Filmes

Artigo

Festival de Berlim | Museu, filme mexicano com Gael García Bernal, vira sensação na reta final do evento

Com menção a Chaves, filme de Alonso Ruizpalacios trata sobre o roubo de obras de arte ameríndias

22.02.2018, às 13H20.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Gol do México nos minutos finais da Berlinale 2018: Museu, thriller com Gael García Bernal sobre um lendário roubo de obras de arte ameríndias, deixou o festival alemão de queixo caído com seu ritmo frenético e sua estrutura de roteiro avessa às cartilhas de filmes de assalto. Além de trazer a melhor interpretação do galã desde seu trabalho como Che Guevara em Diários de Motocicleta (2004), o longa-metragem dirigido por Alonso Ruizpalacios surpreende pelo teor de excentricidade com que pinta o vazio existencial da jovem classe média mexicana dos anos 1980. Há até uma divertida menção a Chaves, numa cena em que Bernal usa uma camiseta com a cara do mais ilustre inquilino do Sr. Barriga para embrulhar um artefato raro.

Detalle Films/Divulgação

"Eu era muito pequeno quando esse roubo ocorreu e mal tinha idade pra entender o que a palavra museu queria dizer", admitiu Bernal, que chegou quase no fim da coletiva de imprensa, em função do atraso de seu voo de Los Angeles. "Nunca sei explicar o método em que atuo, mas sei que quando Alonso me procurou, há algum tempo, eu fui tragado por essa história".

Apostando num fino registro de humor, o ator vive Juan, funcionário do Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México que, na noite de Natal de 1985, tem a ideia do roubo, arrastando o amigo Wilson (Leonardo Ortizgris) consigo. "A família dos ladrões não quis se envolver em nada com o filme, o que foi ótimo", disse Ruizpalacios. "Não ter o cerceamento dos reais personagens nos deu liberdade para criar situações".

O nome do astro de Babel (2006) e da série Mozart in the Jungle também aparece nos créditos de produção do longa-metragem, que traz a dramaturgia mais inusitada de todo o menu de concorrentes ao Urso de Ouro da 68ª edição da Berlinale. Fala-se muito de Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot, de Gus Van Sant (EUA), e de U-July 22, de Erik Poppe (Noruega), como favoritos ao prêmio principal. Mas Museu pode mudar tudo, por sua habilidade de driblar as expectativas do público a cada cena, com uma narrativa de múltiplas camadas, na qual se destaca ainda a presença do aclamado ator chileno Alfredo Castro (Tony Manero) como o pai de Bernal na trama.

Há a bem-humorada sequência do assalto, na qual Ruizpalacios, conhecido antes pelo longa Güeros, esbanja domínio de câmera. Há um debate sobre inquietações de classes sociais. Há uma discussão sobre o que vale mais: uma mentira saborosa ou uma verdade frustrante. E há uma celebração da cultura mexicana.

"O que menos importa ao filme é o roubo, a intriga, e sim os dilemas internos dos envolvidos", disse Ruizpalacios ao Omelete. "Nasci na classe média do México, filho de um médico. Não saberia como falar das favelas do meu país, mas tenho interesse em falar do mundo que conheço. O México é uma nação muito complexa e eu quero celebrá-la".

Faltam dois filmes para encerrar a seleta da mostra competitiva da Berlinale 2018, ambos agendados para esta sexta: Mug, de Malgorzata Szumowska (Polônia), e In The Aisles, de Thomas Stuber (Alemanha). A premiação acontece neste sábado (24), fechando o festival, cuja tônica do ano foi a aceitação de traumas, de culpas, de família separadas ou de erros, como é o caso do personagem de Bernal em Museu.

Fora da competição, o documentário musical Songwriter, do inglês Murray Cummings, promete sacudir Berlim nesta sexta-feira (23) com a vinda do cantor e compositor Ed Sheeran à cidade. O filme explora o processo criativo do músico, que fez participação como ator em Game of Thrones.

Da seleção brasileira projetada por aqui, Bixa Travesti, centrado em perfromances e ideias da cantora trans Linn da Quebrada, segue sendo o de maior boca a boca. Mas ele agora é seguido de perto pelo tratado político O Processo, de Maria Augusta Ramos, sobre o impeachment de Dilma Rousseff, que foi ovacionado em sua projeção. A montagem de Karen Akerman - para cerca de 400 horas de imagens dos julgamentos da presidenta impeachmada – é alvo de elogios de jornais e sites de todo o mundo.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.