Mesmo após 73 edições do Emmy, a presença de séries teens nas indicações é sempre algo raro. Isso porque dificilmente a Academia de Artes e Ciências da Televisão leva em consideração produções voltadas ao público adolescente, independente de sua performance, enredo e elenco. Mesmo que a série seja aclamada pelo público e pela crítica, como é o caso de Pretty Little Liars, Jane, a Virgem, The Fosters e tantas outras, suas performances rendem no máximo poucas indicações e nenhuma vitória. A grande exceção é Glee, que ficou no ar por seis anos e recebeu 32 indicações ao prêmio e seis vitórias. Mesmo assim, acontecimentos como este são tão raros que é possível contar nos dedos. Quando se trata de uma categoria mais "séria", como por exemplo Melhor Série de Drama, as histórias de adolescentes ficavam para trás, até o ano passado.
O Emmy 2020 surpreendeu a todos depois que Euphoria recebeu seis indicações e uma vitória de Zendaya como Melhor Atriz em Série Dramática, sendo essa a primeira vez em que a Academia premiou uma série teen em uma das principais categorias. Mas por que o Emmy não costuma dar atenção para produções deste gênero?
Há algum tempo, as séries que trazem uma trama voltada para dramas e conflitos de adolescentes são vistas como fúteis e bobas, como se não tivessem histórias boas o suficiente para serem dignas de premiação. Grande parte desse “preconceito” acontece por conta do público que elas costumam atingir, o infanto-juvenil, em sua maioria reduzidos ao infantil. Porém, as tramas das séries teens estão mudando cada vez mais nos últimos anos, deixando a superficialidade de lado e abordando temas de extrema importância, não só na adolescência como também na vida adulta.
Dois exemplos disso são os sucessos da Netflix Sex Education e Eu Nunca, que têm histórias cativantes, profundas e relevantes, com menções a assuntos relacionados a sexualidade, homossexualidade, morte, identidade cultural, entre outros. Além do ótimo enredo, as séries também vão bem no quesito técnico com grandes nomes à frente e por trás das câmeras como Mindy Kaling (The Office, The Mindy Project), criadora de Eu Nunca.
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Como sabiamente apontado no artigo do site americano Pop Sugar, infelizmente, as produções teens só chamam a atenção da Academia se a história tratar seus personagens adolescentes basicamente como adultos, com questões voltadas para sexo e drogas que, por consequência, atraem uma audiência mais velha, como em Euphoria. Stranger Things é outro exemplo de série teen que recebe o reconhecimento da premiação por fazer tanto sucesso entre o público adulto, apesar do elenco de adolescentes. Em seus três anos de existência, a produção da Netflix foi indicada várias vezes ao Emmy, sendo que ano passado concorreu como Melhor Série de Drama.
Com as evidentes mudanças nas indicações do Emmy nos últimos anos, em que a Academia está olhando para produções mais populares que fazem sucesso com a grande massa, se esforçando para diversificar, rejuvenescer e ampliar a sua base de votantes e reconhecendo séries que não são consideradas “de prestígio” pela crítica - como as indicações que The Boys e Bridgerton receberam este ano - esperamos também que esse “preconceito” com séries teens fique para trás. Especialmente tendo em vista que, hoje, a quantidade de produções adolescentes de qualidade só aumenta.