Prêmios podem não significar muita coisa, mas ao menos popularizam nomes como o de Nuri Bilge Ceylan, cineasta turco que é presença constante em Cannes. Climas (Iklimler, 2006), escolhido Melhor Filme da Crítica Internacional no festival francês há dois anos, é o primeiro trabalho dele a chegar ao Brasil em circuito comercial.
A história simples abre com um casal passeando pelas ruínas de um templo na Turquia. Ele, professor universitário, fotografa o local. Ela, mais jovem, olha de longe para o homem, se aproxima e o abraça. Afasta-se então para um morro próximo, onde senta e começa a chorar baixinho.
Climas
climas
Algumas cenas depois, vem o entendimento da tristeza. Durante um jantar ao ar livre na casa de amigos começa uma discussão entre os dois. Desentendimento por uma bobagem - algo que mostra que o copo já está suficientemente cheio. A separação, extremamente civilizada e racional, não demora. E quando estamos prontos para acompanhar a moça em sua vida solteira, o diretor nos surpreende: É com ele que ficaremos durante o filme.
A inversão é inesperada e brilhante. Ao começar o filme dando ênfase à mulher (interpretada por sua esposa, Ebru Ceylan), o diretor (que vive o marido) cria uma empatia dela com o público impossível de conseguir se desde o início tivessemos o homem como guia. Ao sermos separados dela, imediatamente, como ele, começamos a sentir a ausência. Onde ela estará? O que ele fará sem a garota ao seu lado?
O diretor é igualmente feliz e inovador em seu posicionamento de câmera. Não há o bê-a-bá do plano e contraplano. Durante as conversas ele sempre busca enquadrar os dois atores simultaneamente e mantém a câmera ali, até que a conversa se esgote. O quadro fechado no rosto só acontece, curiosamente, quando os personagens estão em silêncio. Como o professor, que registra cuidadosamente os templos e seus arredores, Ceylan mapeia os contornos da face humana, buscando compreender o que ela esconde, tentando desvendar os "climas" do título.