Knight of Cups é mais um filme do americano Terrence Malick em que a linguagem cinematográfica é levada à perfeição estética. Com uma narrativa nada convencional e imagens estonteantes, Malick reúne um elenco de estrelas - Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman, Antonio Banderas, Wes Bentley - e foge da natureza que se tornou sinônimo de seu cinema em filmes como Cinzas do Paraíso, Além da Linha Vermelha e O Novo Mundo.
O novo longa leva a fotografia magistral de Emmanuel Lubezki aos palácios de aço e vidro de Los Angeles, ao neon das boates e às praias no fim do verão sempre intercaladas com rodovias que não acabam e túneis interligados por onde Rick (Bale) passa sem nunca aparentemente chegar a lugar algum. Na trama, Rick sofre de um desespero existencial profundo, porém prolixo. A natureza da insatisfação do herói - rico homem de Hollywood que passa boa parte do filme desfrutando da dolce vita indo a festas, seduzindo e desfilando com belas mulheres - é tão vaga que, não fossem os offs do personagem fazendo afirmações contundentes "passei 30 anos da minha vida sem vivê-la, apenas arruinando-a", talvez o espectador não fosse capaz de identificar tamanha infelicidade.
O título, numa referência à carta do Valete de Copas, que representa o romantismo no tarô, já indica a aura de misticismo que envolve Knight of Cups, mas não explica para onde o filme quer ir, dividido em capítulos, todos com nomes de arcanos do jogo, como a torre, o eremita, o enforcado. Em cada um deles, conhecemos novas partes e novos personagens na vida de um Rick que vaga por Los Angeles atrás de sentido: a ex-mulher (Blachet), o irmão (Wes Bentley), o pai (Brian Dennehy), a amante casada (Natalie Portman).
Os momentos mais memoráveis do filme são as longas cenas em que Malick apresenta uma Los Angeles que mais parece tirada de um sonho. O ambiente quase onírico contrasta e parece contribuir para o cansaço existencial do protagonista. Em um filme que pretende captar a essência da cidade, como Portman descreveu na coletiva no Festival de Berlim, onde o longa teve a sua premiére mundial, comentários sociais sobre a futilidade e a efemeridade são ouvidos apenas nas cenas protagonizadas por Banderas em uma festa cheia de gente rica e bonita um tanto quanto entediada.
Na sua estreia em Berlim, no último domingo, o filme dividiu opiniões. Ao fim da sessão, alguns corajosos bradavam "bravo", a maior parte dos jornalistas apenas bocejava ou parecia ainda tonta depois de uma sessão de hipnose. Talvez essa tontura que tenha garantido uma das coletivas mais peculiares até o momento. Duas vezes perguntas foram dirigidas ao ausente diretor, conhecido por ser recluso e não frequentar os eventos de divulgação dos seus longas, causando primeiro constrangimento na equipe e, depois, virando motivo de piada.
Genial ou apenas uma colagem de belíssimas imagens, o certo é que, se você está preparado para aceitar o estilo de narrativa nada linear de Malick, este pode ser um filme muito interessante de assistir. Knight of Cups é uma obra experimental que busca ser uma meditação sobre o amor, a perda e a identidade, mas faz isso como um mistério sem explicação ou solução, como o próprio Bale descreveu na coletiva: "Ele [Malick] não nos disse sobre o que é o filme. Ele realmente só me deu a descrição do personagem. Eu nunca tive falas para decorar. Eu nunca soube o que eu ia ter para fazer durante as filmagens. Malick gosta de chamar esse processo de ‘torpedeamento’, para captar reações reais. Ele sempre dizia: 'Vamos ver o que acontece'".
Knight of Cups estreia em dezembro nos EUA e, por enquanto, não tem previsão de lançamento no Brasil.
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