Quando as famosas "diferenças criativas" afastaram Joe Carnahan de Missão: Impossível III, a desconfiança maior caía sobre os ombros de Tom Cruise, que estava deixando passar a chance de trabalhar com um promissor diretor cheio de energia e vontade de contar histórias. O filme seguiu em frente com o não menos talentoso J.J.Abrams e recolheu boas críticas e dinheiro para os cofres das produtoras envolvidas. Restava então saber o que Carnahan, a mente por trás do cultuado policial independente Narc, estava tramando. O resultado se chama A Última Cartada (Smokin' Aces, 2007).
Cheio de estilo na forma de escrever e filmar, Carnahan pode fazer alguns marmanjos ficarem babando com o excessivo número de armas, balas, sangue e, eventualmente, mulheres que brotam na tela. Porém toda a abundância estética não é suficiente para esconder a falta de conteúdo.
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A impressão que se tem é que a fama que conseguiu depois de sua passagem pelo Festival de Sundance em 2002 - quando Narc foi exibido pela primeira vez -, lhe subiu à cabeça e ainda serviu para cegar instantaneamente alguns nomes conhecidos de Hollywood, como Ben Affleck, Andy Garcia, Ray Liotta e a estreante Alicia Keys, entre outros, que integram o elencam de A Última Cartada.
O roteiro é abertamente inspirado na lenda de que Frank Sinatra pertenceu à máfia italiana. No caso do filme, Buddy "Aces" Israel (Jeremy Piven) é um mágico que decide tentar a sorte pelo submundo do crime organizado. Eleito nos últimos cinco anos o maior entertainer de Las Vegas, Aces tem uma enorme vontade de injetar um pouco de aventura no seu dia-a-dia, além de uma gigantesca ganância. Consegue, mas não aguenta o tranco. Quando estamos prestes a conhecê-lo, o atual chefe da Cosa Nostra, Primo Sparazza (Joseph Ruskin), está disposto a pagar 1 milhão de dólares pelo coração do traidor.
A notícia logo se espalha e em pouco tempo os mais diversos tipos de assassinos se juntam em Lake Tahoe, no estado de Nevada, para dar cabo do trabalho. Péssima notícia para os dois agentes enviados para levar Aces ao escritório do FBI, onde ele testemunharia em troca da sua entrada no programa de proteção à testemunha.
Continuando os trocadilhos com baralho que marcam os títulos original e brasileiro do filme, o grande número de personagens acaba sendo um mico na mão do diretor. Carnahan não consegue criar a mínima empatia necessária para que o público se interesse por qualquer dos personagens, o que acaba sendo fatal no desfecho cheio de reviravoltas, mas nada surpreendente. Seu enorme quebra-cabeças, que prometia algo inovador com todas aquelas pecinhas bonitas, acaba se mostrando bastante sem graça. Apenas mais uma cópia mal acabada de um legítimo Tarantino ou Soderbergh.