Depois de Sete dias com Marilyn, Simon Curtis remonta outra biografia para as telonas: A Dama Dourada. Desta vez, ele conta a história de Maria Altmann e o jovem advogado descendente de judeus, Randy Schoenberg, que lutam para recuperar a obra de Gustav Klimt - Retrato de Adele Bloch-Bauer - roubada da família pelos nazistas durante a segunda guerra mundial.
A dupla de protagonistas é interpretada por Helen Mirren e Ryan Reynolds. Apesar da direção não usar todo seu potencial, Mirren faz um bom trabalho. Já Reynods fica em seu lugar comum interpretando um jovem atrapalhado que ainda não se acertou na vida e Kate Holmes é mera figurante.
Ao contrário de A lista de Schindler e O Pianista, que se aprofundam na ferida do holocausto, A Dama Dourada não tem uma forte carga dramática nem ao menos delicadeza para mergulhar no sentimento dos personagens diante das atrocidades da guerra. Ainda que o filme gire em torno de uma obra de arte, ele também não conta com muitos elementos artísticos que o tornem especial. Curtis apresenta apenar mais um caso de americano de sucesso nos tribunais.
Adele Bloch-Bauer, a mulher vestida de dourado do retrato de Klimt, é a tia de Altmann. Adele morre antes do início do conflito, mas deixa em seu testamento o desejo de que quadro fosse para o Museu Austríaco. Quando os nazistas tomam conta do país, Maria, sendo uma jovem de família rica e influente, consegue fugir com seu marido para América. Já idosa, ela pede a restituição do quadro que se encontra em exposição conforme o desejo de sua tia, mas que não chegou a ser doado legalmente ao museu, já que fora incorporado ao acervo depois de ser roubado de sua casa por oficiais nazistas.
Schoenberg (Reynolds), por sua vez, é um personagem mal desenvolvido e, por mais que tente convencer o espectador de ser o mocinho justiceiro, suas motivações e seus valores são sempre duvidosos. A princípio, o sobrinho só se interessa pelo caso ao ver seu valor estimado da obra. Depois, se dizendo preso aos valores familiares, ele deixa a esposa grávida dar a luz ao filho sozinha, pois tinha de comparecer a uma audiência.
Na tentativa de conseguir a restituição do quadro, Maria Altmann negocia a venda com o curador e empresário de Nova York, Ronald Lauder. Na vida real, Lauder, conhecido por reunir obras da comunidade judaica, já se envolveu em polêmicas quando outro descendente de austríaco alegou que um dos quadros do acervo Lauder fora roubado de sua família e, posteriormente, adquirido pelo curador por um vendedor não legalizado.
O roteiro falho deixa uma desconfiança em relação ao quanto a história verídica foi modificada para que a trama se encaixe no padrão de filmes pipocas em que a dupla se junta na luta por justiça e, para tal, precisa tirar uma obra valiosa do museu austríaco, país de monstros e ladrões, deixando a em um lugar muito mais humanitário: os EUA. Ao se estabelecer de maneira maniqueísta e sem uma estrutura convincente, o longa faz com que o apelo dos protagonistas perca sua força e que sua legitimidade seja questionada.
O direito a restituir os bens roubados na segunda guerra mundial se misturam com o poder americano de se impor como civilizadores e assim, se apropriar dos valores de outros países. É possível que Adele Bloch-Bauer e Gustav Klimt, diante das políticas de guerra e de tantas atrocidades, mudassem de ideia quanto a sua decisão de deixar o quadro em sua terra natal. Mas sendo assim, o que pensariam ele dos EUA?
No fim das contas, políticas a parte, o filme se parece com um episódio mediano de qualquer série de advogados pouco marcante.
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