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Berlinale | Yardie, dirigido por Idris Elba, é o filme mais aplaudido do festival alemão

Ausência do astro de Torre Negra no evento frustrou a plateia, capturada por uma narrativa que evoca Cidade de Deus

17.02.2018, às 09H39.
Atualizada em 17.02.2018, ÀS 15H08

Por ocupar diferentes espaços de exibição na capital alemã, abrindo sua população ao público com ingressos que custam de € 8 a € 15, dependendo da sala da projeção, a 68ª Berlinale já conseguiu, em apenas dois dias, apresentar 20 novos filmes a seus frequentadores, sendo que nenhum foi ovacionado ainda. O que chegou mais perto disso foi Yardie, dirigido por Idris Elba. Longa-metragem de estreia do ator britânico de descendência africana (seu pai é de Serra Leoa; a mãe, de Gana) na direção, o thriller policial decalcado de um romance de Victor Headley eletrizou uma multidão que lotou a sala Cine Star, no shopping a céu aberto Sony Center, a fim de bater um papo com o astro da série Luther ao fim da sessão. Porém, a vinda de Elba – que, aos 45 anos, tentou a sorte como protagonista em Hollywood, em 2017, em dois filmes de mirrada bilheteria: A Torre Negra e Depois Daquela Montanha – ficou para a próxima quinta-feira, o que frustrou os espectadores. A notícia de que ele não pôde chegar hoje gerou um lamento generalizado, num “Ahhhhh!!!!” gritado quase em coro.

Alex Bailey/Imdb/divulgação

Exibido antes em Sundance, Yardie gravita entre a Jamaica de 1973 e os submundos da Londres de 1983, conforme acompanha o processo de amadurecimento de D. (Aml Ameen), um traficante que busca no crime meios de se vingar da morte de seu irmão. Como ele atrapalha a cerimônia religiosa de adeus ao espírito do morto, o fantasma de seu irmão mais velho vai segui-lo pelas confusões que ele se mete com um chefão do tráfico na Inglaterra e com sua namorada, hoje uma cristã fervorosa. No terço jamaicano, o filme evoca a estética de Cidade de Deus (2002), cult no Reino Unido.

Minutos antes de exibir Yardie, a Berlinale acolheu a cineasta espanhola Isabel Coixet, que angariou uma legião de fãs por aqui, fora da disputa pelo Urso de Ouro, com o drama de traços românticos The Bookshop. Amiga do festival há anos, tendo aberto a edição de 2015 com Ninguém Deseja a Noite, a cineasta catalã aposta na literatura – e no carisma de Emily Mortimer e Bill Nighy – neste ensaio sobre resistências. Emily é Florence Green, uma viúva que encara a ala mais conservadora da zona costeira da Inglaterra, no fim dos anos 1950, para manter aberta uma livraria capaz de vender romances polêmicos como Lolita, de Vladimir Nabokov. Nighy interpreta Bundish, um ancião recluso e rico, que vai se tornar o cliente mais fiel da loja – e algo mais. Porém uma dondoca da alta sociedade do local (interpretada por Patricia Clarkson) será uma pedra no meio do caminho dos sonhos bifliófilos deste quase casal.     

“Abordei a realidade de casais intergeracionais em um filme que fiz há dez anos, também com Patricia, chamado Fatal, e aprendi com ele o quanto esse tema ainda causa estranheza e fascínio. Mas quando você encontra duas almas pautadas pela simplicidade, como as de Florence e Bundish, elas precisam se cruzar de algum modo”, disse Isabel ao Omelete. “A simplicidade é um dom muito complexo, assim como é complexo ser uma pessoa boa. Este filme é sobre isso: a arte de ser simples e bom”.   

Dos concorrentes ao Urso de Ouro projetados até o momento, Las Herderas, do estreante paraguaio Marcelo Martinessi, rodado em coprodução com o Brasil (com o apoio da cineasta carioca Julia Murat), foi o que mais (e melhor) destacou-se entre os críticos. Conciso (95 minutos) e requintado em seus enquadramentos, o filme, de tônica LGBT, acompanha uma mudança na vida de Chela (Ana Brun) depois que sua companheira de toda uma vida, Chiquita (Margarita Irún), vai presa sob a acusação de ter cometido uma fraude bancária. Neste sábado, o concorrente mais esperado é Dovlatov, da Rússia, dirigido por Alexei German Jr., centrado no panorama político e literário da União Soviética dos anos 1970, a partir da obra do escritor Sergei Dovlátov (1941-1990), autor de Parque Cultural (1983) e A Mala (1986). 

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