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Cine Majestic | Crítica

Não supera o ranço do esquematismo e do moralismo.

04.04.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Os anos seguintes à Segunda Guerra Mundial não trouxeram o alívio que se espera do fim de um conflito. No início da década de 50, a iminente Guerra Fria já começava a atingir a sociedade norte-americana. Aspirantes a comunistas, ou qualquer simpatizante com idéias de esquerda, começavam a ser perseguidos pela justiça, a chamada caça às bruxas. Liderada pelo senador republicano Joseph McCarthy (1908-1957), a iniciativa incluía também investigar os profissionais de Hollywood, muitos deles tidos como conspiradores. Roteiristas, diretores e atores eram chamados a depor, justificar falhas de comportamento e, principalmente, dedurar possíveis revolucionários entre os seus pares.

Uma fase negra da democracia norte-americana, o período do "McCarthismo" retorna à pauta dos cinemas, na produção Cine Majestic (The Majestic, 2001), dirigida por Frank Darabont e estrelada por Jim Carrey. Famoso pelo tratamento delicado de seus roteiros dramáticos, invariavelmente longos e bem esmiuçados, Darabont repete a fórmula emotiva de filmes como Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption, 1994) e À espera de um milagre (The Green Mile, 1999). Carrey confere exuberância ao filme. Apesar da fama de careteiro de comédias escrachadas, o ator já atestou sua seriedade em duas oportunidades: o polêmico O Show de Truman (The Truman Show, de Peter Weir, 1998) e no ótimo O mundo de Andy, (Man on the Moon, de Milos Forman, 1999).

Herói da cidade

Assim, ao longo dos 152 minutos de Cine Majestic, Carrey, um perito em personagens extravagantes e até surreais, trabalha de forma expressiva a trajetória mirabolante vivida pelo roteirista Peter Appleton. Em 1951, feliz da vida, o escritor se locupleta com o sucesso alcançado em seus filmes. Uma denúncia, porém, coloca em risco sua carreira. Nos seus tempos de colégio, Appleton assistiu a uma reunião do The Bread Instead of Bullets Club (algo como O clube Pão ao Invés de Tiros) com o intuito de impressionar uma garota. Para os agentes de McCarthy, o episódio já justifica uma investigação sobre as reais intenções de Appleton.

Não demora até que o roteirista seja demitido. Depois de um porre, Appleton sofre um acidente de carro e desaba de uma ponte. Vai parar numa praia distante, na cidadezinha de Lawson. Pior. Desmemoriado, não se recorda do acidente ou de qualquer outro fato de sua existência. Assim, quando recebe a ajuda dos habitantes do local, logo instaura-se o maior quiproquó. ele acaba confundido com Luke Trimble, um herói da cidade, dado como morto na Guerra, que ajudava o pai, Harry Trimble (Martin Landau), a manter o único cinema local, o Majestic. Logicamente, crente do retorno de seu filho, Harry adota Appleton e convence o restante da população do milagre. Aproveita também para reinaugurar a sala de projeção, o mote da película e a realização de Appleton. Até a ex-namorada de Luke, Adele (Laurie Holden), apaixona-se pelo estranho. Os federais, porém, ainda buscam o roteirista.

Assim, de maneira esquemática, todos os ingredientes da fábula edificante de Darabont ficam visíveis. Ao exibir a alegria de Appleton na administração do Majestic, defendendo a magia do cinema, coloca-se contra os ataques impostos na caça às bruxas. Ao reforçar os grandes feitos de Luke Trimble na Guerra, ao ressaltar a sua importância para a população de Lawson, ele pratica o famoso nacionalismo. De modo geral, busca criticar a posição do governo, que limita as liberdades democráticas que os Estados Unidos tanto prezam. O resultado dessa mistura de Cinema Paradiso com sentimento patriótico, porém, soa moralista. Jim Carrey empenha-se, desdobra-se, entre expressões extremamente felizes e profundamente tristes. Darabont estende o filme a fim de consolidar suas idéias. Entretanto, em meio a tantas lições, Cine Majestic não supera o ranço do esquematismo e do moralismo.

Nota do Crítico
Bom
Cine Majestic
The Majestic
Cine Majestic
The Majestic

Ano: 2001

País: EUA

Classificação: LIVRE

Duração: 152 min

Direção: Frank Darabont

Elenco: Jim Carrey, Martin Landau, Laurie Holden, David Ogden Stiers, Hal Holbrook, Bob Balaban, Ron Rifkin, Jeffrey DeMunn, Brent Briscoe, Gerry Black, James Whitmore, Susan Willis, Catherine Dent, Brian Howe, Karl Bury

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