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Billy Wilder - Filmografia Comentada - Parte 3

Primeira Página e Se Meu Apartamento Falasse chegam para dar continuidade à série de textos

13.05.2008, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 18H01

Billy Wilder dirigiu quase trinta filmes e escreveu cerca de setenta. Assim como os diretores que mais admirava (e com quem trabalhou), Howard Hawks e Ernest Lubitsch, passeou por todos os gêneros cinematográficos, fez comédias, filmes de guerra, suspenses e dramas. Pouca coisa, fora os mais clássicos, estava disponível em DVD ou mesmo VHS no Brasil, mas agora com duas novas caixas e uma série de edições especiais, já dá para pensar em bolar — aos poucos e fora da ordem cronológica — uma lista completa de seus filmes.

A série está crescendo. Depois de uma estréia com Pacto de Sangue e Cinco Covas no Egito, e uma segunda edição com A Incrível Susana e Sabrina estamos de volta com mais dois clássicos:

Primeira Página

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Primeira Página

O Apartamento

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O Apartamento

A Primeira Página
(The Front Page, 1974)

Antepenúltimo filme de Wilder, A Primeira Página é uma das inúmeras adaptações para o cinema da peça homônima de Ben Hecht e Charles MacArthur. A mais conhecida delas é Jejum de amor (1940, Howard Hawks), com Katherine Hepburn no papel principal. Nesta versão, Walter Matthau é um rabugento editor de jornal cujo melhor repórter, Jack Lemmon, está prestes a se casar e abandonar a profissão. É claro que Matthau vai fazer de tudo para manter Lemmon no emprego, mesmo que tenha que usar os artifícios mais sujos possíveis. Quando um condenado à forca escapa na última hora, Matthau tem a oportunidade perfeita para atrair o repórter de volta à ação.

É uma comédia com grande concentração de diálogos frenéticos, cínicos e intermináveis, a ponto de ser impossível limpar os óculos durante a exibição do filme. De fato, Wilder costumava mandar os atores refazerem as tomadas, mas com uma velocidade duas vezes maior: "Me dê uma alegria, corte uma semana nessa cena". As ações ficam contidas aos intervalos entre as conversas, e nem é preciso dizer que, inspirados na peça original, os cenários são parcos, quase limitados à sala de imprensa da corte criminal.

A performance da dupla Jack Lemmon e Walter Matthau é impecável, com destaque para este último — simplesmente o melhor editor rabugento e canalha de que se tem notícia, com "olhinhos malvados e um nariz de pepino".

Cena: A inicial. Os créditos passam ao som de uma música-tema furiosa (como em Cupido não tem bandeira e Irma La Douce), enquanto na tela vêem-se cenas da composição de um jornal. Quando o filme de fato começa, o espectador já está por dentro da história.

Objeto de cena: O relógio de Walter Matthau, é claro.

Frase: Um dos grandes finais de Wilder: "O filho da mãe roubou meu relógio".

Se meu apartamento falasse
(The apartment, 1960)

É talvez o filme mais equilibrado de Wilder, sem grandes exageros nas situações de comédia (como em Irma la douce), no drama (Farrapo Humano), na pompa (Crepúsculo dos Deuses) ou na maquiagem (Quanto Mais Quente Melhor). O enredo, feito de pequenos momentos, se concentra em C. C. Baxter (Jack Lemmon), pacato funcionário de uma seguradora que mora sozinho em um apartamento. Seria uma vida normal, não fosse um detalhe: todas as noites, ele empresta sua chave para que os chefes possam se divertir com as amantes. A notícia se espalha entre os executivos e chega ao diretor da firma, sr. Sheldrake (Fred MacMurray), que aproveita para levar ao apartamento a doce ascensorista Fran Kubelik (Shirley MacLaine). Porém, ele não dá a mínima para a moça que, na véspera de Natal, tenta o suicídio no apartamento — restando a Baxter alguém para cuidar.

O apartamento era o favorito de Wilder, junto com A montanha dos sete abutres. É muito simples e melancólico, um pouco como sua fotografia em preto-e-branco. É também mais lento que os outros filmes. Aqui, as emoções são suaves, quase sem forças; por exemplo, a tristeza de MacLaine não passa de um espelhinho quebrado que ela gosta de manter na bolsa, pois é o reflexo de como se sente. Ela também diz, em seu momento mais desolador: "Como eu pude ser tão burra? Já devia ter aprendido — se você gosta de um homem casado, não deve usar rímel". Já a paixão de Lemmon é retratada pelo entusiasmo com que ele faz espaguete "para dois" ou pela diligência com que tenta animar MacLaine: "Srta. Kubelik, ninguém aqui chega a segundo assistente administrativo sem ser um bom juiz de caráter, e pelo que sei, você é o máximo. Quer dizer, em termos de decência e em termos de outros termos".

Cena: Partida de gin rummy, que começa quando Jack Lemmon, empolgado, vai buscar as cartas e conta o que fez no Natal passado: jantou cedo numa loja de conveniências, foi ao zoológico e depois voltou para limpar a sujeira da festa do sr. Eichelberger. "Estou bem melhor este ano!"

Objeto de cena: Raquete de escorrer macarrão do Jack Lemmon

Frase: "Você ouviu o que eu disse, srta. Kubelik? Eu simplesmente te adoro."
"Cale a boca e dê as cartas."

Para saber mais sobre Billy Wilder, leia o excelente ensaio biográfico escrito pelo jornalista Roberto Elísio dos Santos em homenagem ao centenário do cineasta.

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