Toda experiência na juventude é amplificada, seja a primeira desilusão, o primeiro beijo, o primeiro amor, tudo é um grande evento para o coração. Laços que são construídos quando ainda não se tem certeza do futuro e expectativas grandiosas são lançadas sobre qualquer relacionamento, mas podem essas conexões serem tão fortes que atravessariam a vida quando a separação não é uma escolha? É neste clima que se forma Ainda Estou Aqui, o novo sucesso da Netflix que vem arrancando lágrimas dos amantes de romances teen da plataforma.
O enredo foca na história de amor entre Tessa (Joey King, A Barraca do Beijo), uma adolescente solitária que utiliza da fotografia para se expressar e Skylar (Kyle Allen), um jovem atleta, sensível e culto, que acabam se esbarrando ao acaso e se apaixonam perdidamente por todo o verão. Mas esses momentos de amor-perfeito não duram muito e o romance chega ao fim com um acidente brutal que acaba matando Sky. Tessa sobrevive, mas enfrenta o luto de maneira conturbada, quando acontecimentos sobrenaturais começam a fazer parte do seu dia a dia e ela tem certeza de que é o seu amado, tentando se comunicar do outro lado.
A história pode ser vista como mais do que apenas um romance sofrido ou uma versão teen de Ghost: Do Outro Lado da Vida, deveria ser interpretada como um caminho para aceitar os seus próprios fantasmas, fazer as pazes com seus traumas e não ignorar a dor e o luto de algo que acabou.
O longa é contado através de duas linhas cronológicas: pré e pós morte de Skylar, desse jeito conseguimos mergulhar na paixão do casal ao mesmo passo que entendemos o luto da personagem principal e as dores que o vazio lhe causa. O diretor Arie Posin escolheu utilizar cores mais quentes e vibrantes quando se é contado sobre o relacionamento dos jovens e cores frias e monocromáticas quando voltamos para o tempo atual (após falecimento de Sky), o que de certo modo funciona e ajuda a distinguir os momentos.
A química entre o casal é muito gostosa e leve de assistir, traz aquela sensação de paixonite juvenil ao mesmo tempo que se acredita em um encontro de almas gêmeas, é meloso, mas orgânico. Ambos apresentam um background problemático com os pais, Sky tenta administrar seus problemas enquanto apoia os sonhos de Tessa, que em contrapartida, devido aos seus traumas, não é uma pessoa fácil de se abrir ou de se expressar. Essa diferença de personalidade entre os dois, vai ficando cada vez mais latente e assim surgem as únicas e pequenas divergências dentro do romance. O trabalho entre a dupla é tão bem-feito, que por muitas vezes, se esquece que Skylar não está mais vivo dentro da narrativa.
O sobrenatural acaba, por muitos momentos, ficando de lado na história, justamente por ser o elemento que o difere de tantos outros romances teens, ele poderia ter sido mais bem explorado, mas só desponta perto do final, de forma bem lúdica. É notável que Skyler deseja contatar Tessa, mas por muito tempo de tela, não se sabe ao certo o porquê, qual a finalidade desse movimento para a trama. Outro aspecto negativo, mas compreensível, são os acontecimentos clichês e poucos críveis na realidade, até a perfeição na construção do personagem masculino é difícil de acreditar, porém, para a proposta de um romance infantojuvenil funciona e prende muito.
Ainda Estou Aqui consegue tocar em pontos maiores do que o luto e a paixão, acaba se expandindo para como trabalhamos as memórias de quem amamos, ou até que ponto podemos nos permitir sofrer para curarmos? Nem todos os minutos são necessários na trama, a história poderia ter sido menor para chegar ao seu propósito, a conclusão de Tessa desperta tantos pontos interessantes que o miolo do longa acaba ficando pobre, mas vale a reflexão, afinal para os adolescentes, o amor realmente morre?
Ano: 2022
País: Estados Unidos
Classificação: 14 anos
Duração: 115 min
Direção: Arie Posin
Roteiro: Marc Klein
Elenco: Kyle Allen, Celeste O'Connor, Joey King, John Ortiz