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Artigo

Billy Wilder - Filmografia Comentada - Parte 4

Irma la Douce e Amor na Tarde

15.09.2009, às 00H00.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 22H04

Billy Wilder dirigiu quase trinta filmes e escreveu cerca de setenta. Assim como os diretores que mais admirava (e com quem trabalhou), Howard Hawks e Ernest Lubitsch, passeou por todos os gêneros cinematográficos, fez comédias, filmes de guerra, suspenses e dramas. Pouca coisa, fora os mais clássicos, estava disponível em DVD ou mesmo VHS no Brasil, mas agora com duas novas caixas e uma série de edições especiais, já dá para pensar em bolar — aos poucos e fora da ordem cronológica — uma lista completa de seus filmes.

A série está crescendo. Depois de uma estréia com Pacto de Sangue e Cinco Covas no Egito, uma segunda edição com A Incrível Susana e Sabrina e uma sequência que teve Primeira Página e Se Meu Apartamento Falasse, estamos de volta com mais dois clássicos:

Billy Wilder

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Billy Wilder

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Irma la Douce

(Idem, 1963)

Em Irma la Douce, Billy Wilder traz de volta a dupla Jack Lemmon e Shirley MacLaine (Se Meu Apartamento Falasse), em um roteiro que MacLaine sequer leu antes de aceitar o papel - ela apenas confiava na dupla Lemmon e Wilder. Nesta comédia, Nestor Patou (Jack Lemmon) é um policial honesto e ingênuo que acaba se apaixonando por Irma La Douce (Shirley MacLaine), a prostituta local. Após confrontar Hippolyte, "o Boi", acaba virando o cafetão de Irma, mas há um problema: ele é ciumento. Não suporta ver Irma com outros homens. Desesperado, Nestor encontra uma saída: "Irma vai ter um amante rico, e serei eu!". O policial se disfarça de lorde inglês e vira o único cliente de Irma, mas a exclusividade lhe custa caro e ele passa a ter ciúmes do lorde, ou seja, de si mesmo. Então planeja matá-lo.

Segundo o trailer, é uma "história de paixão, sangue, desejo e morte, ou seja, tudo o que faz a vida valer a pena". Apesar de não ser reconhecido pela crítica, Irma la Douce foi um dos grandes sucessos de bilheteria do diretor, e só não vingou na França. É uma comédia romântica, sim, mas muito incomum; são 147 minutos de um enredo absurdo e delirante, em que os roteiristas Billy Wilder e I.A.L. Diamond parecem querer, a toda hora, atingir o limite de loucura que a situação poderia levar. E acreditem, a tolice amorosa de Jack Lemmon vai longe.

Um dos destaques do filme é o dono do bar, Moustache (Lou Jacobi), que comprou o estabelecimento já com o nome de Chez Moustache e, portanto, achou mais barato deixar crescer o bigode do que comprar outro letreiro. Segundo as autoridades, ele é um ladrão de galinhas romeno chamado Constantinescu, e também foi professor de economia na Sorbonne, crupiê em Montecarlo, coronel da Legião Estrangeira em Marrakesh, soldado em Dunquerque, um dos maiores advogados criminalistas da França e chefe da obstetrícia na África Equatorial Francesa com o dr. Schweitzer... "mas isso é outra história".

Cena: Shirley MacLaine dançando em cima do balcão do bar, com os sapatos na mão.
Objeto de cena: meias verdes de Shirley MacLaine
Frase:

Irma: "Um pintor morou aqui. Coitado, passava muita fome. Tentou de tudo, até cortou a orelha fora."
Nestor: "Van Gogh?"
Irma: "Não, acho que o nome dele era Schwartz."

Amor na Tarde

(Love in the Afternoon, 1957)

Em entrevistas, Billy Wilder dizia que a receita de um bom roteiro está no enredo. "Atmosfera, intriga, ela vai matá-lo, ele vai matá-la, meu Deus, o que irá acontecer com o filho ilegítimo... não interessa o quê, mas que agarre o espectador", ele afirmava. Nesta comédia romântica de duas horas e dez minutos de duração, Wilder agarra o espectador com um enredo minuciosamente esculpido: Ariane Chavasse (Audrey Hepburn) é a filha de um detetive particular (Maurice Chevalier) que investiga casos de adultério. A inocente Ariane se envolve num desses casos, o de Frank Flannagan (Gary Cooper), um solteirão mulherengo que se hospeda no Ritz e seduz mulheres casadas. Ariane se apaixona pelo americano e, para provocar ciúmes, inventa que é uma mulher experiente.

Numa das melhores cenas do filme, Frank ouve uma gravação muito séria sobre quantos homens Ariane já teve na vida — "aqui vai uma lista daqueles de que me recordo". São dezenove itens que começam com um professor de álgebra ruivo e terminam com um alcoólatra holandês, passando por um rapaz adorável que agora é missionário na África Equatorial Francesa e um guia alpino de joelhos bonitos. Aos poucos, Frank vai ficando mais indignado e segue-se uma cena muda, à la Lubitsch, em que ele compartilha a bebida com o quarteto de músicos ciganos. Estes, aliás, têm um papel importante na trama: muitas das canções substituem cenas diretas ou explicações do que está acontecendo atrás da porta.

Filmado em preto-e-branco, Amor na Tarde foi um fracasso de público e crítica, talvez por causa da diferença de idade do casal protagonista (28 anos). A má fama é injustificada. Trata-se de uma ótima comédia romântica do diretor, com um certo ar antigo — mas cheia de malícia, como é natural.

Cena: Ariane perde um dos sapatos ("tem certeza de que você veio com os dois?") e o procura debaixo da mesa, com a ajuda de Frank.
Objeto de cena: a caixa do violino
Frase:

Ariane: "Quando você trabalha?"
Frank: "Quando não estou ocupado."

Para saber mais sobre Billy Wilder, leia o excelente ensaio biográfico escrito pelo jornalista Roberto Elísio dos Santos em homenagem ao centenário do cineasta.

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