Cerca de um ano e meio depois de conquistar o Troféu Redentor de Melhor Documentário no Festival do Rio 2016, o bem-humorado ensaio sobre rivalidades A Luta do Século, do baiano Sergio Machado, enfim chega às telas nacionais. A partir desta quinta-feira é possível conferir os bastidores do ódio (mas com respeito velado) entre dois pugilistas do Nordeste: o pernambucano Luciano "Todo Duro" Torres e Reginaldo "Hollyfield" Andrade, da Bahia. As brigas entre os dois iam (e ainda vão) além dos ringues, rendendo trocas de bordoadas nas entrevistas que ambos concedem à TV. A produção é do ator Lázaro Ramos, que sonhava viver Hollyfield nos cinemas.
"Queríamos fazer uma ficção sobre eles, comigo de Hollyfield e Wagner Moura de Todo Duro, mas aí a gente foi fazer uma pesquisa e percebemos que esses dois são tão reveladores do esporte nacional e da luta pela sobrevivência do atleta brasileiro que deveriam ter sua história retratada em um documentário", diz Lázaro Ramos. "Achei que seria um documentário biográfico, mas não... é um mapa de relações, de traços brasileiros únicos. Esses boxeadores falam no humor, no amor e no boxe".
Realizador do cult Cidade Baixa, aclamado em Cannes em 2005, Machado esboçou A Luta do Século como uma mistura de imagens de arquivo e do registro de um derradeiro combate entre os dois, pontuando o documentário com uma reflexão sobre a pobreza. "Enxergo na rotina deles dois a inexorabilidade: são dois camaradas que lutam para vencer mas esbarram numa espécie de ímã social que joga os dois para baixo. Eles são carismáticos, bons de briga, mas não cruzam a fronteira das dificuldades econômicas nas quais foram criados", explica o cineasta, que prepara para o canal Space a série Irmãos Freitas, sobre o boxeador Popó. "Esse filme diz muito sobre como o Brasil trata seus ídolos, seus negros, seus nordestinos".
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