A Chamada faz o suspense típico de Liam Neeson com sobrepeso moral

Créditos da imagem: Lionsgate/Divulgação

Filmes

Crítica

A Chamada faz o suspense típico de Liam Neeson com sobrepeso moral

Falta ao filme de Nimród Antal se entregar com convicção aos prazeres do thriller-de-telefone

Omelete
4 min de leitura
22.08.2023, às 17H46.

O fato de os filmes da parceria de Jaume Collet-Serra e Liam Neeson serem pequenas pérolas de apuro estético e narrativo não impede Hollywood de vê-los como thrillers despretensiosos. Era questão de tempo até que o cineasta espanhol passasse aos blockbusters de grande orçamento - o que ocorreu com Jungle Cruise (2021) e Adão Negro (2022) não sem algum desabono autoral - e os órfãos da velha parceria agora precisam se contentar com A Chamada. Collet-Serra aparece apenas como produtor no filme, que tem direção do pau pra toda obra Nimród Antal.

O parentesco com os suspenses dirigidos pelo espanhol está dado na premissa: assim como em Desconhecido (2011), Neeson se vê em Berlim no meio de uma trama hitchcockiana do homem no lugar errado e na hora errada, forçado a defender a sua honra; assim como em Sem Escalas (2014) e O Passageiro (2018), a ação se passa em um único local, no caso, o banco do motorista do carro que Neeson pilota e que explodirá caso ele não ceda à extorsão que acontece por celular na tal chamada do título em português.

Que o personagem de Liam Neeson precise defender sua inocente família do mal que os homens fazem é apenas o elemento arquetípico que se espera de qualquer filme estrelado pelo ator. É preciso, porém, fazer a ressalva para o espectador desavisado que espera um novo Busca Implacável: embora A Chamada tenha duas ou três cenas de ação e explosão filmadas com competente plasticidade, o Liam Neeson da vez não é o esperado anjo da morte que liquida malfeitores com palavrões de sotaque irlandês.

Na verdade A Chamada se aproxima mais, em atmosfera e propósito, dos suspenses de sadismo mais populares hoje em dia: aqueles que promovem reparação social contra os podres de rico. A trama já começa com a morte televisionada de um alemão do mercado financeiro que trabalhava na mesma firma de Matt Turner (Neeson), e a explosão do carro em câmera lenta serve não apenas ao seu óbvio fim funcional (atestar logo de cara a letalidade do misterioso vilão da história, que passa o tempo todo jurando ameaças pelo telefone), como serve também de tiragosto do que o filme pode oferecer em matéria de schadenfreude.

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Há um prazer aí inegável - com um bônus para os fãs de Succession, que podem ventilar suas fantasias ao ver o ator Arian Moayed numa versão de Stewy dois graus acima na caricatura de financista milionário. É uma pena que o aspecto moral seja, em boa medida, tudo o que Antal tem a oferecer a partir do roteiro de Chris Salmanpour neste remake de El Desconocido (2015). A Chamada não tem o dinamismo de Collet-Serra, seu senso espacial ou seu apuro para o trabalho de câmera; mesmo quando o desenrolar da história exige uma catarse visual mais contundente - a válvula de escape necessária depois de uma encenação toda contida em expectativas no assento do motorista - o peso na conclusão fica todo para o texto moralizante. Não há no clímax um senso de momento para que as coisas ganhem vida na imagem.

Ironicamente, A Chamada talvez se leve a sério demais para dar conta de prazeres muito mundanos do filme B e do thriller sádico. Há elementos muito interessantes na composição do personagem de Neeson, como a maneira que sua fala polida e educada (quando ele pede por favor, quando se desculpa) ajuda a estabelecer o absurdo de sua situação claustrofóbica. Toda a ideia de que viver de mentiras e promessas (como o filme trata o ofício do operador de Bolsa) se choca com as promessas de segurança que o pai faz aos filhos é muito promissora do ponto de vista do drama de redenção. Mas em A Chamada a seriedade não se converte em recompensa na encenação.

Nem é o caso de que tenha faltado o toque de Collet-Serra para além do crédito de produtor. Falta a A Chamada, antes de tudo, a vocação para o filme de gênero que o saudoso Larry Cohen havia exercitado em vida, escrevendo roteiros de thrillers-de-telefone absolutamente francos no seu despudor, como Por Um Fio (2002) e Celular (2004), não por acaso os dois exemplos que muita gente traz à memória quando fala desse subgênero deveras específico do chamado a cobrar. 

 
Nota do Crítico
Regular

A Chamada

Retribution

Ano: 2023

País: EUA / Alemanha / França / Espanha

Classificação: 14 anos

Duração: 91 min

Direção: Nimród Antal

Roteiro: Chris Salmanpour

Elenco: Arian Moayed , Lilly Aspell , Jack Champion , Embeth Davidtz , Liam Neeson , Matthew Modine

Onde assistir:
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