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Duna | Entenda o final do filme de Denis Villeneuve

Longa cobre dois terços do livro - e deixa o desfecho da profecia para uma possível continuação

23.10.2021, às 12H00.
Atualizada em 26.10.2021, ÀS 14H25

[Spoilers de Duna - livro e filme - à frente]

Depois de adiamentos e polêmicas sobre o método de lançamento, Duna finalmente estreou nos cinemas. Obviamente, o filme de Denis Villeneuve adapta a obra-prima publicada em 1965 por Frank Herbert. Repetindo o lançamento do livro, dividido originalmente em duas partes, o cineasta e a Warner optaram por transformar a história de Paul Atreides (Timothée Chalamet) em duas produções e, com isso, encerrar o longa de 2021 muito antes do clímax escrito por Herbert. Na ponta do lápis, usando a edição publicada no Brasil em 2017 pela Aleph como base de cálculo, a adaptação cobre 396 das 620 páginas - ou seja, o primeiro filme tem dois terços do romance Duna.

Antes de mais nada, é preciso lembrar da profecia fremen, introduzida no povo de Arrakis séculos antes por Bene Gesserit responsáveis por moldar superstições, que prevê a chegada de um messias, filho de uma iniciada da ordem, capaz de prever o futuro - a chamada “présciêcia” -, que conhecerá os costumes fremen “como que desde o berço” e libertaria-os do domínio do Imperium. Atendendo os diferentes “requisitos” da lenda ao longo de Duna, Paul é tratado com cada vez mais curiosidade pelos locais, que enxergam nele o Mahdi, líder capaz de levá-los ao paraíso.

Já acolhido por Stilgar e outros batedores fremen, Paul é desafiado por um guerreiro chamado Jamis, que duvida da lealdade do jovem Atreides e da possibilidade de ele ser o Mahdi. Mais habilidoso por causa de seus treinamentos com Duncan Idaho e sua mãe, Jessica, o garoto derrota seu adversário e conquista o respeito dos outros presentes. Paul chora a morte do adversário, a primeira pessoa que ele matou com as próprias mãos, ato que é visto como uma confirmação de sua identidade messiânica pelos seus novos companheiros.

É neste momento do livro que Paul é acolhido de vez pela tribo liderada por Stilgar e ganha seus nomes locais: Usul, que só poderá ser usado por membros do sietch Tabr, e Muad’dib, escolhido pelo próprio jovem Atreides a partir de um pequeno roedor que habita o deserto de Arrakis. Esse rebatismo, no entanto, está curiosamente ausente da primeira parte do Duna de Villeneuve.

Diferente de Herbert, que revela a aceitação de Paul e Jessica entre os fremen, o cineasta prefere encerrar sua versão da história deixando relativamente em aberto como o personagem de Chalamet será recebido no abrigo comunitário de Stilgar (Javier Bardem) e Chani (Zendaya). Embora seja difícil imaginar Villeneuve alterando o papel que o jovem terá no destino de seu novo povo, é possível que encerrar o longa antes do “nascimento” de Usul/Muad’dib seja uma forma de manter a aura messiânica de Paul nas entrelinhas, algo que não acontece no livro original.

“Esse é apenas o começo”

As últimas palavras de Chalamet em Duna, “esse é apenas o começo”, não são usadas como um simples ponto final para o primeiro capítulo da narrativa de Villeneuve, mas podem também indicar como o diretor planeja adaptar o restante do livro de Herbert. Sem mostrar explicitamente Paul assumindo sua nova identidade fremen como na obra original, o diretor pode usar essa ocultação para construir a mística que o nome Muad’dib começa a ter não só entre o povo de Arrakis, mas também nos bastidores da administração Harkonnen.

Essa possibilidade explica, por exemplo, a mudança no tratamento que Liet Kynes (Sharon Duncan-Brewster), cuja vida dupla como agente do Imperium e líder fremen foi reduzida de forma significativa. Caso seguisse parágrafo por parágrafo do livro, a lenda que se cria em torno de Paul poderia ser recebida como repetitiva por parte do público que, diferentemente dos Harkonnen, já chegam à segunda parte sabendo que o garoto está vivo.

O fim “abrupto” proposto no filme de 2021 pode também servir como uma demarcação temporal, já que há um salto de dois anos entre a divisão natural entre as duas partes de Duna. Graças às visões de Paul, o público já tem alguns detalhes de sua vida no sietch Tabr, que inclui, entre outras coisas, seu relacionamento com Chani, com quem ele trocou olhares significativos nos últimos segundos do longa. A caminhada em direção ao horizonte deixa as experiências de Muad’dib implícitas e podem abrir espaço para que Villeneuve trabalhe esse aspecto do livro de forma menos expositiva.

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