Assistir a Amizade Desfeita é uma experiência diferente. O primeiro impulso é descreditar a estética simplória do filme de Levian Gabriadze. A baixa resolução e o caráter amador de todas as imagens ajudam nesta impressão, mas aos poucos tudo muda. A leveza com o que filme leva o convívio cibernético de seis amigos mostra o quão ligados estamos com o ambiente online. E por mais irreal que este cenário seja, ele é um dos mais factíveis para a sociedade atual, o que torna Amizade uma história de terror tão impactante quanto familiar.
Toda a trama é contada a partir da tela do computador de Blaire (Shelley Hennig), um dos seis adolescentes envolvidos na morte de outra jovem, Laura Barns (Heather Sossaman). Ao longo de pouco mais de uma hora, o grupo é assombrado por um usuário que jura ser Laura, companheira de escola e vítima de bullying de garotos e garotas. Ameaças, revelações e brincadeiras macabras permeiam o bate-papo em vídeo que é escrito sem exagero de gírias ou trejeitos. O sexteto age de forma natural e até reconhecível para quem usa/vive em chats.
O roteiro é simples, cheio de clichês do gênero de suspense e estereótipos de jovens estudantes americanos vistos em Hollywood. A partir deste formato, porém, Amizade consegue se esquivar das resoluções fáceis e acha em sua estética inovadora uma maneira de mexer com o espectador. Ao invés de questionar quem está por trás da porta ou escondidos nas sombras, o filme nos faz questionar de onde veio aquele vírus, como aquele hack aconteceu. Tudo de maneira natural e sem explicações longas, afinal, tudo está na tela.
Gabriadze conseguiu um feito com Amizade Desfeita que vai além do visual e do horror adolescente. Ele soa como um exercício estético e narrativo que aproveita o isolamento de uma geração para explorar medos dentro de uma ambiente online, onde o anonimato permite covardias nunca questionadas. E além de um alerta para o cyberbullying, o filme é uma representação do voyeurismo atual, representado pela pouca, ou nenhuma, privacidade concedida pela internet. No fundo, todos são bisbilhotados e bisbilhoteiros.
Ano: 2015
País: EUA
Duração: 83 minutos min