Mj Rodriguez é uma nerd declarada. Em 2016, quando ainda era conhecida “apenas” nos círculos da Broadway, a atriz explicou a um site especializado que o seu nome artístico era inspirado em ninguém menos do que Mary Jane Watson (frequentemente apelidada de “MJ”), a eterna namorada do Homem-Aranha.
“Eu sou meio que uma enciclopédia de quadrinhos. Amo a Marvel. Quando vi Mary Jane nas revistas, e depois no filme [com Kirsten Dunst], pensei: ‘Eu quero ter esse nome. Deixe-me ver se encontro essas iniciais no meu nome’. Eu encontrei, e agora elas são minhas”, brincou ela na época.
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Para a maioria do público, no entanto, foi só em 2021 que essa “nova” Mj se tornou mais familiar. Especificamente, quando ela conquistou sua primeira indicação ao Emmy pela atuação como a heroína (sem super poderes, mas por muito pouco) Blanca Evangelista na última temporada de Pose.
Trata-se de uma marca importante não só para ela, como também para toda a comunidade transgênero - Mj é a primeira mulher trans a aparecer na lista de melhor atriz em série dramática do Emmy, a principal categoria de atuação feminina da premiação. Anteriormente, Laverne Cox (Orange is the New Black) e Rain Valdez (Razor Tongue) haviam sido lembradas em categorias secundárias, que não são transmitidas na cerimônia principal.
A indicação, acima de tudo, é merecida. Em Pose, Mj interpretou a batalhadora Blanca, uma jovem trans que cria uma “casa” na cena do ballroom nova-iorquino dos anos 1980, durante a crise do HIV/AIDS. O ballroom, um tipo de competição artística envolvendo moda, dança e referências pop, é conhecido por servir como abrigo para jovens LGBTQIA+ rejeitados ou reprimidos por suas famílias - e os donos das “casas”, que são como os times na competição, normalmente também servem de figuras paternas ou maternas para estes jovens, às vezes até oferecendo moradia aos que são expulsos de seus lares.
Blanca é uma personagem admirável em todos os sentidos, talvez a heroína mais idealista e pura que tivemos na TV nos últimos anos. Sem Mj, talvez ela fosse uma mocinha anacrônica e sem sal - com ela, é o centro gravitacional de uma história emocionante. A atriz dá espaço, dimensão e realidade à luta da protagonista, aos seus triunfos e fracassos, em uma performance daquelas que são frequentemente definidas como responsáveis pela “ascensão de uma estrela” em Hollywood.
Talvez um pouco da qualidade da atuação venha de um conhecimento de causa. Muito antes de Pose, Mj foi uma dessas jovens LGBTQIA+ que recorreram ao ballroom para fugir de uma realidade difícil - aos 14 anos, enquanto já participava também do Programa de Teatro Juvenil de Nova Jersey, ela estava aprendendo o vogue, dança característica do ballroom (cooptada por Madonna no hit de 1990), com o seu “pai postiço” José Xtravaganza.
No filme independente Saturday Church (2017), em muitos sentidos um precursor de Pose, ela e Indya Moore (a Angel da série) já haviam levado a química do ballroom para as telas. Ainda antes disso, Mj fez rápidas participações em séries como Nurse Jackie e Luke Cage - se tornando, com esta última, a primeira pessoa transgênero a aparecer no MCU, uma marca dúbia, tendo em vista que sua personagem nem mesmo tinha falas no episódio.
O futuro guarda perspectivas mais interessantes. Por exemplo: Mj vai contracenar com Maya Rudolph (Missão Madrinha de Casamento) em uma nova série cômica da Apple TV+, criada por Alan Yang (Master of None). Na trama, a atriz de Pose será uma poderosa executiva que comanda a ONG fundada por Molly, bilionária interpretada por Rudolph - um papel que quebra todos os estereótipos de mulheres trans na TV.
Ah, e voltando àquela veia nerd, fãs podem esperar a estreia de Mj como quadrinista em breve. Visitando o The Late Show em maio, ela contou que já está finalizando a sua primeira HQ, contando a história de “uma garota incompreendida pelo mundo, que tem muita coisa pesando contra ela na vida, mas que vence as probabilidades e triunfa no final”. História autobiográfica, presumimos.