Os filmes da Marvel são conhecidos pela ação frenética, boas histórias e especialmente o humor irreverente. Apesar de ser um dos maiores Universos do cinema e constantemente ser elogiado pela crítica, a grande maioria das produções deixa a desejar em um ponto específico: a trilha sonora. Com a exceção de Os Vingadores (2012), os longas do estúdio nunca prestaram muita atenção na trilha, sempre trabalhando com algo mais simples. Contudo, tudo mudou com o lançamento de Guardiões da Galáxia (2014)– um filme que fez a música tornar-se parte fundamental da jornada de Peter Quill e seus companheiros. James Gunn mudou a maneira de trabalhar com a trilha em seus filmes e fez algo completamente diferente de qualquer outro diretor do Universo Marvel.
Um estudo publicado no canal Every Frame is a Painting detalha como os filmes dão pouca liberdade aos compositores, utilizando trilhas que por vezes ficam escondidas e comumente não arriscam, apenas servindo de um complemento para as imagens. Por exemplo, se temos uma cena triste, a trilha é triste. Se é cômica, é uma trilha cômica, não causando nenhuma surpresa ao espectador. Ao contrário de franquias como Star Wars, Indiana Jones e Harry Potter,que trabalham grandes momentos do filme com canções específicas, a Marvel sempre deu menos espaço para trilha, seja ela exclusiva ou músicas já existentes. Essa dinâmica só foi mudar em 2014, quando a produtora viu uma de suas principais apostas se tornar um sucesso não apenas nas telonas, mas também em aparelhos de som ao redor do mundo.
Desde o início, James Gunn planejou o filme em volta da Awesome Mixtape criada pela mãe de Peter Quill e, assim, certificou-se que a trilha sonora não seria apenas mais um componente do longa e sim um dos principais motores da história. Por conta disso, ele começou a ler a lista da Billboard com todos os principais hits dos anos 70 e decidiu baixar centenas de músicas da época. “Eu ouvia a playlist no meu som em casa e algumas vezes ela me inspirava para fazer uma cena em volta de uma música, e outras vezes eu tinha uma cena que precisava de música e eu ouvia a playlist para tentar encontrar qual funcionaria melhor”, afirmou James Gunn ao Vulture.
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Sendo assim, Gunn finalizou o roteiro com todas as músicas no papel, indicando qual clássico entraria em cada cena. Não bastando, o diretor pediu para o compositor Tyler Bates compor as músicas com orquestra do longa antes mesmo de começar as filmagens para utilizá-las no set. “Ao contrário da maioria dos filmes, Tyler escreve a trilha para que eu grave com a música. Durante as cenas de ação e grandes momentos dramáticos, eu tocava a trilha no set para que o elenco, a equipe e o câmera pudessem se mover em harmonia com a música”, explicou ao Screenrant.
Assim, a música tornou-se quase um novo personagem. Gunn brincou com a trilha, usando-a inclusive para mostrar a ironia em várias situações. Na cena onde o grupo é mandado para prisão, por exemplo, ele tocou "Hooked on a Felling" ao invés de uma trilha sonora heroica ou triste. Gunn decidiu colocar uma música alegre e divertida e, com ela, enfatizou o estilo do grupo logo em sua primeira grande cena. “As músicas reforçam a positividade que Meredith Quill [mãe de Peter] quer que Peter encontre nessas situações”, afirmou.
A exceção das músicas de David Bowie e dos Jackson Five, a grande maioria das canções eram sucessos do passado pouco conhecidos pelo grande público, pois o diretor queria passar uma sensação de familiaridade para audiência – ou seja, queria que as pessoas reconhecessem as canções mas, ao mesmo tempo, tivessem dificuldade de lembrar o nome da música. A estratégia não apenas funcionou, como se tornou um dos maiores trunfos do primeiro longa. Guardians of the Galaxy: Awesome Mix Vol. 1, que conta com as 12 músicas da mixtape de Peter, chegou ao topo da Billboard 200, tornando-se a primeira trilha sonora na história com canções previamente lançadas a realizar tal feito.
Para o novo longa, o cineasta aplicou o mesmo processo. “Fox On The Run”, do grupo Sweet, chegou pela primeira vez no topo da lista de rock do iTunes após ser exibida no trailer e o diretor promete músicas conhecidas e, ao mesmo tempo, canções nunca ouvidas pelo público geral. Gunn, inclusive, arriscou-se em compor uma canção inédita – “Guardians Inferno”, composta ao lado de Tyler Bates. Para dar vida a música, o diretor manteve-se fiel aos personagens do longa e chamou David Hasselhoff para cantar, uma vez que o ator seria um dos heróis de infância de Quill.
James Gunn provou que as canções podem ser mais do que um pano de fundo. O diretor mudou a percepção dos fãs a respeito de determinadas cenas, criou uma trilha especial e deu para franquia mais um protagonista.