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Festival de Cannes | Shoplifters ganha a Palma de Ouro; veja lista de vencedores

Encarado como favorito, Spike Lee recebeu o Grand Prix por BlackKklansman

19.05.2018, às 16H34.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Um dos mais prolíficos realizadores do mundo na atualidade, com uma média de dois filmes ao ano, o japonês Hirokazu Kore-eda driblou todos os favoritos do 71° Festival de Cannes e fez um gol em prol do cinema asiático ao conquistar a Palma de Ouro por Shoplifters, uma ode aos novos conceitos da palavra “família”. Misto de comédia e drama, a produção acompanha as aventuras de um clã de trambiqueiros que adota uma menininha e muda sua rotina por isso. Cate Blanchett, atriz australiana que presidiu o júri, ressaltou a dimensão encantadora da abordagem de Kore-eda para a solidariedade. O Brasil não tinha filmes no páreo da Palma.

AOI Promotion/Divulgação

“Meus filmes, todos eles, são focados na condição humana, e este não é diferente”, disse Kore-eda ao Omelete dias antes, quando críticos europeus se rasgavam em elogios para sua dramaturgia. “Eu acabei sendo rotulado como diretor de folhetins porque passei anos tentando pensar as inquietações afetivas pelo prisma familiar, porém, mesmo nesse terreno do melodrama, eu abordo questões sociais. Esta nova trama é um estudo sobre a pobreza”.

Para escolher qual ganharia que prêmio, Cate comandou um time de jurados formados pela cantora e compositora Khadja Nin (Burundi), por duas atrizes (a francesa Léa Seydoux e a americana Kristen Stewart), pela diretora Ava Duverney (EUA), pelos também realizadores Denis Villeneuve (Canadá), Andrey Zvyagintsev (Rússia) e Robert Guédiguian (França) e pelo ator chinês Chang Chen. Com as bênçãos de todos, ela deu o Grand Prix, o prêmio mais importante depois da Palma, para o thriller americano BlackKklansman. Benicio Del Toro anunciou a vitória de Spike Lee, pela saga de um policial negro que se infiltra na Ku-Kux-Klan. “Tem ódio demais pelo mundo”, disse Spike.

Cate ainda inventou, com o consentimento de Cannes, uma Palma de Ouro especial para alguém que, segundo ela “faz uma surpresa a cada filme”, no caso, o diretor Jean-Luc Godard, de 87 anos, laureado por Le Livre d’Image. “O cinema deve saber valorizar a utonomia da imagem em relação ao som: diferentes sensações podem vira de cada uma dessas fontes, nos fazendo questionar o que vemos”, disse Godard ao Omelete, numa entrevista por facetime. 

O primeiro prêmio a ser entregue foi o de Interpretação Feminina, que foi anunciado por Asia Argento, atriz e diretora italiana, com palavras polêmicas: “Em 1997, eu fui estuprada neste mesmo festival pelo produtor Harvey Weistein. Espero que daqui pra frente, não haja mais lugar para Weisteins assim". A vencedora foi Samal Yesyamova, por “Ayka”, drama russo.

Depois de consagrar o desempenho de Samal, Cate anunciou os vencedores do prêmio de roteiro: foi empate entre a italiana Alice Rohrwacher, por Lazzaro Felice, e a trupe iraniana de 3 Faces, escrito por Nader Saeivar com o diretor Jafar Panahi. Este não pôde comparecer ao evento por estar detido no Irã em prisão domiciliar por desafiar ditames de seu governo. “Que bom a direção ter tido a coragem de selecionar o filme de Jafar apesar disso”, disse Nader.

Responsável por algumas das imagens mais belas deste festival, graças ao preto e branco de Cold War, o polonês Pawel Pawlokowski foi agraciado com a láurea de Melhor Direção desta Croisette. Ele foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 por Ida. “Tentei compartilhar com vocês em Cannes uma reflexão muito pessoal sobre os dilemas do amor, tentando fugir do meu pessimismo habitual”, disse Pawel.

Coube ao comediante Roberto Benigni (de A Vida é Bela) anunciar o prêmio de Melhor Ator com seu Francês macarrônico, convocando ao palco Marcello Fonte para receber a honraria de Canns por sua atuação em Dogman. Este faroeste moderno narra a cruzada de vingança de um tratador de cães. “Eu lutei para criar um personagem que representasse uma espécie de flor no meio do lodaçal”, disse Fonte.

Homenageado por Cannes com uma masterclass para falar sobre sua carreira como ator, Gary Oldman (ganhador do Oscar por O Destino de uma Nação) foi convocado para entregar o Prêmio Especial do Juri à libanesa Nadine Labaki, por Capharnaüm. Seu filme, sobre uma criança que processa seus pais por abandono e brutalidade, era um dos favoritos à Palma. “Não sei como resolver o problema das crianças do mundo, mas fiz este filme para que essa questão tão triste e urgente pudesse ser discutida a partir de uma narrativa que não abre mão da sensibilidade”, disse Nadine. 

Na peleja pela Caméra d’Or, que celebra o melhor filme de estreia, o júri chefiado pela diretora suíça Ursula Meier escolheu um filme da seção Un Certain Regard, o drama belga Girl, sobre uma menina trans que sonha ser bailarina, mas enfrenta preconceito. O diretor Lukas Dhont recebeu ainda ao prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci). “Este é um filme sem gênero, para todos os gêneros”, disse Dhont. 

Fora da briga pela Palma, o Brasil viveu um festival de muitas glórias: o longa Diamantino, feito em coprodução com Portugal, rendeu a Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt o Grand Prix da Semana da Crítica; a ficção Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, da paulista Reneé Messora e do lisboeta João Salaviza, ganhou o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard; e o curta O Órfão, de Carolina Markowicz, recebeu a Queer Palm, prêmio LGBT.

Assim que os prêmios todos foram entregues, Cannes foi conferir The Man Who Killed Don Quixote, a divertida releitura do diretor Terry Gilliam para o clássico de Miguel de Cervantes (1547-1616).

Lista de premiados:

  • Palma de Ouro: Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda
  • Palma de Ouro Especial: Jean-Luc Godard, por Le Livre d’Image
  • Grand Prix: BlackKklansman, por Spike Lee
  • Documentário: Samouni Road, de Stefano Savona
  • Prêmio Especial do Júri: Capharnaüm, de Nadine Labaki
  • Direção: Pawel Pawlikowski, por Cold War
  • Atriz: Samal Yesyamova, por Ayka
  • Ator: Marcello Fonte, por Dogman
  • Roteiro: Alice Rohrwacher, por Lazzaro Felice, empatado com Nader Saeivar e Jafar Panahi, por 3 Faces
  • Caméra d’Or (filme de estreia): Girl, de Lukas Dhont
  • Curta-metragem: All these creatures, com menção honrosa para On The Border
  • Prêmio da Crítica: Burning, de Lee Chang-Dong
  • Prêmio do Júri Ecumênico: Capharnaüm, com menção honrosa para BlackKklansman

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