Vampirismo, possessão demoníaca ou fantasmas carrancudos têm lá um charme, mas nenhum subgênero do horror consegue ser mais empolgante e divertido do que os fucking zombies! Se a onda agora é fazer filmes de vampiros cheirosinhos e que viram purpurina quando expostos ao sol, um dia já fomos abençoados com pencas de filmes de cadáveres canibais se esbaldando em miolos e carne humana fresquinha. Bons tempos em que o terror botava medo, dava nojo ou fazia rir sadicamente. É em busca desses momentos que vamos abrir nossas cabeças atrás de um bom cééérebroooooo.
Night of the Living Dead - A Noite dos Mortos Vivo
Teenage Zombies
Capital dos Mortos
Todo Mundo Quase Morto
Os primeiros filmes envolvendo mortos que voltavam à vida eram intimamente ligados às religiões haitianas e à magia negra. Outras culturas, como a europeia, também exploravam lendas inspiradas em espíritos que impossibilitavam a decomposição dos cadáveres de pessoas más. Foram a mistura da crença africana do "quimbundo nzumbi" com o medo da morte e as teorias de reencarnação espiritual dos ocidentais que trouxeram ao cinema a figura do zumbi.
Filmes como White Zombie (1932), Teenage Zombies (1959) e Epidemia de Zumbis (The Plague of the Zombies, 1966) colocavam os cadáveres como escravos em campos de trabalho-forçado, servindo cegamente a um lunático querendo dominar o mundo. Um grupo de amigos descobria o plano maléfico, fugia dos gigantes com tanguinhas roubadas do Tarzan e conseguia matar o lunático. Fim do filme.
A fórmula logo se desgastou e o gênero perdeu sua força.
Até que, em 1968, George A. Romero cometeu uma das maiores genialidades de todos os tempos. Seu filme A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead) foi um divisor de águas dentro do horror tradicional e uma dentada nas entranhas do público, que ficava atônito diante do canibalismo e selvageria até então nunca vistos no cinema.
A partir desse momento, os desmortos deixavam de ser escravos que estavam ali só para trabalhar de tanguinha e passavam a ser pessoas com roupas normais de trabalho ou de escola mordendo pescoços e braços, e esbanjando violência gráfica.
Entre 1979 e 1985 saíram respectivamente Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead), da célebre e manjada frase "Quando não houver mais espaço no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra" e o climático Dia dos Mortos (Day of the Dead). Este terceiro filme pode não ser o melhor dentro da mitologia criada por Romero, mas traz Bub, simplesmente o melhor zumbi de todos os tempos. Eu diria até que o Bub é uma versão podre e fedida do E.T. do Spielberg. O bicho que em troca de carne fresca escuta música, fala ao telefone e ainda por cima bate continência para um general sendo devorado vivo.
Como não poderia deixar de ser, a resposta europeia não tardou e Lucio Fulci rapidamente lançou o nojento Zombie (1979). As sessões do filme na Itália eram festivais de gente vomitando, católicos desgraçando o filme e os donos das salas de cinema distribuindo sacos de vômito para amenizar o pandemônio. Aliás, o Fulci é considerado o mais escatológico cineasta de todos os tempos. Dentro do gênero, ainda lançou E tu vivrai nel terrore - L'aldilà (1981), com a clássica cena de um cão arrancando o pescoço de uma garota cega e Demonia (1990), trash com freiras possuídas sedentas por carne.
Os anos 1970 e 1980 foram os mais prósperos para as produções que colocavam zumbis em qualquer situação que fosse. A trilogia A Volta dos Mortos-Vivos (The Return of the Living Dead, 1985) mostrou cadáveres que pensavam, falavam e eram maníacos por cérebro. O péssimo Le Lac des Morts Vivants (1981), do francês Jean Rollin, colocou até soldados nazistas mortos em um lago para conversar com uma garotinha. E a Tröma lançou o excelente Redneck Zombies (1987), com caipiras beberrões contaminados por material radioativo.
Os anos 1990 chegaram e os zumbis apareciam cada vez menos. Poucas produções de destaque arrancaram os mortos do imaginário das pessoas.
E eis que o novo milênio trouxe bons filmes, como o engraçado Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004) e os atuais Dead Snow (Død snø, 2009), da Noruega, e o canadense Yesterday (2009). O Japão mandou pro inferno de vez as mulheres cabeludas e crianças bizarras dos filmes de fantasmas e nos brindou com maravilhas como o gore extremo Stacy (2001) e o belo Yoroi, the Samurai Zombie (2008). O Brasil começou a dar os seus primeiros passos com o bom Capital dos Mortos (2008), do brasiliense Tiago Belotti, e o lindíssimo Mangue Negro (2008), de Rodrigo Aragão.
A crítica sempre odiou as produções e os realizadores sempre deixavam implícitas pequenas mensagens políticas, ou pelo menos fingiam que deixavam. Mas quem se importa? Filme de zumbi é sangue, carne e cérebro. O resto é bobagem!