Para Marcelo Caetano, diretor de Corpo Elétrico e do novo Baby, exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024, cenas de sexo no cinema precisam “começar com o personagem de um jeito e terminar com o personagem de outro”. Em entrevista ao Omelete, Caetano falou da sexualidade em seus filmes e do momento de puritanismo que enxerga no cinema comercial americano.
“A cena de sexo tem que mover alguma coisa narrativamente, porque o olhar puramente voyeurístico não me interessa como cineasta. Tem que ser transformativa, te levar de um lugar para o outro”, comentou. “E eu entendo que a discussão sobre as 'cenas de sexo desnecessárias' exista neste momento, porque também sou espectador do cinema americano, e sei que é raro encontrar o sexo hoje em dia nesses filmes. Quando tem, é nos filmes que são meio doidos, meio que chutando o pau da barraca - o que é válido, o escândalo é sempre bom. Mas o fato é que estamos numa onda bastante puritana, levantada por esses filmes, mas para mim a sexualidade é o alimento essencial da vida”.
No caso de Baby, inclusive, o mote da trama exigia que a sexualidade fosse um fato do filme - afinal, o longa acompanha as vidas de dois garotos de programa em São Paulo. “Não tem como não mostrar. O que tem que ter é sabedoria em como mostrar”, disse Caetano. “É muito importante para mim ter colaboração com o elenco nessas horas, escrever direitinho tudo o que a gente vai fazer, como vai fazer, como vai filmar. É uma coreografia”.
O ator Ricardo Teodoro, que interpreta um desses garotos de programa, Ronaldo, falou ao Omelete sobre o esforço de Baby em não julgar a atividade profissional do personagem. No início da trama, Ronaldo conhece o protagonista Baby (João Pedro Mariano), recém-saído da Fundação Casa, o acolhe em sua casa e o ensina os truques da profissão.
“As pessoas podem achar ruim o Ronaldo trazer o Baby para o mundo do garoto de programa - mas e se ele fosse um marceneiro, que viu o garoto ali, sem dinheiro para comer um pastel que fosse, sem ter onde morar, e levasse ele para casa, para trabalhar na sua oficina? Seria diferente?”, questionou. “O que o Ronaldo sabe fazer, o que ele tem para fazer, é se prostituir, é o trabalho dele. O gesto de acolher o Baby e ensiná-lo a sobreviver com esse trabalho é bonito, cara! Não dá para moralizar essa ou aquela profissão, porque todo mundo tem família, tem que comer, tem que morar... a vida é pesada, ela demanda as coisas”.
O Festival de Cannes 2024 acontece entre 14 e 25 de maio, exibindo filmes aguardados como Furiosa: Uma Saga Mad Max e Megalopolis, de Francis Ford Coppola, entre muitos outros. Fique de olho no Omelete para a cobertura completa.