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Festival de Cannes | Aquarius é aplaudido no evento, que aposta em Sonia Braga ao prêmio de melhor atriz

No tapete vermelho, o diretor Kleber Mendonça Filho e sua equipe fizeram protesto contra golpe

17.05.2016, às 12H35.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

De passagem pelo tapete vermelho do 69° Festival de Cannes com cartazes ostentando os dizeres “Golpe de Estado no Brasil!”, o diretor Kleber Mendonça Filho, seu elenco e sua equipe em Aquarius deram um recado político acerca da preservação da memória cultural e da moral brasileiras fora e dentro das telas, com um thriller sofisticadíssimo para o padrão narrativo do cinema brasileiro. A expressão mais usado por Cannes para definir o longa é: “Gol do Brasil!”. Recebido com gritos de “Já ganhou!” para Sônia Braga, a produção pernambucana foi um dos concorrentes que mais eriçaram ânimos e apostas para prêmios no evento, desde sua abertura, quarta-feira passada. Mesmo quem vinha fazendo torcida pela alemã Sandra Hüller (pela comedia Toni Erdmann) ou pela irlandesa Ruth Negga (por Loving), no quesito melhor atriz, agora crava o nome de Sônia como barbada. Se a estrela de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) - que foi jurada no festival, em 1986 – ganhar, ela vai repetir o feito de Fernanda Torres e Sandra Corveloni, ambas premiadas aqui, respectivamente, por Eu Sei Que Vou Te Amar (1986) e por Linha de Passe (2008).  

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“Fico impressionada ao pensar que não conhecia o Kléber pessoalmente até um ano atrás e que hoje estamos aqui com um projeto que nasceu da genialidade dele. Queria muito fazer um filme de silêncios”, disse a mais popular estrela do cinema nacional dos anos 1970 e 80, em uma entrevista nas escadarias acarpetadas do Palais de Festivals ao canais de TV da Europa, onde sua atuação à frente de 99% das cenas de Aquarius foi comparada ao trabalho de mitos como a italiana Anna Magnani, estrela de Roma, Cidade Aberta (1945).

Com uma estrutura narrativa que lembra a estética de realismo seco do cinema americano da década de 1970 – sobretudo o filme A Conversaçãoque rendeu a Palma dourada a Francis Ford Coppola em 1974), Aquarius explora o clima de paranoia em torno de Clara (Soônia), uma jornalista sexagenária cujo prédio está em negociação para ser vendido – o que não vai acontecer se depender da vontade dela. Num controle cirúrgico das ferramentas da tensão, Kléber ainda arranca de Humberto Carrão uma interpretação louvável, fazendo dele uma espécie de vilão muito discreto. Ele é o herdeiro da construtora que quer comprar o prédio de Clara, usando uma série de artimanhas nada legais para fazer com que ela saia. A peleja dela para ficar é narrada em paralelo a sua rotina afetiva, com seus filhos, seus netos, seus discos e seus ensaios amorosos. Tudo isso é embalado por uma trilha sonora que vai de Roberto Carlos Queen, passando por Alcione.

O êxito de Aquarius ocorreu num dia também alavancado pelo tocante Julieta, de Pedro Almodóvar. Mas o grande destaque da competição permanece sendo o americano Paterson, de Jim Jarmusch.

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