O reinício de Bruxa de Blair no cinema, mais de 15 anos depois de seu lançamento, não poderia ser mais certeiro. A começar pelo mistério envolvendo o filme, que só foi revelado menos de dois meses antes de chegar às telas, impedindo o vazamento de informações e replicando um pouca da aura de surpresa que cercou o original. Com Adam Wingard e Simon Barrett (diretor e roteirista, respectivamente, de Você é o Próximo), este novo capítulo recupera a atmosfera do filme que causou sensação em 1999 e introduz boas novidades à mitologia.
E, se depender da reação calorosa e apaixonada dos presentes na primeira sessão pública do terror, no Festival de Cinema de Toronto - com direito a Wingard alegrão e turbinado por drinques -, os produtores têm um sucesso nas mãos.
Na trama, Peter (Brandon Scott) busca há 17 anos respostas sobre o desaparecimento da sua irmã. Ela foi participar de um documentário sobre as lendas das florestas de Maryland e nunca mais foi vista. Com o surgimento na Internet de uma nova pista, porém, ele parte ao lado de seus melhores amigos para o local onde essa evidência inédita foi encontrada, a mesma floresta em que sua irmã foi vista pela última vez.
Equipadíssimos com todas as garantias modernas de sucesso que o mercado dispõe para aventuras na mata - como aparelho de GPS, walkie-talkies, micro-câmeras e até um drone - os quatro amigos partem em sua jornada. Não tarda para que a floresta prove que os avanços tecnológicos de quase 20 anos não representam muita coisa lá fora - especialmente quando há forças ancestrais em jogo.
Wingard e Barrett são extremamente bem-sucedidos em emular a sensação do primeiro filme. É tudo muito parecido, mas há novos elementos que tornam esta uma experiência que agrega à original. O humor, por exemplo, é mais presente e ajuda a criar empatia pelos personagens (pelo menos enquanto os piadistas duram). O avanço tecnológico também rende mais opções de câmeras, tornando a montagem bem mais dinâmica - e nem tão tremida como no original. A nova personagem documentarista é melhor que sua predecessora - e encontra tempo para amarrar câmeras em árvores e montar tripés.
Porém, mais importante, há uma nova camada de mitologia e regras neste Bruxa de Blair. Os cineastas conseguiram expandir os conceitos de 1999, que influenciaram com sua linguagem toda uma geração do horror (algo que o precursor do gênero Holocausto Canibal, de 1980, não conseguiu) de forma absolutamente orgânica. Nada aqui parece fora de tom em relação ao passado (como ocorreu com o péssimo O Livro das Sombras, de 2002). Pelo contrário. Quase 20 anos depois, com o gênero de "found footage" tão estressado em franquias e produções que usam a linguagem como desculpa para a falta de recursos e multiplicador fácil de investimento, há enfim alguma satisfação em efetivamente ser impactado por imagens com valor de produção e não apenas ser assustado por barulhos e cortes secos (que também continuam eficientes, vale dizer). Há também um elemento sobrenatural adicional inteligente, que amplia o terror sem consumir qualquer recurso adicional, uma utilização inteligente de algo natural e gratuito, mas que alimenta o horror, o tempo.
É esse tipo de solução criativa que aproxima este do longa de 1999. Ao retornar aos medos básicos - do escuro, do desconhecido - e atualizá-los com cuidado, Wingard e Barrett conseguem um raro reinício equiparável ao original. Pena que o subgênero já esteja tão cansado... talvez seja a hora de encerrá-lo com este Bruxa de Blair, fechando o ciclo com dignidade.
Ano: 2016
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 90 min