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Ender's Game – O Jogo do Exterminador | Omelete Entrevista Gavin Hood

Diretor fala sobre aspectos do filme

17.12.2013, às 16H22.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 17H22

O diretor de Ender's Game – O Jogo do Exterminador (Ender's Game), Gavin Hood, fala sobre a classificação etária do filme, a dualidade humana e os aspectos políticos do filme em entrevista com Marcelo Hessel.

 

Obrigado pelo seu tempo, senhor Hood.

Gavin Hood: Obrigado por me receber.

É um livro bem violento, como você equilibra isso em um filme censurado para 13 anos?

GH: É uma ótima pergunta, as pessoas falam sobre os elementos violentos do livro e como você faz para ser um filme com censura para 13 anos e... Acho que o importante é, sabe... O bullying, por exemplo, é um problema nas escolas, o jeito que os mais novos respondem à violência é importante, o jeito como discutimos a violência, violência que é uma parte do mundo, infelizmente, para mim, eu não estou interessado no filme mostrar ou encontrar satisfação nos momentos de violência, eu estou mais interessado nos efeitos da violência na psique das pessoas mais jovens no filme. Não é um filme em que celebramos a violência, é bem o oposto, esses são jovens recrutados para a guerra, que acontece por todo o mundo, as sociedades sempre precisaram dos mais jovens para lutar suas guerras, e os jovens querem agradar os adultos, e querem provar seu valor como heróis e eles acham que são imortais, mas em algum ponto eles crescem, e precisam decidir como eles mesmos vão responder à guerra e a violência. E o que é mais interessante para mim neste personagem, Ender Wiggin, é que ele é capaz de grande compaixão e bondade, mas ele também é capaz de agressões reais e isso é verdadeiro em nós como uma espécie, nós, seres humanos, temos esses impulsos extraordinariamente opostos, nós podemos ser tão bondosos, e podemos ser tão horrendos, e eu acho que o coração do filme explora essa dualidade nesse jovem personagem mas ao mesmo tempo é um filme que, eu espero, é excitante, divertido e cheio de grandes e maravilhosos efeitos visuais, mas ele tem um personagem complexo no centro.

E também é político, essas crianças estão aprendendo a guerrear à distância. Você o vê como uma espécie de filme político?

GH: Eu acho que estamos em um período muito estranho agora, onde jogos e realidade estão começando a se fundir. Os gráficos visuais dos videogames estão se tornando tão realísticos que você se sente travando uma guerra real em um jogo, mas a guerra real está se tornando cada vez mais como um videogame, temos guerra com teleguiados, assistimos à guerra na CNN e de alguma forma estamos separados, como espectadores, da realidade da guerra, e isso é perigoso porque ele pode começar a parecer um jogo, e o filme obviamente brinca com essas ideias, ele se chama "O jogo do exterminador", mas ele é mesmo um jogo? Você sente que ele está jogando um jogo, mas ele pode não estar jogando.

E claro, você escreveu o script, você discutiu com o Sr. Card sobre esses aspectos políticos?

GH: É muito interessante, o livro foi escrito em 1985, e, naquela época, a internet mal existia, a ideia de guerra à distância mal existia iPads não existiam, mas mesmo assim, no livro as crianças tinham esses Deskpads, como ele chamava, eu acho que o autor foi muito previdente na maneira que ele previu como o futuro se desdobraria, mas... existia uma questão, seria preciso atualizar o livro para o tempo de hoje? Não, eu, na verdade, acho que o livro é mais relevante agora porque nós... nós nos identificamos com essas coisas, então o que eu queria na adaptação era não fazer algo ainda mais futurístico. Jovens estão usando iPads, guerra à distância realmente existe, o futuro está aqui. E eu acho que o filme dialoga com essas questões muito bem.

Quando você tinha 17 anos foi convocado para o exército sul-africano, também é obrigatório no Brasil quando se faz 18 anos, essa foi uma experiência que você quis trazer ao filme?

GH: Sabe, quando eu tinha 17 anos e fui convocado foi um choque pra mim, você vai ainda jovem pensando "uau, vai ser uma aventura!" e... infelizmente eu perdi um amigo próximo na guerra, e isso me afetou muito, me deixou muito raivoso, me deixou muito confuso, e me fez questionar se, a autoridade é para ser admirada em todas as situações. Isso soa muito inocente agora porque... mas, eu acho que meu próprio senso, que acontece no filme, um jovem Ender Wiggin, em algum momento, começa a questionar as figuras de autoridade que o estão treinando, e eu acho que esse é aquele momento na vida de quase todos os jovens em que eles deixam de ser crianças e se tornam homens ou mulheres, quando começamos a pensar por nós mesmos, e questionar, e fazer nossas próprias escolhas e não estão pensando somente em agradar pais ou adultos mas começam a se responsabilizar pelas próprias escolhas então o filme toca nesses assuntos, mas claro que numa ficção científica e, espero, que seja num contexto excitante.

Legal, muito obrigado.

GH: Muito obrigado, obrigado.

 


Ender's Game - O Jogo do Exterminador estreia dia 20 de dezembro nos cinemas

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