Bruce La Bruce durante entrevista ao Omelete (Caio Coletti/Omelete)

Créditos da imagem: Bruce La Bruce durante entrevista ao Omelete (Caio Coletti/Omelete)

Filmes

Entrevista

Bruce La Bruce: “Tinha que me esconder da polícia para fazer meus filmes”

Cineasta canadense ganha retrospectiva no MIS e é homenageado do Festival MixBrasil

Omelete
3 min de leitura
20.11.2024, às 07H00.

Bruce La Bruce se sentiu muito, muito cool quando viu o seu nome ao lado do de Billy Wilder na lista de exposições em cartaz no MIS-SP (Museu de Imagem e Som de São Paulo). A mostra em questão, intitulada Bruce La Bruce Sem Censura, é uma retrospectiva bem compreensiva de suas quase quatro décadas de filmes sensuais, transgressores, polêmicos - e, muitas vezes, ilegais.

Passear por essa exposição me fez lembrar de todo o drama que passamos, tudo o que aconteceu nos meus sets. Acho que podemos dizer que éramos cineastas de guerrilha, o que muitas vezes significava que estávamos fugindo da polícia, infringindo a lei, para conseguir fazer nossos filmes, comentou o cineasta em entrevista ao Omelete.

Em São Paulo para a abertura da exposição e para receber o prêmio Ícone Mix, do Festival MixBrasil 2024, celebrando a dedicação de sua obra a temáticas LGBTQIAPN+, La Bruce brincou na entrevista que sua exposição é “muito mais modesta” do que aquela que celebra Wilder - mas que ver seus filmes organizados de maneira cronológica ainda é uma experiência nostálgica, de certa forma.

É como se cada filme tivesse sua própria cosmologia, como se cada um fosse um capítulo da minha vida, em que um monte de pessoas criativas se juntaram em um único lugar. Sabe, eu fiz filmes em Los Angeles [EUA], em Berlim [Alemanha], em Londres [Inglaterra], em Montreal [Canadá]... é uma viagem olhar para eles agora e lembrar daquela explosão quase orgásmica de criatividade que os gerou”, comentou.

Cena de O Intruso, filme de Bruce La Bruce (Reprodução)
Cena de O Intruso, filme de Bruce La Bruce (Reprodução)

Na ativa com curtas-metragens desde o final dos anos 1980, La Bruce fez sua estreia em longas com No Skin Off My Ass (1991), que virou título cult com sua história da paixão entre um cabeleireiro solitário (interpretado pelo próprio diretor) e um skinhead reprimido, contada através de cenas de sexo explícitas e uma subtrama de feminismo revolucionário. Títulos como Hustler White (1996), The Raspberry Reich (2004), L.A. Zombie (2010), Gerontofilia (2013) e As Misândricas (2017) seguiram construindo esse cânone radical, que por vezes o empurrou na direção da indústria pornográfica, sempre com um olhar para o sexo como agitação política.

Em Hustler White, eu tive uma cena de sexo com uma pessoa amputada, e isso assustou muita gente, então fiquei pensando: como posso superar isso? Por isso, o meu próximo filme [Skin Gang, de 1999] foi uma pornografia de skinheads, que mostrava um nazista se masturbando em cima de uma cópia de Minha Luta [livro banido de Adolf Hitler]”, brincou La Bruce na entrevista. É o meu jeito de brincar com os meus próprios limites, e não vejo isso acabando enquanto estiver fazendo filmes.

Mas quais são as transgressões que o diretor vislumbra para o futuro? Tenho um projeto em desenvolvimento, que é sobre uma mulher transgênero fascinada pela gravidez, o que é um tabu por si próprio. Tenho outra ideia para um filme sobre um cartel de drogas mexicano queer. Sempre existem formas novas de chocar - não estamos em falta.

A exposição Bruce La Bruce Sem Censura fica em cartaz até 26 de janeiro de 2025 no MIS-SP, com ingressos gratuitos. Confira mais informações no site do museu.

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