Numa das primeiras cenas de The Whale, Charlie (Brendan Fraser) está dando aulas online, mas sua câmera está desligada. Ele conhece bem os olhares de horror que seu corpo provoca nos outros. Não importa que sua voz seja daquelas que dão conforto. Não importa que ele seja um bom professor. Nem mesmo que ele seja generoso e sempre veja o lado bom das pessoas.
Em seu nível mais básico, o filme de Darren Aronofsky, em competição no 79º Festival de Veneza, é aquela velha história de não se julgar o livro pela capa.
Charlie nem sempre teve seus cerca de 270 quilos atuais. Mas ele passou por um trauma tão grande que encontrou conforto na comida. Agora, sua saúde está em perigo. Sua única ajuda vem da amiga Liz (Hong Chau), enfermeira que lhe traz comida e checa sua pressão. O que o acalma é um ensaio escrito por alguém sobre Moby Dick, um dos maiores romances americanos, de autoria de Herman Meville, sobre um homem obcecado pela vingança contra uma baleia-branca.
Mas Charlie também sente uma enorme culpa. Não à toa, a palavra que mais sai de sua boca é “desculpe”. Temendo por sua vida, ele tenta se reaproximar de sua filha, Ellie (Sadie Sink), que abandonou nove anos atrás, quando ela tinha 8. Charlie deixou Ellie e a mãe dela, Mary (Samantha Morton), por ter se apaixonado. A adolescente é insuportável. Mas Charlie não acha. Para ele, a filha é maravilhosa.
Também passa por sua casa Thomas (Ty Simpkins), missionário de uma igreja que acredita na salvação de poucos quando Deus destruir o mundo. Ele toma para si a missão de salvar Charlie.
The Whale (a baleia, na tradução livre) diz como o preconceito e a intolerância oprimem, traumatizam e até matam. Mas, também, como há pessoas que acreditam na bondade, generosidade, beleza dos seres humanos.
A origem teatral do filme fica bem evidente. Mas Aronofsky conta com as boas atuações de Chau, Sink e, principalmente, de Brendan Fraser, que só deixa de ganhar o Oscar se algo der muito errado.
Aronofsky, que costuma ser barroco e gostar de firulas visuais, como mostrou em Cisne Negro e Mãe!, entre outros, aparece mais sóbrio, principalmente no trabalho de câmera. Não se trata, porém, de um cineasta sutil. Ele quer fazer você chorar. E, provavelmente, vai conseguir.