Filmes

Artigo

Festival de Cannes | Michael Fassbender fala sobre as diferenças de interpretar Shakespeare e seguir para X-Men

"Minha expectativa é alta, pois o clima está ainda mais animado do que nos outros filmes da série", disse o ator sobre Apocalipse

23.05.2015, às 22H30.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H48

Orgulhoso de ostentar novamente o capacete de Erik Lensherr, o Magneto, nas filmagens de X-Men: Apocalipse, no Canadá, Michael Fassbender tem um futuro de prêmios se anunciando em seu caminho, a começar pela láurea de melhor ator no 68° Festival de Cannes, por seu desempenho em Macbeth, de Justin Kurzel. Fala-se já em uma indicação ao Oscar para ele por seu desempenho no esperado Steve Jobs, de Danny Boyle. Mas a realidade de conquistas para este teuto-irlandês recém-chegado aos 38 anos é apenas "cheia de som e de fúria", como reza o diálogo já clássico do personagem de Shakespeare.

"Um texto como o do Bardo oferece tantas oportunidades de encenação que fica difícil não se perder na encruzilhada de interpretações sobre a alma humana. O mais difícil, contudo, é aprender como se domina a língua de Shakespeare, ou seja, sua visão poética para o Inglês do século XVII. Se você encontra o ritmo, a chave para Macbeth vai estar na sua mão", disse o ator, ao fim da coletiva do filme de Justin Kurzel, o último dos 19 longas-metragens em concurso pela Palma de Ouro de Cannes deste ano. "Procurei uma representação de Macbeth diferenciada, assumindo-o antes de tudo como um soldado de volta de muitas guerras. Meu Macbeth é alguém tomado por um estresse traumático de campo de batalha, como o dos militares que voltaram de conflitos no Iraque ou do Afeganistão."

None
"Se você encontra o ritmo, a chave para Macbeth vai estar na sua mão", disse o ator

Ao fim da coletiva, sobrou até espaço para Fassbender mandar um mimo para seus fãs brasileiros: "Estou louco para voltar ao Brasil. Já visitei a terra de vocês várias vezes, mas sempre por diversão, pra curtir um futebol", disse o ator, que será visto este ano também em The Light Between Oceans, de Derek Cianfrance. "Como estou fazendo muita coisa agora, o tempo é curto. Os compromissos como Magneto não param. Estamos no auge das filmagens do novo X-Men e a minha expectativa é alta, pois o clima está ainda mais animado do que nos outros filmes da série."

Na ativa desde 2001, quando foi visto no papel do Sargento Burton da minissérie Band of Brothers, Fassbender ganhou a confiança de alguns dos diretores mais prestigiados da indústria do audiovisual, tendo filmado Bastardos Inglórios com Quentin Tarantino, Prometheus com Ridley Scott, Um Método Perigoso com David Cronenberg e, em especial, Steve McQueen, de quem é ator-fetiche. Os dois estiveram juntos em Hunger (2008), Shame (2011) e o oscarizado 12 Anos de Escravidão (2013).

"Steve já anda escrevendo coisa nova. Mas não sei ainda o que é. Espero estar com ele de novo. Sabe… no cinema, sempre que surge um novo papel, sobretudo um como o de Macbeth, um ator é tomado pela tensão. Por vezes, rola até medo. Mas quando o trem da oportunidade passa, você deve arrumar uma vaga nele à força, pois ele não para nem passa outra vez", disse Fassbender, que contracena com Marion Cotillard em Macbeth, sob a direção de Kurzel. "Eu devia ter uns 15 anos quando li essa peça no colégio e voltei a ela quando estudei teatro. Mas agora, nesse filme, é uma imersão pra valer."

A releitura do cineasta australiano diminui o peso de Lady Macbeth (Marion) e valoriza mais a figura do protagonista, que abre o filme numa luta de espadas com efeitos de câmera lenta capaz de congelar a Croisette em sua passagem pela telona do Palais des Festivals de Cannes.

None
"Minha expectativa é alta, pois o clima está ainda mais animado do que nos outros filmes da série", disse Fassbender

O desempenho do ator foi acolhido com elogios nas mais variadas línguas. "Entendo Macbeth como um anti-herói de subjetividade fraturada por muitas perdas, a começar pela perda da própria lucidez durante as batalhas que lutou. O esforço que Marion, Justin e eu fizemos foi de construir essa história como se fosse uma história de amor dolorosa, assombrada pela tragédia. Assisti às outras adaptações de Macbeth para o cinema, como a de Orson Welles, por exemplo, mas a que me foi mais útil foi Trono Manchado de Sangue, de Akira Kurosawa. Ele também via Macbeth como um general disposto a tudo para manter seu reino de pé… inclusive a atrair um rei que encara como um governante fraco", disse o ator, que volta a unir forças com Kurzel e Marion em 2016 na adaptação do game Assassin's Creed. "Encontramos uma harmonia a três."

Os resultados da peleja oficial de Cannes serão conhecidos neste domingo. O favorito à Palma de Ouro é o húngaro Saul's Son, do estreante László Nemes, sobre a opressão aos judeus nos campos de concentração da 2ª Guerra Mundial. Mas já começa a se formar uma (barulhenta) torcida paralela por The Assassin, do taiwanês nascido na China Hou Hsia-Hsien. Apostas se formam também em torno de Youth, de Paolo Sorrentino, e de Mia Madre, de Nanni Moretti.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.