muitos pensam, não foi o camundongo que conhecemos, mas sim Oswaldo, o Coelho Sortudo. Sua primeira aparição foi em 1927 no curta Poor Papa, mas no ano seguinte, a Disney perdeu os direitos do coelho para a Universal Studios, responsável pela distribuição das animações.
A Pré- Era de Ouro (1928–1933)
Para se recuperar da perda do Oswaldo, Walter Disney pensou em um novo personagem-mascote para o estúdio. Na primeira ideia, o ilustrador pensou em um camundongo chamado Mortimer Mouse, porém a esposa, Lillian Bounds Disney, não gostou de como soava, e o nome foi alterado para Mickey Mouse, como conhecemos até hoje. Sua estreia foi em 1928 com o curta O Vapor Willie também a primeira vez que o estúdio usou som sincronizado. O sucesso foi imediato e o estúdio tem tanto carinho por esse curta que a cena do Mickey assobiando no barco virou marca registrada da Walt Disney Company (você pode conferir acima).
Os curtas do roedor foram onde introduziram outros personagens que conhecemos atualmente como Minnie Mouse, Pluto e Pateta. De 1929 até 1939, o estúdio de animação criou o Silly Symphonies, conjunto de antologias em cartoons, que foi onde apareceu pela primeira vez o Pato Donald.
Esses curtas também foram importantes, pois foi neles que a Disney inseriu a tecnologia technicolor (série de processos cinematográficos coloridos), que ajudaria a companhia a dar o passo o próximo passo ousado: criar longa-metragens.
A Era de Ouro: (1937 - 1942)
Esse foi o momento em que a Disney passou de animações curtas para mais extensas, de uma a duas horas de duração. Em 1937 foi lançado nos cinemas Branca de Neve e os Sete Anões, longa que se tornou um sucesso de crítica e bilheteria.
O período foi um dos ápices do estúdio que produziu outras obras baseadas em contos de fadas recheado de canções, danças e inovação tecnológica para a época. Além da história da primeira princesa da Disney, Pinóquio e Fantasia (ambos de 1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942) se tornaram outros clássicos atemporais da animação.
Período da Guerra (1943 - 1949)
Com os EUA participando da Segunda Guerra Mundial, o período ficou marcado por produções com pouco orçamento e temas mais sólidos. Como muitos funcionários da empresa foram convocados para a guerra, a Disney lançou curtas e filmes de treinamento com propagandas militares como A Vitória Pela Força Aérea e o curta Educação para a Morte. O que ficou mais conhecido foi A Face do Fuehrer, o curta-metragem que traz uma mensagem anti-nazista em que apresenta o Pato Donald vivendo em um mundo distópico onde o partido nazista ganhou a guerra.
Para não passar em branco, a Disney também fez produções mais lúdicas como Você já foi à Bahia?, que traz Donald ao lado de Zé Carioca e Panchito carregando a política de boa vizinhança entre os Estados Unidos e os países latinos, e As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo, em que adaptava dois contos e trazia um tom mais sombrio para os padrões Disney na época.
A Era de Prata (1950 - 1967)
Com o fim da guerra, o estúdio viveu um período de alívio e ressurgiu com produções mais trabalhadas que iriam prosperar por quase duas décadas.
A Era de Prata também ficou marcada por filmes que teriam tons mais suaves de cor, passando a ideia de algo mais leve e mágico após os anos conturbados da guerra. Filmes como Cinderela, Alice no País das Maravilhas, Peter Pan, A Bela Adormecida e 101 Dálmatas foram os que se destacaram no período.
Fora das animações, o Parque da Disney foi inaugurado em 1955 e a empresa deixaria de ser apenas um estúdio para uma mega corporação de entretenimento. Porém, a partir da metade dos anos 60, ocorreram dois grandes episódios que abalariam a Disney: a Guerra do Vietnã e a morte do fundador Walter Disney.
A Era de Bronze ou das Trevas (1970 - 1988)
A luta para manter viva a magia após a morte de Walt Disney foi um desafio para o estúdio. Esse período ficou marcado por filmes de alto orçamento, mas que não rendiam bem nas bilheterias e não eram bem avaliados pelos críticos.
Outro detalhe foi a introdução da técnica xerografia, que agilizava o processo de animação e o tornava mais barato, mas precisava usar linhas mais grossas, o que fez algumas produções terem um aspecto mais sombrio e até "riscado". O Caldeirão Mágico é um dos filmes que marcou esta fase, e quase fez o estúdio falir pelo seu alto custo e pouco retorno, arrecadando apenas US $21 milhões contra um orçamento de US $44 milhões. Além dele, também foram lançados nesta época Robin Hood, As Peripécias de um Ratinho Detetive, Os Aristogatas, Bernardo e Bianca e O Cão e a Raposa.
O Renascimento da Disney (1989 - 1999)
Com o quase colapso, o estúdio decidiu voltar à proposta inicial: adaptações simples de contos de fadas, mas trazendo os elementos dos musicais da Broadway com canções e coreografias marcantes. O resultado trouxe o retorno da Disney a uma era de excelentes filmes que renderam várias premiações.
O filme que deu o pontapé para o estrelato veio direto do fundo do mar: A Pequena Sereia foi lançado em 1989 e trouxe o brilho das produções da Disney com canções icônicas como “Under the Sea” e “Part of Your World”, que renderam dois Oscar em 1990. Esse período de prestígio deve-se graças a dois nomes: Alan Menken e Howard Ashman, responsáveis por comporem as músicas dos filmes que marcaram o Renascimento da Disney.
A dupla participou no começo dessa época compondo, além do filme de Ariel, para outros clássicos como A Bela e a Fera e Aladdin - esse foi o último trabalho de Ashman antes de falecer, em 1991. Menken compôs a trilha sonora de outras produções da Disney desse período até os dias atuais; dentre eles estão O Corcunda de Notre Dame, Hércules, Enrolados, Encantada e o atual Desencantada.
Era Pós-Renascentista (2000 - 2009)
A partir dos anos 2000, a Disney deixa os contos clássicos em 2D e entra em novos campos, tanto em narrativas quanto em tecnologia. Inspirado na Pixar e nas animações de concorrentes que estavam ganhando espaço, como Shrek, o estúdio decidiu investir em novas histórias e usar a animação em 3D que estavam começando a deslanchar.
Apesar do sucesso, muitos consideram esse período como a Era da Experimentação (ou até a Era das Trevas 2), pois as produções não foram tão impactantes e não tinham um apelo comercial tão forte quanto a anterior.
Lilo & Stitch, A Nova Onda do Imperador, Irmão Urso, Atlântida: O Império Perdido, O Galinho Chicken Little foram produções que deixariam de lado a abordagem de princesas e “felizes para sempre” em favor de outros assuntos como a família, o crescimento pessoal e a busca pela própria identidade com um toque de humor.
Vale ressaltar que nesse período começaram a surgir filmes de super-heróis como Homem-Aranha e X-Men que estavam começando a ter identidade própria - e isso iria influenciar os próximos anos.
Era do Revival (2010 - 2019)
A partir de 2010, a Disney retorna às princesas como protagonistas, como foi em A Princesa e o Sapo (adicionando a primeira protagonista negra) e Enrolados. Mas foi em Frozen que a Disney aprendeu com a era anterior e acertou em cheio ao inovar dentro do gênero e criar protagonistas que vão além do final feliz com um par romântico. Foi com Elsa, Anna e Moana que o estúdio trouxe heroínas focadas em suas próprias jornadas e uma abordagem mais moderna (até considerada feminista).
Outras produções também marcaram o período, como Big Hero 6 (que se baseia nos quadrinhos da Marvel), Zootopia e Detona Ralph. Assim, o estúdio de animação começa a dar forma e criar a sua própria identidade.
Era do streaming (2020-Atualmente)
Nos últimos dois anos, muita coisa mudou na indústria do entretenimento e dentro da empresa. Em 2020, sai Bob Iger como CEO e entra Bob Chapek, que comandou o período em que tivemos o início da pandemia de Covid-19 e a estreia do serviço de streaming Disney+. Esses fatores foram decisivos para mudar o comportamento do público que, das telonas do cinema, passou a assistir às estreias no streaming, e tem sido um desafio para a gigante entender quais melhores lançamentos devem sair para o cinema ou para a plataforma.
Por enquanto, apenas três filmes do estúdio foram lançados: Raya e o Último Dragão (que estreou direto na Disney+) e Encanto (que saiu primeiro nos cinemas) e nesta quinta (24) estreou nos cinemas Mundo Estranho. Os dois primeiros citados, a temática da família e o protagonismo feminino ainda permeiam.
O que podemos concluir é que esta era está sendo menos marcada no estilo e temática e mais sob um olhar analítico: como as produções estão rendendo nas redes sociais, o que as pessoas estão falando, como essas métricas se comportam para entender como a Disney irá reagir e qual direção irá seguir. Um exemplo claro foi no começo do ano que a música “We Don’t Talk About Bruno”, de Encanto, se tornou a canção da Disney a ficar melhor colocada no ranking da Billboard em 26 anos - superando a impactante "Let it Go" de Frozen. O hit surpreendeu a própria Disney e parte desse sucesso foi a rápida propagação no TikTok com trends e dancinhas.
Recentemente, foi anunciado que Bob Iger retornou ao cargo de chefão da empresa, substituindo Chapek. Apesar de ainda ser muito cedo, essa mudança irá influenciar nos próximos rumos que a Disney irá trilhar com suas mega produções.