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Capitão América: Guerra Civil e o início da saga de Pantera Negra no cinema

Apresentação de T'Challa cria terreno para o primeiro grande filme estrelado por um super-herói negro; cuidado com possíveis spoilers no texto

18.04.2016, às 18H10.
Atualizada em 24.01.2019, ÀS 11H54

Primeiro super-herói negro a aparecer nos quadrinhos de grande circulação, Pantera Negra é um marco da cultura pop. Sua estreia na Fantastic Four #52, em julho de 1966, comprovava a capacidade das HQs de refletir a situação social, captando o debate do Movimento pelos Direitos Civis nos EUA. Quase 50 anos depois, é chegada a hora do personagem servir a outra questão: a da diversidade e representatividade no cinema.

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Com um filme solo previsto para 2018, o personagem surge em Capitão América: Guerra Civil como uma das conexões entre o embate de heróis e o compromisso do longa em ser uma continuação de Soldado Invernal. Um contexto imaginado desde o início pelos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely: “A história de Bucky precisava de vítimas indignadas de outro lugar e, ao invés de pegar alguém desconhecido, por que não usar alguém do MCU?”. O plano original, porém, não previa que T'Challa já vestisse o seu uniforme, com o herói guardando a ação para o seu próprio filme. Foi a indecisão em relação ao acordo entre Sony e Marvel pelo uso de Homem-Aranha que mudou tudo. “Ele então se tornou uma parte tão integral da trama que quando o Aranha voltou, não o tiramos da história. Foi um problema que criou uma boa situação”.

Ainda assim, Markus e McFeely contam que não queriam entregar muito sobre Pantera Negra, limitando as possibilidades para o diretor Ryan Coogler (de Creed) e o roteirista Joe Robert Cole no filme solo. Para tanto, Guerra Civil estabelece em apenas algumas cenas o necessário para que o público se interesse por T'Challa, um herói, que como explica seu intérprete Chadwick Boseman, “é tanto um guerreiro, como um político, um legislador”. Tratado como o “homem misterioso” da trama pelos roteiristas, cada aparição do personagem é uma pista sobre o seu mundo, que promete misturar lenda e ciência como nos quadrinhos.

Além disso, o visual do herói cumpre o quesito de impressionar o espectador com uma figura “fodona”, na descrição do próprio Boseman. Pantera Negra se move com agilidade e consegue, dentro de um uniforme completamente fechado - que segundo Paul Bettany impedia o seu colega de elenco de respirar - mostrar a sua inteligência e engenhosidade para o combate. É um dos "poderes" do personagem, que tem uma origem bastante diferente dos nomes já apresentados pelo MCU. “Ele é a tradição do seu povo, mesmo que o resto do mundo não saiba sobre ele”, explica Boseman, “sua missão é proteger Wakanda acima de tudo e fazer jus a linhagem a que pertence. Ele luta para provar o seu valor”.  

Mais velho do que aparenta ser, Chadwick Boseman tem, aos 39 anos, a experiência necessária para cumprir com as expectativas em torno de T'Challa, dando uma personalidade forte ao guerreiro. O ator, que acumulava participações na TV até despontar em 42: A História de uma Lenda, não teve concorrentes para o papel. Kevin Feige, o presidente do Marvel Studios, conta que depois de ver o ator como Jackie Robinson, o primeiro jogador afro-americano a entrar para a liga principal de beisebol nos EUA, sabia quem daria vida a Pantera Negra. Em Guerra Civil, a única coisa entre Boseman e uma atuação perfeita é o forte sotaque dado ao seu personagem, tornando caricaturais algumas falas. Seguindo a trajetória de Feiticeira Escarlate entre Era de Ultron e Guerra Civil, porém, essa característica deve se tornar mais leve na sua próxima aparição.

O MCU vem se mostrando cada vez mais diverso nos seus elencos, principais e secundários - há quem questione a escalação de Tilda Swinton como Ancião em Doutor Estranho, por exemplo, mas a escolha parece muito mais ligada a dar complexidade a um personagem que transcende a realidade do que em tirar características étnicas de jogo. O estúdio também levou a trama dos filmes da sua segunda fase para outras fronteiras - buscando ampliar o seu mercado pela crescente importância das bilheterias internacionais no desempenho de grandes franquias. Mesmo que seu país não esteja representado na tela, o público gosta de ver que os EUA não são mais o centro do mundo. Questão que torna a introdução de Pantera Negra em Guerra Civil ainda mais interessante, casando perfeitamente com o debate sobre a jurisdição dos heróis (e de outras ações intervencionistas no mundo real). Uma demanda por variedade que já mostrou seu interesse nas “bancas”, com a nova HQ do guerreiro de Wakanda, a primeira em cinco anos, com 300 mil exemplares encomendados na sua pré-venda (leia mais).

As filmagens do longa solo começam em 2017 (saiba mais), com apenas Boseman e Andy Serkis (Garra Sônica) confirmados no elenco (que também deve contar com o Everett K. Ross de Martin Freeman). Coogler e Cole têm a missão de fazer o primeiro grande filme estrelado por um super-herói negro, já que Blade Spawn estão mais para o lado dos anti-heróis e Aço, o filme estrelado por Shaquille O'Neal sobre o personagem da DC, foi um fracasso de público e crítica. O seu marco na cultura pop, entretanto, pode ir além da representatividade. Integração é o próximo passo, com Pantera Negra sendo o nome para encerrar a discussão. Quando a diversidade existe, não é preciso debatê-la.

Saiba mais sobre o personagem antes de ver Guerra Civil:

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