A noite de Lua cheia casou bem com a abertura da Première Brasil, selecão competitiva de filmes nacionais do Festival do Rio iniciada na sexta. Um dos longas-metragens brasileiros mais esperados do ano, ganhador do Grande Prêmio do Juri no Festival de Locarno, na Suíça, o thriller de horror As Boas Maneiras uivou alto na briga pelo troféu Redentor com uma narrativa tensa sobre um bebê lobisomem.
O desempenho da atriz Isabél Zuaa no filme dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra é de igual assombro. Na trama, ela é Clara, aspirante a babá que trava uma relação sexual com sua patroa (Marjorie Estiano), grávida e pronta para ter seu neném sozinha, sem o pai. Mas a tal criança carrega com ela a maldição da licantropia, cujo tom sombrio é explorado com brilhantismo na fotografia do português Rui Poças. A qualidade dos efeitos especias - sobretudo na caracterização da criatura - saltou aos olhos na sessão.
"Se em Trabalhar Cansa a gente usava uma luz mais dura na fotografia, aqui a luz caminha mais para a magia", diz Dutra ao Omelete, referindo-se ao longa de estreia que ele fez com Rojas, lançado em Cannes há seis anos. As Boas Maneiras fez muito queixo cair, mas não foi uma unanimidade na recepção popular. Houve gente chiando contra a estrutura do roteiro, dividido entre uma primeira parte muito sensual (com beijos e amassos entre as duas protagonistas) porém mais racional e uma segunda parte mais fabular, com sangue e tensão.
Tão discutido quanto As Boas Maneiras foi o curta Tailor, uma animação feita por uma equipe de profissionais transgêneros que discute identidade. Há depoimentos comoventes delineados por traços de um colorido vívido.
Neste sábado, a Première Brasil acolhe, em concurso, dois longas de ficção: Praça Paris, de Lucia Murat, e Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor. Neste domingo, o Festival do Rio passa um de seus filmes mais esperados: Zama, da argentina Lucrecia Martel, com Matheus Nachtergaele em seu elenco.