Depois de semanas de polêmica, A Serbian Film - Terror sem Limites está estreando em Maceió, na única sala de cinema do país que aceitou passar o filme de Srdjan Spasojevic. É a versão integral, de 104 minutos, que já havia sido exibida sem maior comoção em festivais em Porto Alegre e São Luís e que, depois da proibição no Rio de Janeiro, transformou-se em caso de polícia.
a serbian film
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Antes de mais nada, basta assistir ao terror extremo - sobre um ator pornô aposentado que volta à ativa ao receber uma misteriosa proposta milionária - para constatar que A Serbian Film não faz apologia à pedofilia (motivo da celeuma judicial). Na verdade, todo tipo de sexo, na visão do filme, é um desvio de comportamento, uma forma de perversão.
Não é raro que o terror extremo adote o niilismo como discurso - é um subgênero que esvazia os significados do choque para permitir, justamente, que as cenas mais chocantes sejam mostradas. Embora seja niilista até o limite do caricato, A Serbian Film não é, em teoria, uma provocação oca. A começar pelo título, Spasojevic insinua uma crítica à desumanização da Sérvia pós-Milosevic, em que toda interação é ditada pelo comércio e por relações de poder, e dentro dessa proposta o filme tem seus momentos.
Os melhores são aqueles que não se entregam (demais) à gratuidade e que envolvem a falência de relações já construídas, particularmente a do irmão que cobiça a cunhada. Como em tantas ex-repúblicas socialistas onde a fachada do comunismo escondia um regime de exclusão, é inevitável que os poucos vencedores de um capitalismo pessoal - não há iniciativa privada mais seminal do que negociar o próprio corpo, como o ator pornô - sejam vistos com inveja. Não por acaso o irmão faz um policial corrupto; é a representação da ruína do Estado.
O niilismo tem seu encanto, enfim, mas a desconstrução das relações que está no centro de A Serbian Film não funciona sempre. Tem muito de moralista o modo como o filme trabalha com a figura do ator pornô e, à medida em que a escatologia aperta, Spasojevic perde o foco. O principal erro é submeter o protagonista a uma solução deus ex machina (o tal do viagra bovino, que tira a consciência do personagem, destrói todo o processo de corrupção consciente a que ele vinha sendo submetido aos poucos), e daí pra frente é ladeira abaixo.
No fim, submisso ao impacto, depois de toda a carnificina e no auge da descrença, A Serbian Film se revela: é um filme que não faz a apologia de nada.
Ano: 2010
País: Sérvia
Classificação: 18 anos
Duração: 104 min
Direção: Srđan Spasojević
Elenco: Srđan Todorović, Sergej Trifunović, Jelena Gavrilović, Slobodan Bestic, Katarina Žutić, Andjela Nenadovic, Ana Sakić, Lidija Pletl, Lena Bogdanović, Luka Mijatovic, Nenad Herakovic, Carni Djeric, Miodrag Krcmarik, Tanja Divnic, Marina Savic, Natasa Miljus