O aguardado Queen of The Desert pode decepcionar quem esperava o novo filme do cineasta Werner Herzog. O primeiro trabalho do alemão com uma protagonista mulher tinha tudo para ser um grande filme. Afinal, retrata a vida da exploradora e arqueóloga britânica Gertrude Bell, que deu grande contribuição para a definição geopolítica do Oriente Médio após a Primeira Guerra Mundial, nos anos em que viajou pelo deserto com os beduínos locais.
Herzog opta pelo mais fácil e transforma a intrigante vida da inquieta Bell - vivida por Nicole Kidman - em um romance. É acima de tudo uma mulher bela, doce e amorosa a protagonista de Queen of the Desert, um filme cheio de cenas incríveis dignas de cartão-postal. Tudo longe do deserto mítico e inebriante de Fata Morgana, o filme de 1971 em que Herzog registra o Saara em tom documental. Na coletiva de Queen of the Desert no Festival de Berlim 2015, Herzog conta que durante as gravações uma tempestade de areia de verdade ocorreu e eles seguiram filmando. É o típico desígnio da natureza que parece assombrar os longas do cineasta, mas de resto o comportado Queen of the Desert não parece, ao contrário de outros trabalhos do diretor, estar à mercê das vontades imprevisíveis do ambiente.
Naquele que talvez seja o filme mais comercial e brando da carreira de Herzog, seus atores entregam atuações mornas. Kidmann é contida demais, e James Franco interpreta um Henry Cadogan de sotaque britânico carregado, enquanto Damian Lewis incorpora Charles Doughty-Wylie numa aparição talvez curta demais, mas não mais curta do que a ponta de Robert Pattinson, como o aventureiro T.E. Lawerence, o Lawrence da Arábia. São os homens que orbitam a rainha do deserto, e o verdadeiro pecado da cinebiografia é sugerir que uma mulher pioneira e independente como Gertrude Bell tem sua vida definida mais por seus relacionamentos do que qualquer outra coisa.
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