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Cinderela | Da Frigideira

Madrasta de Cate Blanchett rouba a cena e introduz uma vilã femme fatale em vez de uma mera megera despropositada

17.02.2015, às 10H33.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Sem medo do kitsch e de grandes gestos, a nova versão da Disney para o clássico Cinderela teve sua estreia no Festival de Berlim 2015. Isso mais de meio século depois da estreia do original, em 1951, no mesmo festival. O filme de Kenneth Branagh não compete pelo urso de ouro, mas encantou a plateia com seu colorido propositalmente exagerado, decoração estonteante e figurinos absolutamente incríveis. É um filme para crianças que consegue satisfazer adultos, especialmente pela atuação de Cate Blanchett como a madrasta da Cinderela - ainda irritantemente boazinha e servil interpretada por Lily James.

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Blanchett é sem sombra de dúvida a melhor parte do lindíssimo romance açucarado. A madrasta é uma amargurada femme fatale e não uma mera megera despropositada. Tanto que boa parte do filme foca na diva vilã e sua sabedoria da vida real. A atriz foi o centro das atenções na coletiva em Berlim e fez piada com o fato de muitas pessoas, em um primeiro momento, terem achado que ela seria a protagonista da adaptação. "Sou muito velha para isso", disse Blanchett puxando os olhos com as mãos simulando uma plástica e arrancando gargalhadas da plateia.

Outro destaque do longa é a fada madrinha de Helena Bonham Carter. Sem nenhum resquício de sua despojada e conhecida aura gótica, ela dá toques de auto ironia e humor à famosa e imperdível sequência da transformação da heroína para o baile. Um sapato de vidro? Mas claro, é suuuuuper confortável.

Dado que a versão de Branagh dá alguns toques frescos ao clássico de Charles Perrault era de se esperar talvez um tantinho mais de coragem a órfã sonhadora, não? Não. O espírito Pollyanna do mantra "tenha coragem e seja gentil" é repetido à exaustão pela menina doce e ingênua. Não que precisasse transformar Ella em uma heroína progressiva, como a Elsa de Frozen, mas um pouquinho menos de pavor de ser vista pelo príncipe em seus trajes normais já teria sido um alívio.

Em defesa de Branagh, algumas importantes e sutis mudanças deixam o clássico menos datado. O encontro de Cinderela e seu príncipe encantado, encarnado por Richard Madden de Game of Thrones com uma maquiagem que o deixa plastificado como o Ken da Barbie, se dá em um passeio na floresta. Ella foge chorosa e desesperada após ser reduzida à escravidão pela madrasta e suas irmãs. No encontro improvável, ela repete ao bom moço seu mote sobre coragem e bondade (pela enésima vez) e pede para que ele poupe a vida de um animal. Parece pouco, mas já ajuda a botar os dois em uma posição mais de igual para igual em que o amor não é reduzido à única forma de resgate da pobre garotinha indefesa.

A nova versão de Cinderela não conta com os momentos mágicos de cantoria clássicos dos filmes da Disney. Ainda assim, o longa segue uma aventura familiar doce e cheia de magia que deve encantar crianças e adultos nos cinemas de todo mundo. Atual ou não, Branagh conseguiu refazer a animação em um filme com gente de carne e osso nostálgico, sonhador e de encher os olhos. Não vai substituir o clássico, mas é muito bem-sucedido em agradar ao grande público sedento por contos de fadas e finais felizes.

Cinderela estreia no Brasil em 2 de abril.

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