Bohemian Rhapsody tornou-se uma das principais estreias do ano passado e o público ficou encantado com a interpretação de Rami Malek, que viveu ninguém menos que Freddie Mercury na telona. O ator não teve muito tempo para se preparar e, mesmo assim, acabou indicado nas principais premiações do ano. Porém, sua transformação não foi um processo fácil.
A cinebiografia do Queen é um sonho antigo e começou a ser especulada pela primeira vez em 2010. O filme, contudo, nunca saía do lugar pois um dos maiores problemas era encontrar um protagonista que estivesse à altura de viver Freddie Mercury. A dificuldade era grande e, ainda quando o longa estava em fase de produção, um nome surgiu e parecia perfeito para o papel: Sacha Baron Cohen, conhecido por viver Borat. O casamento tinha tudo para dar certo, mas não demorou para aparecerem divergências do ator com o roteiro e os produtores e, por isso, ele se afastou do projeto.
“Sacha planejava um longa muito chocante – algo que imagino que Freddie iria aprovar. Seria chocante por conta da maneira que a homossexualidade seria retratada e as intermináveis cenas de nudez. Sacha amava tudo isso”, revelou ao Telegraph o diretor Stephen Frears, que chegou a ter seu nome vinculado ao projeto na época.
O filme, então, entrou em um limbo e parecia que nunca seria lançado. O tempo passou e, com isso, um jovem ator chamado Rami Malek começou a ganhar cada vez mais espaço na indústria por conta de sua performance no seriado Mr. Robot e seu trabalho chamou a atenção dos produtores. Mesmo assim, ele precisou fazer uma audição - que ele gravou com o seu celular - que foi vista por ninguém menos Brian May e Roger Taylor, produtores e respectivamente guitarrista e baterista da banda.
“Fui conhecer eles e achava que já haviam assistido ao vídeo. Mas eles não tinham baixado e, por isso, acabei assistindo eles me assistindo pela primeira vez. Foi 'sem pressão'”, afirmou Malek em entrevista ao Late Night with Stephen Colbert. O ator encantou os músicos e no final de 2016 foi anunciado como o protagonista do longa. Porém, agora viria a parte mais complicada: recriar um dos cantores mais icônicos do rock.
Malek estava preocupado em encontrar a essência do líder do Queen e, por isso, contou com a ajuda de um técnico de movimentos para encontrar a maneira fluída com que o cantor se movia e procurou treinadores vocais para entender o sotaque de Freddie. Contudo, o ator entendeu o papel apenas após ele colocar um detalhe fundamental: a dentadura.
“Eu tinha que usar essa dentadura e a primeira vez que a coloquei em minha boca eu fiquei totalmente inseguro. Por isso, acabei tentando compensar e eu sentava com uma postura retinha e tentava ser mais elegante – pois ele tinha a melhor postura possível. Nessa hora eu comecei a entender, ‘Oh, era por isso que ele era quem ele era’”, afirmou em entrevista ao The Tonight Show Starring Jimmy Fallon.
Além disso, o ator revelou em entrevista à Vanity Fair que estudou canto e piano todos os dias e viu todos os vídeos possíveis do cantor – além de ler sobre seu passado para entender a origem do músico. “Tentar capturar a sua essência é definitivamente o trabalho mais difícil que já realizei”, explicou.
Mesmo com todo esse estudo, é praticamente impossível cantar como um dos maiores vocalistas da história do rock. Por isso, além de usar a voz verdadeira de Freddie Mercury, o cantor Marc Martel – conhecido por ter uma voz muito parecida com a do cantor -foi convocado para criar algumas variações durante as cenas de show.
“Foi a união de algumas vozes [para criar a de Freddie]. Mas é minha esperança e a esperança de todos os envolvidos que o público ouça o Freddie o máximo possível. Acredito que esse é o nosso objetivo”, afirmou em entrevista ao Metro antes do lançamento do filme.
O filme, além de ter sido um grande sucesso, ganhou elogios da crítica e virou figura nas principais premiações do ano. Mas, acima de tudo, Malek conseguiu elogios dos próprios membros da banda. “Ele é incrível. Ele encarnou Freddie de uma maneira que nós mesmos começamos a pensar nele como o próprio Freddie. Foi algo realmente marcante”, disse o guitarrista Brian May em entrevista à Press Association.