Para onde quer que se olhasse no set de filmagem de Pantera Negra havia uma referência ao cult do humor Um Príncipe em Nova York (1988) com Eddie Murphy. Fosse em algum elemento em cena (máscaras tribais, sobretudo), fosse em um diálogo de corredor, Zamumda, a terra do nobre vivido por Murphy, estava em foco. Mas a diretora de arte da superprodução da Marvel, Hannah Beachler, prefere realçar outra inspiração para o longa-metragem protagonizado pelo Rei T'Challa de Wakanda.
"Tudo veio de Jack Kirby. A gênese visual deste filme são os quadrinhos dele. Partimos deles para uma fusão com temas africanos das tribos, das culturas mais milenares", diz Beachler. "Plantações de Uganda e a costa da África do Sul foram também referências importantes para a criação dos cenários de Wakanda, uma terra onde Natureza e Ciência são irmãs".
Com as mãos ocupadas de croquis de naves e armas, Hannah guiou parte da visita do Omelete aos sets da aventura estrelada por Chadwick Boseman (Get on Up: A História de James Brown), em Atlanta, nos Estados Unidos.
"Fiz Creed com Ryan Coogler e ele nunca me perguntou se eu queria ou não entrar neste projeto do Pantera. Um dia ele mandou pro meu e-mail algumas imagens da África e disse no assunto:'Você está dentro'. E claro que eu eu queria estar dentro deste universo. Usamos a arte de Kirby e máscaras de guerra ou de celebração religiosa dos africanos como linha central do desenho dos personagens", diz Beachler, orgulhosa do componente político do filme.
Ela, que saiu do oscarizado Moonlight - Sob a Luz do Luar (2016) diretamente para Wakanda, elogia a produção: "nunca vi tantas mulheres negras em posição de poder dentro e fora das câmeras quanto vejo aqui".
Criado em julho de 1966, nas páginas da HQ Fantastic Four nº 52, Pantera Negra, o primeiro super-herói negro dos quadrinhos, ganha o protagonismo de uma trama que se equilibra entre Wakanda e a Coreia do Sul, palco de uma cena de ação, antecipada já no trailer, idealizada para eletrizar plateias como nunca se viu nos filmes Marvel até agora. "Construímos as sequências do cassino e das perseguições na Coreia a partir de fotos da arquitetura hi-tech daquele país", diz Hannah.
Na trama filmada por Coogler, a tarefa de T’Challa é manter sua nação coesa, após a morte de seu pai, o antigo rei, numa articulação do Barão Zemo. Mas um vilão interessado nas reservas de vibranium, o Garra Sônica (Andy Serkis), abalará a paz de T’Challa, que precisa ainda deter a vaidade de um conterrâneo vingativo, Erik Killmonger (Michael B. Jordan).
"Ryan idealizou muito do filme a partir da cultura afropunk de Nova York", diz Hannah. "Ele tinha várias fotos de manifestações afro nas paredes de seu escritório. Este é um filme sobre busca e sobre afirmação de identidade. As fotos o ajudavam nisso".