Vingadores: Guerra Infinita | Qual o peso dos acontecimentos trágicos do filme para o futuro do MCU?

Cuidado com os spoilers!

Natália Bridi

27.04.2018, às 13H33.

Atualizada em 04.05.2018, ÀS 09H04

[Cuidado com os spoilers!]

Por mais que seja um filme repleto de cenas marcantes para os heróis, em momentos dramáticos ou de ação, Vingadores: Guerra Infinita é a história de Thanos. Assim, ele é o único personagem com um arco completo no longa. Já os acontecimentos em torno do vilão, ainda que tenham valor emocional para a narrativa, não parecem definitivos. Essa constatação leva a pergunta: qual o peso das mortes de personagens em um filme que já tem continuações anunciadas?

Mesmo que a conclusão prometida para as três fases do Marvel Studios venha em Vingadores 4, o Universo Cinematográfico da Marvel já tem planejadas a sequência de Homem-Aranha: De Volta ao Lar e o terceiro Guardiões da Galáxia, além de Pantera Negra 2, o filme solo da Viúva Negra, entre outros. Ou seja, personagens tidos como mortos no final de Guerra Infinita já têm seus retornos garantidos.

Além disso, tendo estabelecido viagens no tempo em Doutor Estranho, o MCU abriu precedente para que nada seja permanente. No filme de 2016, por exemplo, Wong morre na defesa do Sanctum de Hong Kong, mas volta à vida graças ao poder da Joia do Tempo no Olho de Agamotto. Antes disso, os longevos Capitão América e Bucky Barnes já deixavam clara essa resistência à morte. Apenas vilões e personagens secundários encontraram um destino irrefutável - e nem todos os coadjuvantes, já que o agente Coulson ganhou uma nova vida na série de TV Agents of SHIELD. Até Caveira Vermelha, tido como morto em O Primeiro Vingador, teve o seu verdadeiro destino revelado agora, transformado em protetor da Joia da Alma.

Então quem realmente morreu em Vingadores: Guerra Infinita? O filme abre com um cenário trágico para o povo de Asgard. Personagens como Valkíria e Korg não são vistos, deixando seus destinos em aberto, mas Heimdall e Loki não sobrevivem ao encontro com Thanos e seus filhos. Essas duas primeiras mortes são essenciais para a volta de Bruce Banner/Hulk à Terra e para colocar Thor na sua jornada, levando ao seu encontro com os Guardiões da Galáxia e mais tarde à sua chegada em Wakanda. A morte de Loki também serve ao arco do próprio personagem. Vilão transformado em anti-herói pelo carisma de Tom Hiddleston, ele ganha seu momento de redenção no conflito com Thanos. Tivesse sobrevivido, o personagem apenas repetiria tramas passadas, alternando papéis de aliado e traidor em uma trama que não tinha tempo para isso.

As mortes de Heimdall e Loki parecem definitivas, assim como a de Gamora. Thanos sacrifica a própria filha, a única criatura que amava, para obter a Joia da Alma. É uma baixa essencial para a narrativa do vilão. Com Guardiões da Galáxia Vol. 3 anunciado, porém, parece ingênuo pensar que a personagem feminina principal do grupo será deixada de fora. O que leva de volta à teoria sobre viagem no tempo pela Dimensão Quântica, que será desenvolvida em Homem-Formiga e a Vespa. Sem a Joia do Tempo, essa seria a forma de reverter os males causados por Thanos. As fotos do set que mostram Homem-Formiga ao lado de um Capitão América usando uniforme antigo dão corpo à teoria.

As mortes dos filhos de Thanos - Fauce de Ébano, Cull Obsidian, Corvus Glaive e Próxima Meia-Noite - eram esperadas. Os personagens serviram mais como uma barreira antes do conflito direto com Thanos. Para que o Titã Louco chegasse à vitória no final era preciso mexer com a expectativa do público, dando pequenas conquistas para os heróis antes da sua derrota e dando tempo para que o vilão fosse desenvolvimento emocionalmente. A morte de Visão era outra dada como certa, já que o androide carregava a Joia na Mente na testa. Ainda assim, o seu retorno pode ser mais simples, já que Shuri trabalhava em uma adaptação para que ele continuasse a existir sem o artefato. Seu trabalho foi interrompido, mas é possível que algo tenha se salvado e Visão (ou parte dele) retorne antes de qualquer intervenção na linha temporal.

São as mortes em função do sucesso de Thanos, contudo, que deixam ainda mais óbvia a constatação de que os eventos de Guerra Infinita são passageiros. Bucky Barnes, Falcão, Pantera Negra, Doutor Estranho, Homem-Aranha, Feiticeira Escarlate, Groot, Mantis, Drax, Peter Quill, Maria Hill e Nick Fury desapareceram, deixando vivos apenas Homem de Ferro, Nebulosa, Capitão América, Viúva Negra, Thor, Bruce Banner, Máquina de Combate, Rocket, Okoye e M’Baku. Ainda que pareça aleatório, seguindo o preceito genocida de Thanos, o time de sobreviventes prioriza o time original dos Vingadores, levando a uma dinâmica interessante para o início do próximo filme. Gavião Arqueiro, que ficou de fora dessa primeira parte, foi visto no set usando um novo traje, sugerindo que se juntaria ao time como Ronin depois de ver sua família morrer (veja aqui).

Segundos antes de desaparecer, Doutor Estranho diz que essa é a única saída: para vencer, eles precisam perder. É um movimento clássico dos quadrinhos, que acumula eras de mortes e retornos de personagens. A forma como Vingadores: Guerra Infinita é construído, porém, dá credibilidade para essa solução. Ao priorizar a história de Thanos, o filme cria uma narrativa central completa. A conclusão da jornada do vilão dependia de todas as mortes mostradas, o que evita que percam a gravidade pela sua reversão iminente. Somado a isso, o apego emocional construído nos outros filmes do MCU dá peso para a partida dos heróis, mesmo que sejam despedidas passageiras.

Os filmes do Universo Cinematográfico da Marvel não existem sozinhos, por mais que essa seja uma bandeira levantada pelo estúdio. Contudo, é justamente essa ligação que torna essa franquia diferente de tantas outras. Cada filme é um capítulo, com um dependendo do outro para criar uma história completa. A conclusão dramática de Vingadores: Guerra Infinita pode ser temporária, com muitas pontas soltas a serem resolvidas no futuro (como o conflito entre Capitão América e Homem de Ferro e o gancho deixado pela cena pós-créditos), mas certamente não é descartável.