Um ano e meio depois do turbilhão de Oppenheimer, Cillian Murphy finalmente volta aos cinemas brasileiros com um filme bem diferente. Em Pequenas Coisas Como Estas, ele interpreta Bill Furlong, um vendedor de carvão e madeira numa pequena cidade irlandesa em 1985. Fora da tela, Murphy vê semelhanças entre o projeto e o filme brasileiro vencedor do Oscar, Ainda Estou Aqui.
Em uma de suas entregas em um convento, o personagem acaba descobrindo sobre os maus tratos sofridos por jovens mulheres marginalizadas pela sociedade local, em sua maioria mães solo, assim como havia sido sua mãe. Isso faz com que ele relembre seu passado e sinta a necessidade de agir diante da situação.
Toda a situação do filme é baseada em um capítulo sombrio da história da Irlanda, com abuso de poder da Igreja. Entre os séculos 18 e 20, a igreja católica administrava instituições em que impunha dogmas arbitrariamente – algo que é exposto no filme.
Foi justamente daí que surgiu a comparação com Ainda Estou Aqui. “Esse é um filme que está falando sobre uma parte difícil da história do Brasil também, sabe. Então eu acho que há um cruzamento nos filmes”, comparou Murphy em entrevista ao Omelete.
O astro revelou que assistiu ao filme brasileiro e o achou “absolutamente maravilhoso”. “É incrivelmente dirigido e e lindamente atuado. Eu fiquei encantado que ele ganhou”, elogiou Cillian. Confira a entrevista completa abaixo.
OMELETE: Este é o seu primeiro filme a ser lançado desde Oppenheimer e é tão diferente em muitos aspectos. Como você escolhe quais serão seus próximos projetos e o que te atraiu em Pequenas Coisas Como Estas?
Cillian: Bem, eu li o livro e pensei que poderia ser um poderia ser um filme interessante, se fizéssemos certo. Eu realmente não tenho um plano, sabe, é tudo muito, muito aleatório. É sobre tentar esperar por um bom roteiro ou, neste caso, tentar produzir um filme. Não se trata de fazer um filme grande ou um filme pequeno ou fazer um filme na Irlanda e fazer um filme na América. É realmente apenas sobre tentar encontrar uma boa, boa história.
OMELETE: Sim, definitivamente. E é interessante para mim que, embora seja um filme muito simples, ainda é muito profundo. Especialmente como mulher, eu estava nervosa na maior parte do tempo assistindo. Você pode falar um pouco sobre a importância de contar essa história?
Cillian: Sim. Bem, você sabe, é um período muito sombrio na história irlandesa e é algo que estamos meio que lidando coletivamente como uma nação. E eu acho que é importante que a arte olhe para esses períodos difíceis e faça perguntas sobre isso. O livro certamente fez isso e queríamos contar a história o mais fielmente possível ao livro.
OMELETE: Sim, e é algo que aconteceu no século 20 na Irlanda. Contar histórias sobre seu país especificamente é algo que você quer fazer mais?
Cillian: Sim, quero dizer, eu moro aqui, sabe. Eu fiz muitos filmes irlandeses, também na Europa e muitos filmes na América. Para mim, é importante contar histórias irlandesas, mas elas têm que ser as certas, sabe. Você não pode simplesmente fazer uma história irlandesa por fazer, tem que ser algo que fale com você e então, esperançosamente, fale com outras pessoas.
OMELETE: Sim. Bem, você acabou de falar um pouco sobre a Irlanda e eu tenho que te perguntar sobre meu país natal. Você esteve no Oscar algumas semanas atrás e este ano marcou a primeira vitória do Brasil no Oscar com Ainda Estou Aqui. Eu estava me perguntando se você sabia sobre o filme ou teve alguma interação com a atriz Fernanda Torres ou o diretor Walter Salles lá?
Cillian: Eu vi o filme e pensei que era um filme absolutamente maravilhoso, incrivelmente dirigido e e lindamente atuado. Então, você sabe, eu fiquei encantado que ele ganhou. Mas eu não os conheci. Eu meio que só fui e logo saí. Então eu não conheci ninguém.
OMELETE: Sem problema, mas ótimo que você assistiu. Nós adoramos por aqui também.
Cillian: E eu acho que esse é um filme que está falando sobre uma parte difícil da história do Brasil também, sabe. Então acho que há um cruzamento nos filmes, um pouco.
OMELETE: Sim, definitivamente. E voltando a Pequenas Coisas como Estas, este é um filme que você também produziu e esteve envolvido em todas as partes do processo. Qual foi o maior desafio ao abordá-lo?
Cillian: Houve tantos desafios, tantos elementos diferentes, sabe, tentando acertar. Mas felizmente eu tinha muitas pessoas que eu conheço e amo trabalhando comigo por um longo, longo tempo. Sabe, colaboradores muito, muito antigos. Como Enda Walsh, que escreveu o roteiro, e eu conheço há quase 30 anos. Tim Mielants, com quem eu fiz três filmes, Eileen Walsh, que eu conheço há 30 anos. Alan Moloney, o outro produtor, eu também conheço há 30 anos. Então eu tinha muitas pessoas me ajudando a fazer o filme que queríamos fazer. Eu tive muita sorte.
OMELETE: Esse é um filme que fala muito sobre mulheres também. Mesmo que você tenha um protagonista masculino, ele também está cercado por mulheres o tempo todo. Sua conexão com sua mãe, com suas filhas. Qual é a importância de mostrar essa força de mulheres ao redor dele?
Cillian: É uma história escrita por uma mulher, mas contada do ponto de vista desse homem. Então é uma perspectiva muito interessante. E eu acho que é um romance feminista, sabe. Mostra a influência das mulheres nele. A mulher que salva a vida de sua mãe, a própria mãe, a esposa. Ele tem cinco filhas. Sabe, a influência que a Irmã Mary tem. Quero dizer, toda a história é um homem que é influenciado por mulheres e então, sim, eu acho que essa é uma perspectiva interessante a se tomar, particularmente quando é escrita por uma mulher, sabe?
OMELETE: Sim, e falando sobre minha interpretação, eu vejo a sensibilidade do personagem relacionada a ele sendo criado por mulheres e sendo cercado por elas.
Cillian: Eu acho que você está certa. Eu acho que isso definitivamente faz dele quem ele é.