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Pegando Fogo | Crítica

Bradley Cooper faz o macho em crise em filme que se julga inofensivo

11.12.2015, às 08H43.

Enquanto houver filmes como Pegando Fogo (Burnt, 2015), o homem branco heterossexual não precisa se preocupar: sua crise existencial pode ser tratada como uma excentricidade, e todos ao seu redor - o negro, o gay, a mulher, o latino - farão de tudo para que ele volte a seu lugar de liderança, a ser grande novamente. Sempre vai ter alguém para recolher os pratos espatifados pelo macho em crise.

É difícil, em pleno 2015, não fazer essa leitura do filme do diretor John Wells, mesmo porque subtramas como a da cozinheira que precisa largar a filha para "ser como um de nós" imediatamente trazem adiante questões de gênero que ocupam a vida das pessoas hoje diariamente. Mas o longa protagonizado por Bradley Cooper, sobre um chef que quer sua segunda chance na vida e, de quebra, conquistar a sua terceira estrela do Guia Michelin, não torna a crise uma coisa pesada ou conflituosa. Na verdade, Wells se esmera em tornar tudo agradável aos olhos e o mais suave possível, em termos narrativos.

Então desde o início a montagem rápida emula o ritmo azeitado de uma orquestra, com a guarda da cozinha e do salão do restaurante muito harmoniosos, e a câmera pega detalhes de talheres e pratos com o cuidado daquelas imagens de comida no Instagram, com o foco no centro e as bordas desfocadas. Já as visitas do chef a uma psicóloga só servem para lhe encher de bons conselhos; a partir do momento em que o personagem se mostra disposto a problematizar sua crise, o filme coloca a médica de lado, numa cena de montagem sem diálogos.

Logo fica evidente que Pegando Fogo só está interessado em reproduzir lendas urbanas sobre cozinheiros de temperamento difícil e explosivo - coisa tratada no filme de forma exagerada, assim como as decorações dos pratos, cheios de florzinhas comestíveis para demarcar visualmente a "sensibilidade" do chef. Fora da cozinha, porém, tudo fica muito fácil para o macho em crise - da mulher que cuida dos seus machucados ao amigo gay que ganha um beijo paternalista, todo mundo parece hipnotizado por Bradley Cooper, essa figura descamisada tão bela e forte, e tão atormentada.

Nota do Crítico
Regular
Pegando Fogo (2015)
Burnt
Pegando Fogo (2015)
Burnt

Ano: 2015

País: EUA

Classificação: LIVRE

Direção: John Wells

Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Lily James, Jamie Dornan, Alicia Vikander, Uma Thurman, Emma Thompson, Matthew Rhys, Daniel Brühl, Sarah Greene, Omar Sy, Sam Keeley, Chelsea Li, Riccardo Scamarcio, Christopher Heskey, Erica Emm

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