Ao fim de uma jornada de dez dias de sessões lotadas, debates acirrados e pesquisa de novos caminhos para linguagem cinematográfica, a Première Brasil do Festival do Rio 2015 chegou ao fim na noite de terça-feira, coroando a excelência narrativa de Boi Neon, do pernambucano Gabriel Mascaro, laureado com o troféu Redentor nas categorias melhor filme, atriz coadjuvante (a estrela mirim Alyne Santana), roteiro e fotografia.
Retrato do mundo sexualmente ativo e plural que gravita o mercado das vaquejadas no Nordeste, o longa-metragem já chegou à competição com uma vitória vinda do exterior: o Prêmio do Júri da mostra Horizontes do Festival de Veneza. Sua passagem pela maratona carioca só fez abrir o apetite nacional por esta coprodução de Pernambuco com a Holanda e o Uruguai que vai passar pela 39ª Mostra de Cinema São Paulo (22 de outubro a 4 de novembro).
No início da Première, o presidente de seu júri, o fotógrafo e diretor Walter Carvalho, disse que sua meta era buscar o “cinema necessário”, valorizando o cruzamento de novatos e veteranos em disputa pelo Redentor. Mas na premiação, os valorizados foram mesmo os estreantes, como comprovam o prêmio de melhor direção empatado entre dois estreantes em longas: Anita Rocha da Silveira (por Mate-me Por Favor) e Ives Rosenfeld (por Aspirantes). Cabeça grisalha só houve uma contemplada pelo júri oficial: a do realizador Ruy Guerra, laureado por Quase Memória. Octogenário,Guerra brincou no palco do auditório do BNDES, comandado (com humor) pelos atores Zezé Polessa e Otávio Muller, que aquela vitória, coroando o conjunto de sua obra, não o fará desistir de filmar.
Deu juventude na cabeça também para os prêmios de elenco. Alyne Santana dividiu seu prêmio de melhor coadjuvante com Julia Bernat, por Aspirantes, longa que rendeu o prêmio de melhor ator a Ariclenes Barroso – indiscutivelmente a melhor atuação masculina de todo o evento. A melhor atriz foi Valentina Herszage por Mate-me Por Favor. E o melhor coadjuvante foi Caio Horowicz, por Califórnia.
Entre os documentaristas, duas mulheres foram premiadas pelo júri. Petra Costa levou o troféu de melhor longa documental para casa por Olmo e a Gaivota, sobre um casal de atores às voltas com uma gravidez. E Maria Augusta Ramos ganhou o Redentor de melhor direção de documental por Futuro Junho. O melhor curta foi Pele de Pássaro, de Clara Peltier, uma das mais talentosas diretoras no formato hoje no Brasil.
Aclamado por parte da crítica, Campo Grande, de Sandra Kogut, acabou sendo injustiçado e se contentou com o (merecido) troféu de melhor montagem. Maior injustiça foi cometida contra Tudo Que Aprendemos Juntos, de Sérgio Machado, que conjuga à perfeição autoralidade e popularidade, mas não pareceu tão “necessário” assim aos olhos dos jurados chefiados por Carvalho. Mais arejado pela brisa pop, o júri popular contemplou Nise – O Coração da Loucura, de Roberto Berliner, o documentário Betinho, de Victor Lopes, e o curta Até a China, de Marão.
Fica como saldo do Festival, que segue com longas estrangeiros até o fim desta quarta-feira, uma Première de diversidades, que não realizou sua meta de ser “a” melhor de toda a história do Festival do Rio, mas deu seu recado na busca por novas trilhas autorais e na oxigenação das variadas estéticas do cinema nacional.
A lista dos eleitos:
Longa (ficção): Boi Neon, de Gabriel Mascaro
Longa documental (documentário): Olmo e a Gaivota, de Petra Costa
Curta: Pele de Pássaro, de Clara Peltier
Diretor (ficção): Ives Rosenfeld (Aspirantes) e Anita Rocha da Silveira (Mate-me Por Favor)
Diretor (documentário): Maria Augusta Ramos (Futuro Junho)
Prêmio Especial do Júri: Quase Memória, de Ruy Guerra
Atriz: Valentina Herszage (Mate-me Por Favor)
Ator: Ariclenes Barroso (Aspirantes)
Atriz coadjuvante: Alyne Santana (Boi Neon) e Julia Bernat (Aspirantes)
Ator coadjuvante: Caio Horowicz (Califórnia)
Roteiro: Boi Neon
Fotografia: Boi Neon
Montagem: Campo Grande
