30 Dias de Noite (30 Days of Night, 2007) quase se chamou 30 Dias de Escuridão aqui no Brasil. E quer saber? Este título, apesar de rejeitar as raízes da HQ escrita por Steve Niles com arte de Ben Templesmith, seria bastante apropriado ao filme. Além de ser mais direto em relação à escuridão que toma conta do cenário, representaria muito bem a evolução pela qual a história passou ao ser adaptada para as telas.
Para quem não leu ainda os ótimos quadrinhos criados pela dupla, 30 Dias de Noite conta a história de Barrow, um vilarejo no Alasca que fica imerso em puro breu durante o mês mais brutal do inverno. A população quase que total da cidade resolve sair dali durante estes dias, migrando para algum lugar menos deprimente e congelado. Os que ignoram o último avião a sair dali nada podem fazer a não ser uma contagem regressiva até a volta do sol e da vida.
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Este é o cenário cotidiano de Barrow, que já se acostumou a tudo isso e sabe bem como sobreviver. Algo muda, porém, quando um forasteiro chega à cidade. Ele vem e anuncia que o fim está próximo. Pouco a pouco vão caindo a energia, os telefones, a Internet e todo tipo de comunicação com o mundo exterior. Incomunicável e sem sinal do sol pelos próximos 30 dias, Barrow se torna o lugar ideal para um grupo de vampiros fazer a festa e se embebedar nas jugulares daqueles que ficaram para trás.
A bênção de Sam Raimi
Pense bem, todos sabem que vampiros não podem com a luz do sol. E qualquer um com o conhecimento mínimo de geografia já ouviu dizer que os pólos passam por dias sem fim durante o verão e de noite eterna no inverno. A idéia de juntar as duas coisas era óbvia, mas coube à afiada caneta de Niles colocá-las no mesmo ambiente e ainda acrescentar tempero com seus diálogos sacanas. Ao ler a graphic novel, Sam Raimi, cineasta das séries Evil Dead e Homem-Aranha, adorou a idéia e por um tempo até cogitou dirigi-la, mas acabou pulando para a cadeira de produtor, deixando o megafone nas mãos de Dave Slade. Vindo dos videoclipes e com apenas um longa-metragem no currículo (Menina Má.com), o britânico mostra mais uma vez que está jogando sério.
Claro que ajuda muito ter o próprio Steve Niles entre os roteiristas (ao lado de Stuart Beattie e Brian Nelson). Assim, dá para explicar melhor algumas idéias que ficam jogadas na HQ e não há problemas quando é sabiamente descartado no cinema o subplot dos caçadores de vampiro que vêm de Nova Orleans. Sobra, assim, mais tempo para desenvolver o drama da cidade e dos personagens, incluindo aí o casal de protagonistas (Josh Hartnett e Melissa George), que na HQ era muito apaixonado, mas na tela está se separando - o que é, na verdade, um truque para potencializar o final.
Mas mesmo com os sustos, a boa maquiagem que lembra a arte de Templesmith, e a agilidade da câmera e da montagem, uma coisa não ficou boa: a passagem de tempo. Nas duas horas de duração do filme, fala-se poucas vezes quanto ainda falta até que aquele pesadelo termine. A boa notícia é que o modesto orçamento do filme, 31 milhões de dólares, foi recuperado nas bilheterias dos Estados Unidos. Com o que pode faturar no resto do mundo e vendas de DVD e para a televisão, é de se esperar que as continuações da história também sejam filmadas e estes pequenos detalhes resolvidos.