Priscilla mostra lado B de Elvis e traz paralelos com Maria Antonieta

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Priscilla mostra lado B de Elvis e traz paralelos com Maria Antonieta

Filme foi exibido no 80º Festival de Veneza

Omelete
3 min de leitura
04.09.2023, às 17H01.

Sabemos bastante sobre Elvis Presley, mas quase nada sobre Priscilla Presley. Com Priscilla, exibido em competição no 80º Festival de Veneza, Sofia Coppola fala do relacionamento dos dois sob o ponto de vista dela. “Eu me imaginei na sua história e quis fazer essa jornada com ela”, explicou a diretora na coletiva de imprensa após a sessão para jornalistas. “O que gosto nos filmes é poder participar de uma história que não é a sua.”

Cailee Spaeny (Mare of Easttown) interpreta Priscilla dos 14 anos, idade em que conhece Elvis Presley quando o cantor servia o Exército, na Alemanha, até os 29, quando ela decide se separar dele. E Jacob Elordi faz Elvis. “Ele tem carisma, sabia que podia ser um ídolo das adolescentes. Aqui, não temos o Elvis performer, era preciso alguém que mostrasse sua sensibilidade e vulnerabilidade”, disse a diretora. Elordi afirmou que não teve medo. “Não foi muito estressante, eu tenho sorte de trabalhar com a Sofia Coppola. Como ator, você quer o desafio.”

Há uma proximidade entre o novo filme e Maria Antonieta (2006). Ambos falam de uma jovem garota transplantada de outro país para um palácio que, na verdade, é uma gaiola de ouro – da Áustria para Versalhes no caso da rainha da França, e da Alemanha, para onde seu pai tinha sido transferido, para Graceland, em Memphis, no caso de Priscilla Beaulieu, depois Presley.

A maior diferença está na escala. Maria Antonieta era barroco, com os limites do estilo discreto da diretora, e até mesmo os espaços mais íntimos, como os quartos, eram grandiosos. Em Priscilla, mesmo a mansão que é Graceland parece pequena e opressora. 

Sofia Coppola é especialista em falar de adolescentes ou jovens mulheres, especialmente de suas trajetórias de amadurecimento. “Não sei por que gosto desse tema. Sempre fui interessada pela busca da identidade. Talvez porque minha mãe tenha passado por essa expectativa de que bastava ter um marido bem-sucedido, uma casa bonita e filhos para ser feliz”, disse Coppola referindo-se a sua mãe, Eleanor, e seu pai, Francis Ford. 

Como é de seu estilo, a abordagem de Sofia Coppola é delicada, mesmo ao mostrar o lado B e machista de Elvis, querendo que Priscilla fosse um bibelô com visual definido por ele e impedindo-a de trabalhar, e mostrando as alterações bruscas de humor, além das fortes medicações com pílulas para dormir e acordar, que terminariam sendo responsáveis por sua derrocada física. Ela também é uma cineasta de hoje e deixa claro a complicação que é ter uma adolescente de 14 anos se relacionando com um homem mais velho. Mas ela não está nem um pouco interessada em demonizá-lo. Mesmo assim, o patrimônio de Elvis Presley não deixou que ela usasse nenhuma música cantada por ele. 

Priscilla Presley, que não se sentou à mesa da coletiva, mas estava na plateia, acabou falando sobre o relacionamento. “Foi muito difícil para meus pais entenderem por que o Elvis Presley tinha interesse em mim. Mas eu acho que era uma boa ouvinte. Ele falava de seus sentimentos, medos, esperanças, da perda da sua mãe, que ele sentiu muito. Muita gente achava que era sexo, mas ele foi generoso, suave, amoroso e respeitava o fato de eu ter 14 anos. Nossa conexão era na mente e no pensamento. Não sei por que ele confiava tanto em mim. Talvez por eu nunca ter dito para ninguém que ele estava saindo comigo. E eu deixei o casamento não por ter deixado de amá-lo, porque ele foi o amor da minha vida, mas por causa do seu estilo de vida.”

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