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Omeletrash

A nova coluna traz o que há de "melhor" nas produções de baixo orçamento do cinema mundial

29.06.2009, às 21H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 07H02

O que é trash?

Holocausto Canibal

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Faster Pussycats – Kill! Kill! Kill!

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Thriller - A Cruel Picture

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The Street Fighter

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à meia-noite levarei sua alma

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Plan 9 From Outer Space

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Muitos são, mas poucos realmente admitem. Esta pergunta não é tão fácil assim de ser respondida. Qualquer produção com pouco dinheiro e quase nenhuma qualidade técnica pode ser chamada de trash. Mas afinal, o que diabos é trash?

O terror já existia desde o expressionismo alemão com filmes como Nosferatu, M, o Vampiro de Dusseldorf e O Gabinete do Dr. Caligari, passando logo após aos monstros da Universal e da Hammer e uma infinidade de fitas baratas de bichos gigantes destruidores de metrópoles. O revezamento de Peter Cushing, Bela Lugosi, Boris Karlloff e Christopher Lee nos papéis de zumbis, vampiros e lobisomens garantiam a rentabilidade dos estúdios e o interesse do público.

Profecias terríveis praticamente cavavam as sepulturas para os pobres diabos que faziam de tudo para assustar aos espectadores e o horror entrava em declínio. Uma lástima!

Até que um cara canastrão que gostava de gatos e se vestir de mulher resolveu aparecer. Edward Davis Wood Jr., ou simplesmente Ed Wood, era um beberrão metido a cineasta que por um delírio mental grave acreditou ser um gênio além de seu tempo. Seus filmes eram feitos com equipamentos emprestados, sua equipe técnica era formada por malucos e as mesmas cenas utilizadas em um filme reciclavam-se para outro. Nasceu então o que a crítica estadunidense resolveu chamar de "filme trash". Até hoje ele é conhecido como o pior diretor de cinema de todos os tempos.

Sua maior obra-prima (será que eu estou louco?) é o clássico Plan 9 From Outer Space, em que uma invasão alienígena ressuscita os mortos em um plano diabólico. No elenco estão o lutador de wrestling Tor Johnson, a decadente apresentadora de televisão Vampira e o debilitado Bela Lugosi. Os discos voadores foram feitos com calotas de rodas penduradas por barbantes que saltam aos olhos.

Mas a tosquice deu resultados. Não fosse por isso, esta coluna não teria qualquer sentido.

As décadas a seguir trouxeram filmes que misturavam erotismo e violência gráfica mais explicitamente. Exploitations, sexploitations, nazixploitations, blaxploitation, spaghetti, eurotrash, italian zombies, kung fu e mais uma pancada de subgêneros nasceram entre os anos 1960 e 1970.

Os becos norte-americanos foram tomados por salas de cinema frequentadas por ladrões, traficantes e prostitutas. Era possível pagar um dólar para ver de dois a quatro filmes em uma única tacada. Estas salas ficaram conhecidas como grindhouses, tema já abordado pela dupla Quentim Tarantino e Robert Rodriguez alguns anos atrás.

A alegria da galerinha do mal era o diretor Russ Meyer. Seus filmes misturavam erotismo, rachas de carros envenenados e garotas boas de briga. É dele o embrião para a série As Panteras (Charlie's Angels). O lindíssimo Faster Pussycats - Kill! Kill! Kill! revelou Tura Satana, a musa peituda de Meyer no papel de líder de uma gangue de arruaceiras gostosas que desciam a porrada em qualquer um que cruzasse o deserto para enfrentá-las. Coisa linda!

Mas o público queria mais do que um belo decote e golpes de karatê. O erotismo presente no exploitation precisava de uma pimentinha, algo mais picante para não perder o interesse. O sexo explícito entrou de vez com filmes como Thriller - A Cruel Picture, do sueco Bo Arne Vibenius, braço direito de Ingmar Bergman e A Vingança de Jeanie, de Meir Zarchi.

Enquanto isso, na parte Oriental do globo, a Toei Company, em parceria com Shige Hiro Ozawa, deu vida à trilogia Street Fighter. Filme de artes marciais com o lendário Sonny Chiba arrancando gargantas e olhos dos mafiosos japoneses em cenas antológicas de pura sangueira.

A resposta europeia não tardou a aparecer com o italiano Ruggero Deodato e os animais de verdade estraçalhados em cenas nauseantes no polêmico Cannibal Holocaust e as escatologias zumbísticas de seu conterrâneo Lucio Fulci em Zombie e The Beyond.

No Brasil, José Mojica Marins entrava nos sonhos dos miseráveis com o icônico personagem Zé do Caixão - cultuado lá fora e maldito desconhecido em nossas terras. A safra brasileira ganha sobrevida nos dias de hoje graças a nomes como Fernando Rick e o videomaker tarado Petter Baiestorf.

O revival trash-gore norte-americano dos slasher movies dos anos 1970 hoje dá lugar aos genéricos Jogos Mortais e Albergues da vida. Enquanto as filas se formam às pencas para ver um careca sádico estripar pessoas perturbadas, a Troma de Lloyd Kaufman se consolida como a maior produtora estadunidense de filmes ruins de todos os tempos.

Todas estas produções são muito diferentes tecnicamente e exploram o exagero para chamar a atenção dos apreciadores com gostos bastante peculiares. Em comum somente o espírito contracultural e transgressor de seus realizadores. Nunca o jargão " Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão" foi tão levada a sério. Com pouco dinheiro, tinta vermelha e um maquiador meia-boca, qualquer um pode se expressar e fazer a sua própria obra de arte. Em uma época na qual o cinemão carece de ideias novas e lançam centenas de remakes e incansáveis continuações, o cinema marginal pode ser uma ótima saída. E pra você, o que é trash?

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