A ideia de restringir um protagonista de seus recursos sempre teve seu apelo específico. Ver um personagem precisar contorcer conhecimentos e recorrer a estratégias estapafúrdias que geralmente dão certo não apenas tem o costume de deixar o espectador na beira da cadeira como, também, rende aqueles momentos de alívio de tensão tão esperados em thrillers de ação. Em A Hora do Desespero, o diretor Phillip Noyce e o roteirista Chris Sparling trabalham na ideia de deixar Naomi Watts isolada em uma floresta remota enquanto tenta salvar seus filhos de uma emergência misteriosa, usando apenas o seu celular. E enquanto o cenário restrito funciona até certo ponto para a personagem Amy, a tensão principal aqui é o sofrimento da própria atriz, presa em um projeto questionável.
Antes de mais nada, é necessário dizer, sim, que os envolvidos em A Hora do Desespero estão afiados, mas existem problemas fundamentais no projeto, a começar pela ideia de que um protagonista com seu celular estaria restrito de algum recurso. Claro, Amy está distante da escola onde seus filhos estudam e por isso não consegue abraçá-los e retirá-los fisicamente da situação na qual se encontram, mas é difícil imaginar que qualquer coisa diferente teria acontecido se a personagem estivesse mais próxima do local de conflito. A Hora do Desespero parece esquecer que hoje qualquer pessoa resolve qualquer tipo de problema usando, claro, seu smartphone. O único obstáculo realmente aflitivo aqui seria o risco da bateria acabar, uma ameaça que só aparece na reta final do filme.
O problema desta premissa, na realidade, pouco importaria, porque com a dedicação de Watts, que sabe construir uma personagem melancólica, dedicada e em agonia como poucos, e a direção eficiente de Noyce, A Hora do Desespero teria tudo para funcionar bem. Mas seu problema principal é ainda mais básico, e é um que faz com que todas as boas intenções do projeto se esvaziem.
Pouco a pouco, vamos entendendo junto a Amy que o que acontece em sua cidade é um tiroteio escolar onde seus dois filhos estudam. Conversando periodicamente com a polícia e com a ajuda de improváveis aliados que ela consegue através da linha telefônica, Amy percebe que seu filho é um dos suspeitos principais do atentado. A tensão então tenta se basear mais no psicológico do que no físico, mas junto com Amy o filme então tropeça e passa a fazer decisões não só pobres como moralmente questionáveis.
A ideia de que um tiroteio escolar é um assunto frutífero para um thriller de ação já seria o suficiente para levantar algumas sobrancelhas, mas colocar Noah - o filho de Amy - como suspeito por ter perdido seu pai há um ano e sofrer de depressão já segue a linha de erros bizarros cometidos por A Hora do Desespero, que não para por aqui. A solução principal do filme - omitida por motivos de spoiler - é ainda mais problemática, e é preocupante que nenhum dos envolvidos no projeto não tenha parado para considerar exatamente a mensagem que o longa passa. Se o cheiro de má idéia chegou até aqui, não é difícil imaginar que nos solos americanos A Hora do Desespero tenha caído de modo ainda mais indigesto.
Direção: Phillip Noyce
Roteiro: Chris Sparling
Elenco: Naomi Watts