Evan Baxter (Steve Carell) não era um âncora de telejornal muito sortudo em Todo Poderoso. Então, agora, na continuação da comédia de 2003, ele decide largar o jornalismo e virar político. Recém-eleito deputado, Evan parafraseia o Tio Ben logo de cara: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades".
A Volta do Todo Poderoso (Evan Almighty, 2007) é um filme cheio de problemas, mas o principal está justamente sintetizado nessa citação. Se Jim Carrey aproveitou o quanto pôde os poderes que Deus lhe deu no primeiro filme, Steve Carell ficou só com as responsabilidades. Comédia que não faz rir (eu pelo menos espero algo além de martelada no dedo e cocô de pombo), A Volta do Todo Poderoso ainda se mostra um chatíssimo filme-de-mensagem.
evan almighty
Essa mensagem o começo do filme nos empurra sem a menor sutileza. Evan e a família estão se mudando para um condomínio construído onde era um vale verdejante nos arredores de Washington. A sua nova posição não pede apenas um casarão ostensivo, como também um Hummer, jipe "poluente". Evan não gosta de animais e enxota um cão que chega junto dos filhos. O marceneiro pergunta se Evan quer fazer os armários da cozinha com uma madeira normal ou com cerejeira brasileira, árvore em perigo de extinção - nem precisa dizer qual o "político insensível" escolhe.
Quando Deus pregar uma lição em Evan, passando-lhe a missão de construir uma nova arca dos animais, também já dá pra antever o final: o deputado vai aprender a ser eco-friendly, a ser amigo dos cães, etc. Nada contra conscientização ambiental, moral, política, religiosa - mas se o diretor Tom Shadyak queria passar uma mensagem, que se contentasse em escrever uma corrente por e-mail.
A Volta do Todo Poderoso pode até funcionar num contexto estadunidense, com o país ainda engasgado pela omissão do governo Bush no desastre do furação Katrina. Não é por acaso que um dilúvio bíblico se avizinha na história do político Evan Baxter - a analogia com a vida real é mais do que evidente. O problema é de ordem prática: não vá ao cinema esperando uma comédia descompromissada como aquela estrelada por Jim Carrey, porque você vai acabar atropelado pelo rolo-compressor do politicamente correto.
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