O terror espanhol 13 Exorcismos abre com um letreiro declarando que a história que estamos prestes a assistir é um amálgama de vários casos reais de suposta possessão demoníaca ocorridos na Espanha durante as últimas décadas. A pesquisa extensa empreendida pelos roteiristas do longa (uma equipe de cinco pessoas é creditada pela versão final do texto) coloca a obra em oposição à tendência atual dos filmes de exorcismo, cada vez mais propensos ao pastiche - quando não descambam para a sátira franca - das convenções de um subgênero que assombra o cinema de horror desde que ele nasceu, e cuja obra definitiva (O Exorcista, de 1973) acaba de completar meio século de lançamento.
O tom mortalmente sério das cenas que se seguem só confirma a ambição quase documental da equipe envolvida em 13 Exorcismos. Nelas, somos apresentados a Laura (María Romanillos), adolescente tímida com pais superprotetores, que foge de casa para visitar um local mal-assombrado com a amiga festeira na noite de Halloween. É por lá que ela entra em contato com o demônio - ou, ao menos, com o espírito de um médico possuído pelo Satanás -, o que desencadeia uma série de comportamentos bizarros que atingem o ápice quando sua família contrata o Padre Olmedo (José Sacristán) para exorcizá-la.
13 Exorcismos demora mais de 1h10 para chegar ao momento em que Olmedo é autorizado pelos pais de Laura a iniciar o processo de expulsar o diabo de seu corpo. Isso significa que os tais 13 exorcismos do título são retratados apenas nos 30 minutos finais do longa, quando ainda assim dividem tempo de tela com os esforços de uma professora cética da protagonista, decidida a libertá-la da tortura religiosa imposta pelo sacerdote. Mesmo nessa correria, o filme aperta com diligência todos os botões clássicos do subgênero, da mudança de voz de Laura ao momento em que o padre consegue fazer com que o demônio diga seu nome - mas os sustos são executados de forma protocolar, quase como se estivessem ali por obrigação.
Falta a 13 Exorcismos uma consciência e um espírito essenciais para qualquer filme de terror: a consciência de fazer parte de um gênero inseparável de sua própria história e tradição, e o espírito de prestar homenagem a essa história enquanto encontra formas inovadoras e interessantes de reeditá-la. Estreando no comando de um longa-metragem após carreira como diretor de fotografia na Espanha, Jacobo Martínez não demonstra nem um pouco da garra normalmente encontrada em cineastas de primeira viagem (até nos piores deles!). O seu 13 Exorcismos é escuro e claustrofóbico, mas não de uma maneira que denote estilo ou provoque sensações fortes no espectador - os seus cinzas, pretos e vermelhos são chapados, calcados em transmitir o mesmo tom documental enfadonho e nada convincente afetado pelo roteiro.
É claro que é possível fazer um filme de exorcismo que lide com as questões sérias nas quais este exemplar espanhol esbarra ao contar sua história “inspirada em casos reais”. 13 Exorcismos sugere, principalmente, que o sofrimento de Laura é de natureza psicológica e social, ao invés de mística. O longa esboça a ideia do fanatismo religioso e da repressão moral como fatores de adoecimento, especialmente para indivíduos que estão passando pela fase formativa da adolescência. A figura da professora está aqui para plantar a dúvida sobre a legitimidade religiosa da prática exorcista, enquanto o longa confronta questões de responsabilidade parental ao colocar a mãe de Laura, firme em sua fé nos métodos da igreja, em conflito com o pai, cuja confiança no padre Olmedo vacila conforme vê a filha sofrendo.
O problema, claro, é que o filme não está disposto a abrir mão completamente de suas implicações sobrenaturais, nem a dizer de uma vez por todas que Laura teria mais chances de salvação se os pais tivessem buscado explicações seculares (e, talvez, um pouco mais solidárias) para sua súbita mudança de comportamento. 13 Exorcismos se apega desesperadamente à possibilidade de que a protagonista estava mesmo possuída pelo demônio, até a reviravolta de seus segundos finais, porque abandoná-la totalmente implicaria na impossibilidade de se vender como terror, atualmente o único gênero em que histórias originais têm alguma chance de recuperar seus custos no cinema.
A tentativa de “ficar em cima do muro” dessa forma, portanto, é mercadologicamente compreensível - mas nem por isso deixa de inviabilizar o sucesso artístico de 13 Exorcismos. Como filme de denúncia social, essa ambiguidade o faz inofensivo e ineficiente; como filme de terror, ela o transforma em uma experiência cinematográfica ditada por tédio acachapante.
13 Exorcismos
13 Exorcismos
Ano: 2022
País: Espanha
Duração: 100 min
Direção: Jacobo Martínez
Roteiro: Carlos Ruano, David Orea, Gema R. Neira, Salvador S. Molina , Ramón Campos
Elenco: María Romanillos , José Sacristán , Ruth Díaz , Urko Olazabal
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