Filme inscrito no Oscar 2016 de filme estrangeiro pela França, embora se passe na Turquia, seja coproduzido pelo país, falado em turco e dirigido pela estreante turca Deniz Gamze Ergüven, Cinco Graças (Mustang, 2015) é como uma versão islâmica de As Virgens Suicidas (sem a parte do suicídio em massa...).
A trama se passa numa vila do Norte do país, a centenas de quilômetros da cosmopolita Istambul, e segue cinco irmãs que acabaram de sair da escola e comemoram o início das férias ao lado dos meninos. Talvez comemorem com ânimo demais para os padrões locais, porque a avó e o tio das meninas, órfãs de pais, decidem que o melhor a fazer é mantê-las sob vigilância, aprendendo a ser uma dona de casa e uma boa esposa, até que os adultos encontrem maridos para as cinco.
Não é de espantar que a França tenha escolhido Cinco Graças para tentar um lugar no Oscar. A combinação do caráter obviamente progressista da história com os momentos de humor e catarse da libertária rebeldia juvenil forma um pacote irresistível para agradar o grande público. À falta de um roteiro mais complexo, que não fique só repetindo a mesma dinâmica de ação e reação, Ergüven se ampara no seu ótimo e fotogênico elenco jovem - puxado pela caçula, narradora do filme, Günes Sensoy, de 13 anos, que estreia no cinema depois de ter feito na TV turca a jovem Kösem Sultan, uma das mulheres mais poderosas da época do Império Otomano.
Nessa parceria entre a diretora e sua talentosa estrela-mirim, Cinco Graças trata com naturalidade de anseios juvenis num país que, embora enraizado em tradições religiosas, já vê suas gerações mais novas inseridas no mundo. Ou pelo menos é o que sugere esse filme que, oportunamente, faz de todas as cinco irmãs personagens de perfil contestador. Se uma delas tivesse, por exemplo, tendência a aderir aos costumes locais e ficar do lado dos mais velhos, isso causaria um ruído no discurso do filme que Ergüven não parece disposta ou capaz de lidar.
O resultado é um filme de exportação (o comentarista na TV deixa clara a ideologia fundamentalista, didatismo acessível a todo tipo de público) e feito para a torcida (a vilanização dos adultos e a ruptura final são facilitadas na cena da violência contra a segunda menina mais nova). Em Cinco Graças, no fim, a liberdade até parece fácil, e não implica concessões.